Corrigir texto

Se você encontrou algum erro nesta notícia, por favor preencha o formulário abaixo e clique em enviar. Este formulário destina-se somente à comunicação de erros.

Cinema

- Publicada em 22 de Fevereiro de 2019 às 01:00

A estrada e as flores

Desde que realizou, em 1988, Bird, notável trabalho sobre a vida e a arte de Charlie Parker, que Clint Eastwood tem mostrado interesse em levar para a tela figuras reais. Suas duas obras-primas, Os imperdoáveis e Menina de ouro, são peças de ficção, mas o cineasta, ainda hoje, aos 88 anos, um realizador bem acima da média e muito distante da mediocridade que está fazendo força para se impor, tem revelado segurança e discernimento ao focalizar personalidades que de uma forma ou de outra marcaram o nosso tempo. Um deles, o grande Nelson Mandela, foi homenageado em Invictus, que não apenas pela atuação admirável do ator Morgan Freeman, é um filme emocionante e poderoso. Eastwood ainda se aproximou de outros personagens verdadeiros, entre eles um dos maiores nomes da história do cinema, John Huston, que, embora com outro nome e interpretado pelo próprio Eastwood, era o principal personagem de Coração de caçador. Com resultados diferentes, também eram baseados em figuras reais filmes como J. Edgar, Jersey Boys, Sniper americano, Sully, O herói do rio Hudson e 15h17 trem para Paris. Isso para não falar no díptico sobre a guerra no Pacífico, integrado pelos admiráveis A bandeira de nossos pais e Cartas de Iwo Jima, o primeiro do ponto de vista americano e o segundo focalizando o mesmo episódio vivenciado pelos militares japoneses. Em todos os seus filmes, o cineasta sempre coloca em primeiro plano personagens que se movem num mundo real e esculpidos de forma a valorizar perfis verdadeiros. Têm razão os organizadores do Festival de Cannes que, ao conferirem ao diretor uma Palma de Ouro pelo conjunto da obra, citaram os nomes de John Ford, Roberto Rossellini, Robert Bresson e Satyajit Ray, mestres que sempre viram no personagem a origem de tudo.
Desde que realizou, em 1988, Bird, notável trabalho sobre a vida e a arte de Charlie Parker, que Clint Eastwood tem mostrado interesse em levar para a tela figuras reais. Suas duas obras-primas, Os imperdoáveis e Menina de ouro, são peças de ficção, mas o cineasta, ainda hoje, aos 88 anos, um realizador bem acima da média e muito distante da mediocridade que está fazendo força para se impor, tem revelado segurança e discernimento ao focalizar personalidades que de uma forma ou de outra marcaram o nosso tempo. Um deles, o grande Nelson Mandela, foi homenageado em Invictus, que não apenas pela atuação admirável do ator Morgan Freeman, é um filme emocionante e poderoso. Eastwood ainda se aproximou de outros personagens verdadeiros, entre eles um dos maiores nomes da história do cinema, John Huston, que, embora com outro nome e interpretado pelo próprio Eastwood, era o principal personagem de Coração de caçador. Com resultados diferentes, também eram baseados em figuras reais filmes como J. Edgar, Jersey Boys, Sniper americano, Sully, O herói do rio Hudson e 15h17 trem para Paris. Isso para não falar no díptico sobre a guerra no Pacífico, integrado pelos admiráveis A bandeira de nossos pais e Cartas de Iwo Jima, o primeiro do ponto de vista americano e o segundo focalizando o mesmo episódio vivenciado pelos militares japoneses. Em todos os seus filmes, o cineasta sempre coloca em primeiro plano personagens que se movem num mundo real e esculpidos de forma a valorizar perfis verdadeiros. Têm razão os organizadores do Festival de Cannes que, ao conferirem ao diretor uma Palma de Ouro pelo conjunto da obra, citaram os nomes de John Ford, Roberto Rossellini, Robert Bresson e Satyajit Ray, mestres que sempre viram no personagem a origem de tudo.
A mula é mais um filme do realizador inspirado em um personagem real, no caso Earl Stone, um nonagenário que durante muito tempo atuou como traficante de um cartel mexicano, transportando drogas para o mercado americano. Eastwood aproveita tal figura para voltar a atuar como ator. Sua presença em cena, assim como todas as demais, resume o que é uma atuação cinematográfica. Nada de "interpretações" como diria George Cukor e, sim, criações de personagens. Cada cena e cada plano do filme ressalta esse aspecto do cinema, algo modelado por Griffith e sempre seguido pelos maiores, mesmo aqueles que deixaram sua contribuição para o enriquecimento formal de nossa arte. Mas não estamos apenas na reconstituição das atividades ilegais de um homem que, devido à sua idade, passou despercebido pelas barreiras policiais e até dialogou com um dos agentes designado para interromper suas atividades, numa bela cena do filme. O relato, que abre com as imagens das flores, símbolo de um mundo embelezado em sua superfície, vai aos poucos mergulhando numa realidade que rituais procuram esconder. O personagem principal, galanteador e vaidoso, é uma oportunidade para que o cineasta volte ao tema abordado em Menina de ouro, aquele ensaio tocante e brilhante sobre a tentativa de recuperação da filha distante.
A derrocada do protagonista não é apenas a falência de um personagem. Trata-se da crise de um mundo, simbolizada aqui pelo abandono da família e, principalmente, pela barreira que se ergue entre o protagonista e a filha. Esta é a herança fordiana que Eastwood costuma desenvolver em seus filmes. Ford, como se sabe, foi o cineasta marcado pelo tema da Odisseia, um realizador que poucas vezes se afastou do tema da volta ao lar, ao cenário familiar. O personagem agora percorre as estradas, numa atividade que lhe permite a segurança material e a ostentação que tanto aprecia. Eis o resumo da crítica pretendida pelo filme. O material pode ser sustentáculo para o humano, nunca seu substituto. A sequência final, que volta ao tema das flores, também é a colocação em cena do castigo. A trajetória se completa com os grandes espaços substituídos por um cenário que representa a limitação. Antes de chegar ao epílogo, o filme insiste em focalizar o tema dos valores fundamentais, num relato ao qual não faltam humor e ironia.
Conteúdo Publicitário
Leia também
Comentários CORRIGIR TEXTO