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Pensar a Cidade

- Publicada em 28 de Setembro de 2021 às 19:39

Construção de torres ao lado do Beira-Rio depende de mudança na lei

Arranha-céus ao lado do estádio dependem de mudança na legislação

Arranha-céus ao lado do estádio dependem de mudança na legislação


HypeStudio/Divulgação/jc
O Sport Club Internacional quer construir duas torres - uma com 130 metros de altura e outra com 80 metros - num terreno de 2,5 hectares onde hoje fica um estacionamento ao ar livre, próximo ao portão 7 do Estádio Beira-Rio. Os prédios teriam uso comercial e também residencial.
O Sport Club Internacional quer construir duas torres - uma com 130 metros de altura e outra com 80 metros - num terreno de 2,5 hectares onde hoje fica um estacionamento ao ar livre, próximo ao portão 7 do Estádio Beira-Rio. Os prédios teriam uso comercial e também residencial.
O projeto imobiliário não é novidade - há anos o clube manifesta a intenção de dar outro uso para aquele terreno. Entre o Natal e o Ano Novo de 2008, a Câmara Municipal autorizou o Inter a construir três torres no terreno - um hotel, espaço para treinamento e centro de medicina esportiva -, desde que respeitando a altura de 52 metros definida no Plano Diretor. A justificativa para a mudança da lei e a concessão de índices construtivos era garantir recursos para que o clube reformasse o Beira-Rio, estádio da Copa do Mundo de 2014.
Ao fim, a proposta de construir edifícios não avançou. Agora, volta mais ousada, com arranha-céu e uso residencial.
Com prédios mais altos, se libera mais espaço no solo, justifica Paulo Corazza, vice-presidente de Negócios Estratégicos do Internacional. É o que garantirá que parte do terreno receba uma praça, aberta para acesso do público em geral. "Geraria integração maior com a área, que hoje não tem, só em dias de jogo", sustenta.
Além disso, destinar parte da construção para uso residencial é apontado por dirigentes do clube como comercialmente mais atrativo e financeiramente valorizado, ainda mais tendo o Guaíba como pano de fundo. Mas falta consenso dentro do clube, já que existem opiniões divergentes sobre o uso que se deve dar ao terreno.
"O clube não tem autorização do Conselho Deliberativo para pedir liberação para vender (parte do terreno) e construir duas torres", aponta Ivandro Morbach, conselheiro e integrante do movimento O Povo do Clube. Ele vai além e sustenta que uma decisão desse porte - se desfazer de uma parte do patrimônio - não pode ser tomada sem a participação dos torcedores. "A torcida, como dona, precisa discutir", continua.
Uma reunião pública de diferentes grupos de torcedores será realizada amanhã, às 19h, em formato híbrido: virtual e presencial na sede do Simpa, na Cidade Baixa. Morbach explica que serão dois focos: alertar a população e dialogar com a Câmara - inclusive todos os vereadores foram convidados a participar.
Aliás, o debate no Legislativo antecipa a própria análise urbanística da construção das torres. Para levar adiante a proposta, o Internacional depende da alteração de duas leis municipais. É disso que trata o Projeto de Lei 04/2019, enviado ainda na gestão passada e recuperado pelo prefeito Sebastião Melo (MDB).
Uma das leis na mira de mudança é de 1956, quando foi doada ao clube uma área do Guaíba, ainda por ser aterrada, onde hoje estão o Beira-Rio, o Gigantinho e outros espaços do Internacional. Originalmente se autorizou somente a construção do estádio, e uma alteração de 1988 permitiu erguer comércio que servisse de apoio financeiro para o clube na sua finalidade, que é a prática esportiva. O uso como habitação não era citado. A outra lei a ser alterada é de 2004, para tirar o clube da área de interesse institucional do Plano Diretor. Junto a isso, se pede o desmembramento dos 2,5 hectares da matrícula do terreno do clube, que ao todo tem 15 hectares e é unificada.
Fora da área considerada como institucional e com uma matrícula própria, o futuro empreendimento poderá ser vendido ou alienado.
LUIZA PRADO/JC
Inter debate construção de arranha-céus em área ao lado do estádio. LUIZA PRADO/DIVULGAÇÃO/JC

Projeto está em análise no Conselho do Plano Diretor e Câmara Municipal

Além do debate na Câmara Municipal, está em andamento a avaliação do projeto arquitetônico - com flexibilização da altura - e urbanístico, pelo impacto que uma construção de grande porte causa.
Simara Mobeli, moradora da região, questiona a ausência de estudo de sombreamento da vizinhança. A apresentação pública feita pelo clube indica essa incidência em relação ao Asilo Padre Cacique, mas o prédio, que terá altura equivalente ao morro ao lado, tem potencial de causar obstrução solar em outras partes dos bairros Santa Teresa e Menino Deus.
Paulo Corazza, vice-presidente de Negócios Estratégicos do Inter, garante que existe uma análise tratando não só do sombreamento, mas também de outros impactos - maior fluxo de veículos e de pessoas circulando a pé. Trata-se do Estudo de Viabilidade Urbanística (EVU), já aprovado pela Comissão de Análise Urbanística e Gerenciamento (Cauge) da prefeitura.
Mas está pendente a aprovação no Conselho do Plano Diretor. O representante da Região de Planejamento 1, Felisberto Seabra Luisi, sustentou que o EVU não poderia avançar, pois trata do uso residencial, o que a legislação não permite. Ou seja, a avaliação depende da aprovação na Câmara.
Para a advogada e ativista urbana Jacqueline Custódio, não há justificativa para vender, com outra finalidade, um patrimônio doado pelo município para uso esportivo. É o mesmo entendimento da torcida Força Feminina Colorada, torcida organizada formada por mulheres, que não concorda com a construção que "não dialoga com a identidade do Clube do Povo" e que não está ligada ao desporto.