Um cortejo festivo com a Banda da Saldanha e apresentações de artistas circenses encerrou neste domingo (17) os eventos alusivos ao Dia do Patrimônio, organizados pela Secretaria Estadual da Cultura (Sedac) e que foram realizados em 120 cidades gaúchas ao longo da semana. O percurso iniciou às 17h pelo Teatro de Arena, nas escadarias do Viaduto Otávio Rocha, e encerrará na Casa de Cultura Mário Quintana, na Rua dos Andradas.
Embora sem estimativa de público divulgada, a diretora do Departamento de Artes e Economia Criativa da pasta, Germana Konrath, considera que as celebrações foram bem-sucedidas. “Tivemos uma distribuição farta de passaportes e pulseirinhas. Os eventos estavam lotados, com muita atividade para todo mundo”, avalia.
Em Porto Alegre, os eventos iniciaram na quinta-feira (14), com a abertura do Museu de Arte Contemporânea, na região do Quarto Distrito. “É uma vitória depois de 33 anos de busca por uma sede própria”, celebrou Germana.
Entretanto, foi no final de semana que as agendas se intensificaram, incluindo uma apresentação na Casa de Cultura que lotou suas sacadas com um coro de 150 cantores para uma apresentação memorável. “Estava lindo, porque é a prova de que dá para ter cultura gratuita e ocupar a cidade, lembrando que ela pode ser maravilhosa. Tinham muitas famílias e precisamos usar o território para as pessoas”, destacou a publicitária Raquel Matos, de 25 anos, que prestigiou tanto o espetáculo quanto o cortejo.
Observação semelhante foi compartilhada por Germana: “É importante porque é quase como se fizesse um índice para as pessoas verem ‘olha, tem isso aqui na cidade’. Muitas vezes, na caminhada você não vai conseguir se aprofundar (nos espaços patrimoniais), mas vai chamar as pessoas para se sentirem convidadas a ir nesses lugares e não se sentirem afastadas daquilo que tem em um museu ou em um local cultural. É trazer isso para a rua e depois levar o público para conhecer melhor, em um movimento de acolhimento”, destaca.
Uma das instituições participantes das atividades foi o Arquivo Público do Estado do Rio Grande do Sul (Apers), que pôde observar na prática os benefícios da iniciativa. “Como não estamos vinculados à Sedac e, sim, à Subsecretaria de Patrimônio do Estado, muitas vezes é um espaço mais desconhecido pela comunidade gaúcha, então, para nós, é uma oportunidade de levar o arquivo até essas pessoas, falar dos acervos que estão sob nossa custódia, os serviços que oferecemos e as oportunidades de pesquisa”, destaca a diretora do Apers Carla Segatto.
De acordo com ela, cerca de uma centena de pessoas acompanhou a atividade realizada pela instituição no sábado (16), um percurso histórico pela Praça da Matriz em parceria com o Museu de História Júlio de Castilhos. Outros grupos de pessoas chegaram no domingo para conhecer os jardins e a arquitetura da instituição.
Embora o Apers realize mediações, principalmente para escolas, por um programa de educação patrimonial, Carla considera que o Dia do Patrimônio é capaz de ampliar o público. “As pessoas que chegam pelo evento são mais conectadas com a questão do patrimônio, da cidade e da cultura. E o nosso objetivo é que o arquivo seja visto como um espaço de cultura do Estado e da cidade”, acrescenta.
Com esse enfoque, a instituição participará da Noite dos Museus, realizada anualmente pela Prefeitura de Porto Alegre e que, em 2025, acontecerá no dia 29 de novembro. Frequentador de ambos os eventos, o estudante de Ciências Sociais Pierre Tazzo, de 25 anos, percebe semelhanças entre eles. “É essencial conseguirmos refletir sobre o patrimônio material e imaterial a partir de processos como esses em que acontece a interação das pessoas com a cultura. E esses eventos colaboram muito para isso”, pontua.
Entretanto, ele acredita que é possível ampliar as ações de contato entre a população e a cultura, especialmente nas ruas da cidade. “Nos últimos anos aconteceram polêmicas em que a comunidade foi afastada das ruas. E o governo poderia avançar mais na ocupação dos espaços públicos”, acrescenta.