O professor e pesquisador Juliano Smanioto Barin, da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), é agraciado com o prêmio O Futuro da Terra na categoria Inovação e Tecnologia Rural. A premiação, promovida pelo Jornal do Comércio em parceria com a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul (Fapergs), reconhece anualmente, durante a Expointer, em Esteio, iniciativas que reconhecem o trabalho de cientistas, pesquisadores, produtores rurais e empresas que, através de práticas inovadoras e sustentáveis, contribuem para o desenvolvimento do agronegócio, a inovação no campo e a preservação do meio ambiente.
Barin se destaca por sua pesquisa voltada à área de AgFood Tech, um segmento que integra agricultura, alimentação e inovação tecnológica. Com o seu trabalho, integra a universidade, startups e o mercado em projetos que geram impacto direto no agronegócio.
“Eu trabalho basicamente com dois focos: um deles na atividade pós-colheita, ou seja, a pesquisa é direcionada ao processamento de alimentos, bem como com o desenvolvimento de equipamentos para atividades laboratoriais, destinados ao controle de qualidade de produção”, cita.
O pesquisador exemplifica que tais maquinários são constituídos por câmeras e sensores que fazem a análise química e microbiológica. “Isso permite a portabilidade da tecnologia, ou seja, nós conseguimos fazer algumas destas análises em campo”, explica. Ele diz que as simplificações permitem que essas tecnologias sejam difundidas fora do ambiente laboratorial. “Então, por exemplo, o uso de imagens e o desenvolvimento de sensores permitem fazer este trabalho”, destaca.
Barin lembra que o primeiro projeto de tecnologia foi realizado quando ele ainda era aluno de mestrado da UFSM. Barin cita que foi um trabalho realizado junto ao Programa de Pós-Graduação em Química (PPGQ). “Foi um equipamento para controle de qualidade de alimentos; era especificamente um forno de micro-ondas destinado ao preparo de amostras para análises químicas”, diz. O pesquisador informa que esse equipamento (Microwave-Induced Combustion Device) foi patenteado na Alemanha e uma empresa austríaca é quem comercializa esse produto para mais de 30 países.
O professor informa também que no Programa de Pós-graduação em Ciência e Tecnologia de Alimentos (PPGCTA) foi desenvolvido um equipamento analisador microbiológico rápido, com respostas obtidas em poucas horas. Ele explica que o problema estava no fato de esta análise microbiológica ser um processo demorado para se determinar, por exemplo, a existência de contaminação no leite, na carne ou em grãos.
“Nós desenvolvemos uma parceria com o Programa de Pós-graduação em Engenharia Elétrica, onde os alunos desenvolvedores da tecnologia criaram uma startup, a Auftek Tecnologia. E isto muda completamente o setor produtivo por gerar informações de maneira rápida”, destaca. O pesquisador comenta que esta tecnologia vem sendo comercializada e gerando royalties para a UFSM.
O pesquisador também explica que foram desenvolvidos refrigerantes à base de gengibre e hibisco para a Cervejaria Zagaia, localizada no município de Itaara, para ajudar a expandir o seu portfólio e que hoje estão sendo comercializados. “Desenvolvemos esses refrigerantes saudáveis, com foco na redução de açúcar ou, até mesmo, com a remoção dele, bem como a substituição por extratos naturais e com a criação de sabores que levam a sensações mais agradáveis ao paladar”, lembra.
Na UFSM, Barin lidera o FoodTech FabLab, laboratório de prototipagem e validação tecnológica voltado à aceleração de soluções para o setor agroindustrial. O espaço contará com equipamentos como impressoras 3D, secadores e extrusoras para produtos à base de plantas. “A ideia é oferecer acesso a essas tecnologias, permitindo que empresas e universidades testem equipamentos e novos processos”, explica o pesquisador.
Entre as iniciativas, destaca-se a linha de pesquisa em parceria do PPGCTA com o PPGQ, que aproveita resíduos do restaurante universitário, responsável por servir cerca de 10 mil refeições diárias. Cascas de frutas, legumes e sementes, que antes seriam descartadas, agora passam por processos físicos — como secagem em micro-ondas — para se transformarem em ingredientes com valor nutricional e funcional. “Já utilizamos cascas de laranja e beterraba para aromatizar e pigmentar chocolates, substituindo corantes artificiais e agregando fibras, vitaminas e compostos bioativos”, relata.
O pesquisador também atua na interface entre academia, regulação e mercado, participando do Grupo Técnico Foodtech do Ministério da Agricultura e do Comitê de Inovação do Food Tech Hub Latam. Além disso, tem contribuído com a Foodtech Alliance, uma iniciativa para potencializar a inovação em foodtech no Estado. Essa atuação fortalece a integração entre pesquisa científica, desenvolvimento regulatório e aplicação prática no setor rural.
Em 2025, foi listado entre os 30 líderes mais influentes e transformadores do ecossistema de AgFood Tech da América Latina pelo maior Hub do setor (Foodtech Hub Latam), e recebeu da UFSM o prêmio “Destaque da Inovação no Mercado” por sua contribuição à transferência de tecnologias para o setor rural e agroindustrial.
O docente também é responsável pela formação de novos pesquisadores. Ele orienta alunos de iniciação científica, mestrado e doutorado, incentivando-os a desenvolver trabalhos com foco na inovação prática. Muitos desses projetos se desdobram em iniciativas aplicadas, com participação em feiras tecnológicas, incubadoras e editais de fomento à pesquisa. O vínculo com o ambiente acadêmico e empreendedor contribui para criar uma cultura de inovação que perpassa todas as etapas da formação universitária.