Pensando em auxiliar a comunicação dos pacientes com Covid-19 que fazem uso de ventilação mecânica para respirar ou têm a fala limitada em função de procedimentos decorrentes da doença, um grupo de pós-graduação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs) desenvolveu uma prancha de comunicação alterativa que tem ajudado os internos a expressarem suas necessidades e melhorarem a qualidade de vida durante o processo de recuperação.
Desenvolvido por um grupo multidisciplinar formado por arquiteto, terapeuta ocupacional, fisoterapeuta, fonoaudióloga e enfermeira, e coordenado pelo professor do Departamento de Design e Expressão Gráfica da Universidade, Eduardo Cardoso, o projeto já confeccionou e distribuiu, desde abril, mais de 1,4 mil kits com as pranchas a hospitais gaúchos- 450 para instituições de Porto Alegre e mais de mil para hospitais do interior do Estado. Instituições de Minas Gerais e do Espírito Santo também manifestaram interesse pela pranchas e já receberam kits.
As placas utilizam letras e símbolos gráficos existentes para a comunicação alternativa, mas que foram redesenhados pelos participantes do projeto, com o intuito de reproduzir os principais sentimentos e ações dos pacientes. Para isso, foram ouvidos médicos, enfermeiros e equipes ligadas à área de cuidados paliativos dos hospitais, que ajudaram na identificação das principais necessidades a serem expressadas. O material é mostrado aos pacientes, que apontam os símbolos ou letras no painel e conseguem construir pequenas frases ou indicar o que desejam, como pedir um copo de água, um cobertor ou solicitar que mude a altura de um travesseiro. "Pesquisamos vocabulário específico para a elaboração das placas, com a ajuda de profissionais da área da saúde, e temos tido um retorno excelente dos pacientes e seus familiares, que nos mandam mensagens de agradecimento e contando de suas experiências", comenta o professor.
O material é impresso na gráfica da Ufrgs e plastificado voluntariamente pelos participantes do projeto, que cuidam pessoalmente dos envios. A iniciativa conta com recursos da Ufrgs, através de edital específico para ações de combate à pandemia, e do Ministério da Educação, e recebeu cerca de R$ 15 mil para efetivar a impressão, plastificação e distribuição das placas. A meta do projeto é chegar a distribuir um total de 3 mil kits.
A aceitação entre os usuários têm sido tão positiva, que a equipe já fez adaptações ao modelo original, ampliando o tamanho dos símbolos para facilitar a visualização dos idosos, e já trabalha no desenvolvimento de um aplicativo para uso da prancha nas plataformas digitais, permitindo que os pacientes possam seguir utilizando o material em casa, após a alta hospitalar, enquanto for necessário.
Aplicativo para comunicação alternativa já está sendo desenvolvido, permitindo uso fora do ambiente hospitalar. Crédito: Rochele Zandavalli/Divulgação
As pranchas também já foram traduzidas para seis idiomas, permitindo a ampliação de seu uso, e estão disponíveis para impressão no
site do projeto. "A comunicação alternativa é recente no Brasil, mas já é usada nas áreas educacional, cultural e de terapia ocupacional. Em larga escala ainda não tinha sido utilizada e, por isso, pensamos em ampliar esse uso às pessoas que estão em internação hospitalar e que mais necessitam nesse momento, podendo ainda ser estendida a idosos, portadores de deficiências ou pacientes que têm dificuldades temporárias em se comunicar", destaca Cardoso.
No Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA), por exemplo, o sucesso da utilização das pranchas fez com que o material não ficasse restrito à ala de tratamento de da Covid-19, sendo oferecido também a pacientes com dificuldades ou impossibilidade de fala, permitindo auxiliar na comunicação dos doentes e reduzindo a ansiedade que a dificuldade em se expressar causa nas pessoas.
Agora, o desafio da equipe é fazer com que os kits cheguem a mais hospitais do Interior. Para isso, os membros do grupo têm contatado pessoalmente as instituições para apresentar o projeto e disponibilizar o envio das placas. Futuramente, a estratégia será levar a comunicação alternativa a outras áreas, como a de lazer. Para isso, já há tratativas para desenvolver placas que possam ser colocadas em praças e parques da Capital, facilitando a comunicação de pessoas impossibilitadas de falar. Um projeto-piloto nesse sentido será desenvolvido na praça Júlio Mesquita, em frente à Usina do Gasômetro, no Centro Histórico da Capital. "Queremos mostrar que as pranchas e a comunicação alternativa podem ser amplamente utilizadas, sendo sempre uma excelente opção para ajudar na comunicação das pessoas", ressalta Cardoso.