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Publicada em 17 de Agosto de 2025 às 22:25

Prefeito de Garibaldi considera que o turismo pode crescer ainda mais na Serra

Sérgio Chesini, prefeito de Garibaldi, concedeu entrevista exclusiva ao Jornal do Comércio

Sérgio Chesini, prefeito de Garibaldi, concedeu entrevista exclusiva ao Jornal do Comércio

TÂNIA MEINERZ/JC
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Ana Stobbe
Ana Stobbe Repórter
Localizada na Região da Serra, a cidade de Garibaldi reúne dois grandes atrativos turísticos: além dos seus 150 anos de história, celebrados em 2025 e observados na charmosa arquitetura italiana observada no local, é a Capital Nacional do Espumante, oferecendo também o turismo de experiência. Esse potencial também foi observado durante o painel do Mapa Econômico do RS realizado em Garibaldi no dia 7 de agosto.
Localizada na Região da Serra, a cidade de Garibaldi reúne dois grandes atrativos turísticos: além dos seus 150 anos de história, celebrados em 2025 e observados na charmosa arquitetura italiana observada no local, é a Capital Nacional do Espumante, oferecendo também o turismo de experiência. Esse potencial também foi observado durante o painel do Mapa Econômico do RS realizado em Garibaldi no dia 7 de agosto.
Com um vasto calendário de eventos atrelado a essas vocações, o município tem entrado cada vez mais na rota dos visitantes do Vale dos Vinhedos e, conforme o prefeito Sérgio Chesini (PP), esse público pode crescer ainda mais. É por isso que o turismo entrou como uma prioridade da gestão municipal.
Assim, a prefeitura tem apoiado empresas na oferta de infraestrutura para receber o público que chega à cidade e que, na sua visão, pode crescer ainda mais. Além da ampliação da rede hoteleira e da atração de restaurantes, o progressista busca a formulação de um edital de licitação para uma parceria público-privada que permita que o aeroporto municipal receba voos comerciais.
Nesta entrevista ao Jornal do Comércio, Chesini comenta sobre as iniciativas turísticas de Garibaldi, que incluem também um projeto de reativação da primeira pista artificial de esqui do Brasil. O prefeito também avalia as potencialidades e os desafios do desenvolvimento econômico municipal, perpassando temas como oferta de mão de obra, atração de investimentos e o tarifaço do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, aos produtos brasileiros.
Jornal do Comércio — Esse é o seu segundo mandato à frente da prefeitura de Garibaldi. Quais foram as principais oportunidades de desenvolvimento econômico que puderam ser percebidas nesse período?
Sérgio Chesini — Garibaldi é uma cidade superavitária, porque tem bastante empreendedorismo na indústria, no comércio e nos serviços. Principalmente, na cadeia vinícola, somos a capital nacional do espumante, temos o Peterlongo que é o primeiro champanhe elaborado no Brasil pelo Armando Peterlongo que vamos homenagear com um busto neste ano. E essa forma de acolher de Garibaldi, com a enogastronomia, os espumantes e a hospitalidade tem atraído muitos turistas. E temos feito investimentos na rede hoteleira para isso.
JC — O que já foi feito nesse sentido?
Chesini — Quando chegamos, a rede hoteleira tinha 402 leitos habilitados. Agora, estamos com 1.202 e o objetivo é chegarmos a 5 mil.
JC — Em março deste ano, durante visita ao Jornal do Comércio, o senhor comentou que havia 21 projetos de alojamentos em tramitação. Quantos estão tramitando hoje?
Chesini — Temos 28 projetos andando. Desde duas cabanas até o maior hotel, com 396 apartamentos. Já liberamos mais um empreendimento ali próximo ao esqui (a antiga Estação de Esqui Presidente Médici) e está para chegar o projeto de mais um hotel próximo ao Boulevard Convention (complexo hoteleiro na Avenida Garibaldina).
JC — O turismo é uma prioridade de governo?
Chesini — Sim, porque elegemos os eventos de rua como carro-chefe do nosso turismo. Não precisa pagar estacionamento e nem ingresso. É para todos os níveis e todos os gostos por ser na rua. Tem comidas desde cachorro-quente até pratos sofisticados com bacalhau. Em 7 de novembro, vamos ter a Festa Vintage, que reúne mais de 20 mil pessoas na rua, ouvindo uma boa música na sacada dos nossos prédios históricos, que são um cartão postal único e que torna Garibaldi bucólica. E, é claro, tem o espumante e o nosso champanhe (a Peterlongo é a única empresa brasileira que pode utilizar a nomenclatura, pela produção contínua anteceder o registro da denominação de origem controlada). O Festival do Grostoli, em abril, foi monumental. Foram mais de 80 mil pessoas e 800 mil grostolis comercializados.
JC — Acredita que é possível aumentar o protagonismo de Garibaldi no turismo da Serra?
Chesini — Garibaldi tem uma localização privilegiada, num cruzamento da BR-470 com a RS-453, que ligam de Uruguaiana a Torres e do Oiapoque ao Chuí, porque elas se juntam, mais ao Norte, com a BR-116, próximo a Vacaria e Lagoa Vermelha. Além disso, somos vizinhos de Bento Gonçalves, Caxias do Sul e Porto Alegre, que nos deixam em um triângulo de progresso e desenvolvimento muito grande. Somos uma cidade pequena, e temos diversos empreendimentos. Então, somos um polo cada vez mais em crescimento.
JC — A construção do aeroporto Vila Oliva em Caxias do Sul deve auxiliar nisso?
Chesini — Não tenho dúvida nenhuma que é um projeto que precisa sair do papel, principalmente como alternativa ao Salgado Filho (em Porto Alegre) para atender às regiões Norte e da Serra. Mas temos também o Aeroporto de Garibaldi, com 1.200 metros de pista asfaltada que se revelou com uma utilidade vital durante as enchentes para salvar vidas. E, com o incremento de turistas em Garibaldi, estamos licitando a pista em uma PPP (parceria público-privada) que já está tendo o edital de licitação elaborado. A finalidade será aumentar a hangaragem, ampliar a pista e dar condições de que pousem aqui aviões de turismo.
JC — Garibaldi atraía turistas também para a primeira pista artificial de esqui do Brasil, que funcionou de 1970 até 2002. Recentemente, a prefeitura fez uma pista de esqui itinerante. Há pretensão de manter ou ampliar o projeto?
Chesini — Foi lamentável o fim da pista de esqui da cidade que foi o berço brasileiro desse esporte. Ela foi derrubada pela ganância imobiliária e hoje é um loteamento imobiliário classe A. Falo com certa dor e nostalgia porque fui esquiador na década de 70. E uma das nossas missões é trazer a pista de volta e estamos com um projeto para isso.
JC — Garibaldi também está atraindo empresas como a Havan para o município. Qual é a expectativa do município com isso?
Chesini — A Havan escolheu Garibaldi por três motivos, a localização, a simpatia da cidade e o fato de ser o eixo econômico desta região. E isso vai nos ajudar com a regulamentação da Reforma Tributária. Hoje, as empresas quando vendem recolhem ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços), que é redistribuído aos municípios. Com a nova legislação, será apenas o IVA (Imposto sobre Valor Agregado), que é o imposto de consumo. Então, a Havan tem uma importância fundamental, porque ela fatura no consumo, e isso gera diretamente IVA para o nosso município. Pela projeção nacional, também devem vir atrás outros investimentos.
JC — Como avalia que estão os investimentos privados no município?
Chesini — Garibaldi consegue ter uma indústria bastante diversificada, tem metalúrgica, fabricação de móveis, transformação agrícola e uma das maiores empresas de rações para pets do Brasil, que exporta para mais de 50 países. Temos também o setor vitivinícola. Recebemos italianos recentemente que estão buscando indústrias aqui em Garibaldi para implementar uma tecnologia da Itália para retirar o álcool dos vinhos após serem elaborados. Nessa área da indústria, toda hora tem investimentos. Tem ainda o comércio e a nossa prioridade, que são os hotéis e os serviços. Temos uma vasta área para captar tudo isso e estamos dedicando toda a nossa atenção com apoio de todos os tipos para que os projetos se concretizem.
JC — E no setor público, quais são as prioridades de investimento?
Chesini — Elegemos um compromisso de não deixar nenhuma criança sem creche ou fora da escola. Isso é um compromisso moral meu. Hoje, tenho orgulho de dizer que a rede municipal está muito boa. Fizemos uma parceria fantástica com o Sesi-Senai (Serviço Social da Indústria e Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial) para o ensino profissionalizante. E outra prioridade é a saúde. Estamos comprando procedimentos de média e alta complexidade que o Estado não atende e temos mais uma UBS agora. A lei obriga a investir, na educação, 25%, e estamos investindo entre 30% e 31%. E, na saúde, precisaríamos investir 15% e estamos investindo entre 22% e 23%.
JC — Como estão os investimentos para cumprir com o Marco Legal do Saneamento?
Chesini — Temos debatido muito isso no consórcio dos municípios da região. É algo fundamental. Garibaldi é uma cidade de 150 anos, tem canos de grés (tipo de cerâmica) e de amianto, que quebram facilmente. Nos loteamentos novos, claro que já são tubulações modernas, mas temos esse problema nas partes mais antigas da cidade como o nosso Centro. Estabelecemos uma parceria com a Corsan que ainda está no início e temos tido um bom diálogo. Todos os novos loteamentos dos últimos 15 anos já têm estações de tratamento de esgoto e os sistemas de saneamento e esgotamento prontos, tornando mais fácil para a Corsan assumir. Também planejamos perfurar mais poços artesianos. Mas acredito que com o trabalho que a Corsan tem feito com o apoio da prefeitura vai ser possível cumprir com o Marco. Estou confiante.
JC — Esses 150 anos estão sendo comemorados em 2025. Como a cidade está se preparando?
Chesini — São várias comemorações. Na Fenachamp (Festa do Espumante Brasileiro) vamos fazer o maior sabrage coletivo do mundo, com 500 pessoas e vamos lançar um espumante alusivo aos 150 anos. Também estamos estabelecendo pactos com as cidades italianas de Folina e Conegliano. Outras iniciativas são um painel que contará a história da imigração italiana no nosso museu e ganhamos a Rosa de Anita, espécie de flor que homenageia Anita Garibaldi. Terminando a Fenachamp, vamos ter a Semana do Município e virão para cá o Francesco Garibaldi, que é tataraneto do Giuseppe Garibaldi, e o capelão de Roma, que celebrará uma missa em italiano na nossa igreja.
JC — A safra de uvas deste ano foi positiva. Como isso impactou na produção dos espumantes?
Chesini — A expectativa está muito boa. Terminamos a avaliação dos espumantes e foi uma safra extraordinária, acima da média das outras. Diria que foi abençoada por Deus. Os espumantes estão muito bons. Alguns ainda vão maturar em barris de madeira e outros de maior frescor estarão sendo lançados na Fenachamp.
JC — E quais são os entraves para o desenvolvimento econômico de Garibaldi no momento?
Chesini — Do ponto de vista da prefeitura, tem o Fundo de Previdência Própria, instituído na década de 80 em cima de bases irreais e que hoje está com um déficit muito grande, de mais de R$ 300 milhões. É algo assustador. A legislação precisa ser corrigida sob pena de chegar um momento em que não se possa fazer mais nada em Garibaldi a não ser pagar a folha de pagamento. Estamos estudando soluções para isso. Fora isso tem a questão da mobilidade urbana. Fizemos um estudo junto com a UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) para definir as prioridades e projetarmos um futuro com qualidade.
JC — Uma questão bastante levantada pelo empresariado é a falta de mão de obra…
Chesini — Não acho que falta mão de obra e, sim, habitação para a mão de obra. E essa é minha visão tanto quanto prefeito quanto como empresário. Por isso, estamos com três frentes nesse sentido. Trazendo habitações boas num valor moderado, a mão de obra vem.
JC — Tem algum projeto de habitação em andamento?
Chesini — Estamos trabalhando em três frentes. Uma, é de 25 casas faixa 1 com o governo federal, que vamos dar para as pessoas mais necessitadas. Outra, também do faixa 1, é um pedido do governo do Estado para mais 20 casas. E estamos iniciando um projeto com a Caixa Econômica Federal em que a prefeitura doa o terreno, o banco financia a casa e a pessoa tem 30 anos para pagar a Caixa.
JC — Recentemente, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, implementou tarifas de 50% a produtos brasileiros exportados ao país. Como enxerga o impacto disso na produção industrial da Serra?
Chesini — O tarifaço atinge a empresa exportadora e o município. Temos aqui, por exemplo, a Tramontina que exporta muito para os Estados Unidos. E, se os produtos dessas empresas não são vendidos, não tem valor agregado e nem retorno de ICMS. Os Estados Unidos são a maior economia do mundo, goste você ou não. É preciso separar o individual do coletivo, não podemos brigar com eles. Já vamos ser duramente penalizados e, se o governo federal implementar tarifas recíprocas, vai vir pior.

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