Há 15 anos, a ONG Sol Maior aposta na arte como ferramenta de transformação social de crianças e adolescentes em Porto Alegre. O projeto oferece oficinas gratuitas de música e dança para jovens em situação de vulnerabilidade social. Uma das exigências da instituição é que os alunos estejam matriculados no ensino público regular e, desde o início das atividades, mais de 4.000 pessoas receberam assistência diretamente da organização, e indiretamente mais de 15 mil.
Sempre envolvido com projetos sociais, César Franarin teve a oportunidade de criar o seu dentro do Theatro São Pedro (TSP) junto a Maria Teresa Campos. Utilizando o espaço do Multipalco do TSP, a ONG oferece oferece oficinas de violão, cavaquinho, bandolim, teclado, flauta, percussão, bateria, dança e canto coral. Todas as aulas funcionam no período inverso da escola. Além disso, os alunos recebem alimentação, cartão assistencial de passagens, uniforme, material pedagógico e participam de atividades culturais e de entretenimento proporcionadas pela Sol Maior.
O projeto também conta com uma sede na Associação das Creches Beneficentes do RS (Acbergs), no bairro Humaitá, em Porto Alegre. Somando tudo, atualmente a Sol Maior tem matriculados 450 crianças e adolescentes. "O resultado é superior ao que nós imaginávamos. Sabe quando tu trabalhas, tu diz assim: 'bom, se eu conseguir ajudar uma criança ou duas ou três, eu já vou ficar feliz', mas a coisa ficou no num patamar muito superior", expressa Franarin, presidente da ONG.
Em razão da pandemia, a instituição teve que paralisar suas aulas presenciais e com isso muitas crianças ficaram distantes da atividade. Dessa maneira, as aulas passaram a ser online. No entanto, muitos alunos não possuíam equipamento adequado ou internet para acompanhar, junto a isso, a fome começou a afetar suas famílias. Assim, o projeto teve que mudar sua forma de atuação. Eles passaram a visitar as comunidades e arrecadaram cerca de 28 toneladas de alimentos foram entregues, além de vestuários, cobertores, gás e equipamentos domésticos. "Numa situação de emergência, a gente se obriga a fazer aquilo que é necessário", sentencia Franarin.
Apesar desse trabalho feito durante esse período crítico, a caridade não é o principal princípio do Sol Maior, mas, sim, altruísmo: "Altruísmo não é apagar incêndio, é preparar a pessoa pra atravessar situações difíceis. Então a gente prepara essas crianças para se transformarem em cidadãos", revela Franarin. O que a ONG busca é um trabalho a longo prazo, no qual todas as atividades empenham-se em transmitir novos valores de responsabilidade, de respeito à família, longe das drogas e violência.
Agora com a retomada das aulas presenciais, a Sol Maior também voltou com os espetáculos. Antes, ocorriam regularmente em hospitais, escolas, casas de idosos e, é claro, no Theatro São Pedro. Até o ano de 2019, a média mensal de frequência dos alunos era 95%, em 2020 o atendimento tomou outra forma. Ao retornar em maio de 2021 de forma presencial, foram realizados mais de 3000 atendimentos. Os alunos foram divididos em grupos respeitando os protocolos sanitários.
Instituição dá oportunidade de jovens ingressarem no mercado de trabalho
A ONG Sol Maior compartilhava uma visão de que as crianças do projeto precisavam ter excelência na música, dança e canto, e ganharam vários prêmios por isso. No entanto, a realidade dos alunos da instituição é mais dura, e para eles é muito mais importante ter um trabalho do que serem exímios músicos. Nesse sentido, a instituição criou o Projeto Vida, no qual prepara os jovens do projeto em fase emancipatória, para ingressarem no mercado de trabalho, através de oficinas de qualificação e orientação profissional, identificando suas habilidades e interesses. Após esta etapa, a Sol Maior os encaminha ao mercado de trabalho por meio de parcerias.
"Alguns ficaram como professores, fomos formando os monitores e os monitores viraram educadores. E hoje nós temos a maior parte da equipe de educadores formados lá dentro", conta César Franarin, presidente da Sol Maior. O Projeto Vida, criado em 2017, tem orgulho de seus resultados, pois 95% dos alunos egressos da instituição já estão trabalhando.
No período da pandemia, a Sol Maior conseguiu inserir mais de 35 alunos no mercado de trabalho. Esse número corresponde a mais de 75% dos jovens que fazem parte da ONG atendidos no Multipalco do Theatro São Pedro.
Vale ressaltar que a instituição segue incentivando a jornada acadêmica e comemora quando vê os jovens ingressando nas faculdades e universidades. Atualmente são 20 jovens. A Sol Maior já conseguiu mais de 15 bolsas de estudo na rede privada de ensino.
A participação das mães dos alunos é um capítulo à parte dentro da ONG. Além de todo o acompanhamento, o envolvimento foi tão sério que elas criaram um grupo de dança chamado "As Mamitas". Com ajuda do projeto, o grupo prepara coreografias, figurinos e se apresentam nos palcos.
Um dos momentos mais emocionantes da Sol Maior são as apresentações de fim de ano. Em 2021, eles apresentaram o espetáculo "Janelas", que relembra o tempo que as crianças ficaram em casa durante a pandemia, e através da janela, olhavam a vida passar. "Pessoas que jamais foram a um teatro, chegam lá, se arrumam todos e vão assistir às suas crianças no palco. É uma choradeira, é emoção pura, né? Isso é uma das coisas mais lindas que tem", expressa Franarin.