Enquanto a comunidade de Uvalde, no Texas, prepara-se para velar as
21 vítimas do massacre que chocou os Estados Unidos, novas evidências colocaram dúvida sobre a conduta da polícia no momento do ataque a tiros, levantando a suspeita de que não tenham cumprido protocolos nacionalmente estabelecidos para evitar um maior número de mortes.
Informações reveladas nesta quinta-feira (26) apontam que o
atirador Salvador Ramos passou cerca de uma hora e meia dentro da escola primária, onde disparou contra alunos de 4ª série e duas professoras, enquanto policiais cercaram o local e esperaram pela chegada de equipes especiais.
As autoridades receberam a primeira informação sobre um homem armado indo em direção a Robb Elementary School por volta das 11h30min (9h30min em Brasília). De acordo com a Polícia Estadual, dois policiais no local tentaram impedir que o atirador entrasse na escola, mas teriam sido baleados. O alvo, então, teria se entrincheirado em duas salas de aula, ainda de acordo com o relato oficial, só sendo neutralizado pouco depois das 13h (11h), por uma equipe especializada da Patrulha da Fronteira.
A dúvida que permanece é o que os dois policiais que inicialmente estavam no local do massacre, um segurança armado da escola e dezenas de policiais que chegaram neste espaço de tempo fizeram para que Ramos conseguissem permanecer por tanto tempo dentro do prédio - e o que poderiam ter feito para evitar o número de vítimas.
Há anos, o protocolo padrão para responder a um ataque a tiros em escolas nos EUA é claro: os primeiros policiais armados no local devem ir direto ao atirador e matá-lo ou prendê-lo. De acordo com Kenneth Trump, especialista em segurança escolar, nada deve impedir a polícia de neutralizar o atirador. "Você ignora os feridos, os mortos, passa por cima deles e continua, porque cada segundo conta", disse. "Vá até o atirador".
O protocolo foi estabelecido após o massacre de Columbine, em 1999 - até então, a instrução era chegar ao local, estabelecer um perímetro e esperar a chegada da SWAT. Policiais que não seguiram o protocolo já foram responsabilizados.
Após o tiroteio em Parkland, em 2018, Scot Peterson, o único oficial armado no local, foi acusado de negligência infantil porque não conseguiu entrar no prédio onde o atirador estava.
Um vídeo gravado do lado de fora da escola do Texas na terça-feira, por volta das 11h54min (9h54min) mostra pais angustiados, gritando para que a polícia tentasse entrar no prédio. "Esses policiais estão bem aqui. Mano, há um tiroteio na escola e esses policiais estão dizendo para todo mundo sair, cara, enquanto todo mundo está aqui tentando pegar seus filhos", disse o homem que gravou o vídeo. "Você sabe que existem crianças, certo? São crianças pequenas, não sabem se defender", grita o homem que filma o vídeo na direção do policial.