Na madrugada desta quarta-feira (8), a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) confirmou o primeiro caso de intoxicação por metanol em Porto Alegre. O paciente, atendido no Hospital São Lucas da Pucrs, ingeriu a bebida contaminada em um bar na cidade de São Paulo, no dia 26 de setembro.
Nesse caso, os sintomas - que incluíram febre, dor abdominal e cefaleia - surgiram entre 12 e 24 horas depois do consumo da bebida, segundo informações divulgadas pela Prefeitura de Porto Alegre nesta manhã. O acompanhamento do caso está sendo feito pela Vigilância em Saúde da Capital, que mantém contato com o Centro de Informação Toxicológica (CIT) e com o hospital.
A orientação é que a população prefira o consumo de bebidas sem álcool. E, caso escolha consumi-las, opte por locais de venda confiáveis e exija a nota fiscal do produto, desconfiando de preços abaixo do normal e atentando-se aos lacres e rótulos.
O metanol é um solvente industrial altamente tóxico, que, mesmo quando ingerido em pequenas doses, pode causar consequências graves, incluindo cegueira, lesões no sistema nervoso e até morte. Além desse, há mais dois casos sendo investigados, um em Porto Alegre e outro em Novo Hamburgo.
“Esse caso confirmado não é um caso de bebida comercializada aqui no Rio Grande do Sul. Ele é um caso importado”, afirma o presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes no Rio Grande do Sul (Abrasel/RS), Leonardo Dornelles.
De acordo com a autoridade, que representa o setor de alimentação fora do domicílio no Estado, foi percebida uma “pequena queda” no consumo de drinks em bares gaúchos, contudo, não há dados oficiais. “A percepção maior é que o cliente está mais antenado, mais preocupado. Ele pergunta para o garçom sobre a procedência da bebida”, diz Dornelles.
“Eles ficam muito tranquilos porque eles mostram para o cliente que as bebidas têm procedência, que é tudo correto, que eles fazem a compra das bebidas de um distribuidor legalizado. Então o cliente acaba consumindo, na maior parte das vezes, as bebidas sem maior problema”, destaca.
A comercialização de bebidas entre São Paulo e Rio Grande do Sul também não traz preocupações para o representante, que explica que a maioria dos destilados é importada para o Brasil. Portanto, os riscos de comprar uma garrafa original contaminada são bastante baixos. “Grandes marcas internacionais jamais utilizariam um produto tóxico, como o metanol”, afirma Dornelles.
“A grande questão é a bebida falsificada. Esse é um problema que existe há muitos anos. Não é desta semana, nem deste mês. O que é novidade é que em São Paulo teve uma ou outra indústria clandestina de bebidas falsificadas que acabou utilizando metanol para higienizar garrafas ou misturou junto em algum lote da sua produção”, explica. Isso, contudo, não é uma prática corriqueira nem mesmo para as indústrias clandestinas, devido à alta toxicidade do metanol.
Dornelles ressalta ainda que até o momento, não foi apreendida nenhuma garrafa com metanol em bares ou restaurantes brasileiros. Por enquanto, os lotes adulterados foram identificados apenas em pequenas distribuidoras de bebidas que compram no mercado clandestino para pagar mais barato.
Onda de fiscalizações favorece a confiabilidade no mercado
“Recentemente, passamos por uma grande onda de fiscalização da Vigilância Sanitária nos bares e restaurantes de Porto Alegre. A Vigilância também fiscaliza bebidas. É importante que as pessoas tenham consciência de que a nossa fiscalização é muito boa, ela funciona”, ressalta Dornelles.
A autoridade pontua que, mesmo se algum dono de bar ou restaurante tivesse alguma garrafa sem procedência, a intensificação do monitoramento certamente levaria ao descarte.
“A gente fortalece sempre a questão de trabalhar dentro da formalidade e da legalidade. A fiscalização faz com que os donos de bares e restaurantes atuem dentro dessa regularidade. A gente acredita que ela deve ser feita, porque isso é importante para a segurança alimentar”, completa.
Cenário exige cuidado redobrado
Desde o início do mês de outubro, a Abrasel - em parceria com a Associação Brasileira de Bebidas Destiladas (ABBD) e a Associação Brasileira de Bebidas (Abrabe) - tem ofertado uma série de treinamentos online para capacitar fornecedores e consumidores a identificar bebidas falsificadas. As capacitações são gratuitas e acontecem diariamente.
Uma das principais dicas do curso envolve o descarte das garrafas de destilados. "Entre eu colocar no lixo do meu condomínio, e essa garrafa, de fato, chegar na recicladora, várias pessoas têm acesso a ela. E essa garrafa tem um valor elevado no mercado paralelo, porque ela é diferenciada. Muitas vezes com logotipo em relevo. Então essas garrafas são muito difíceis de serem copiadas", explica Dornelles.
Para interromper o ciclo de falsificação, a orientação da Abrasel, portanto, é inutilizar as garrafas antes de descartá-las. Quebrá-las total ou parcialmente, separá-las de suas respectivas tampas ou até danificar o rótulo são algumas das possibilidades.
Além disso, os consumidores devem se atentar aos lacres das bebidas antes de consumi-las. Já os donos de bares e restaurantes, por sua vez, devem verificar se todas as suas compras são de fornecedores certificados.
Na tarde desta quinta-feira, o Jornal do Comércio entrou em contato com a Secretaria Municipal de Saúde e com a Secretaria Estadual de Saúde do Rio Grande do Sul para mais orientações. No entanto, até o fechamento desta matéria, não obteve retorno.