A pergunta do nosso tempo presente é: como lidar com essa tal de inteligência artificial (IA) nas nossas vidas? A minha análise aqui não tem a intenção de ser profética, mas sim analisar o que a IA pode trazer de benefícios e dificuldades para a educação da nossa aldeia. No “campo das leis”, as peças estão se movimentando. O Conselho Nacional de Educação (CNE) elabora uma resolução para regulamentar o uso da inteligência artificial na educação brasileira, com previsão de passar pelos trâmites legais ainda este ano e implementação a partir de 2026.
A resolução vai ser boa? Não sei. Mas é fato que o uso da inteligência artificial na educação básica tem crescido, trazendo novas possibilidades para a aprendizagem e a gestão escolar. Mas, ao mesmo tempo em que oferece soluções inovadoras, a adoção da IA exige reflexão sobre aspectos éticos, pedagógicos e sociais.
Eu sou um entusiasta do uso da tecnologia. E será que alunos precisam ser acompanhados na utilização? Claro que sim, e também no seu desenvolvimento como futuros adultos. O que a ferramenta IA está trazendo é uma aprendizagem personalizada. O que ela faz? Analisa o desempenho e preferências, individualmente, oferecendo conteúdos adaptados às necessidades dos alunos, e torna o aprendizado muito mais interessante. Quer mais? O “feedback” em tempo real permite que o aluno identifique imediatamente suas dificuldades e aprenda com mais autonomia. É claro que precisa estudar. E precisa de monitoramento. Afinal, sempre foi necessário o acompanhamento dos responsáveis e professores.
Na gestão escolar, a IA pode auxiliar na organização administrativa e também na construção de currículos mais atuais e que ajudem a desenvolver as competências previstas na BNCC (Base Nacional Comum Curricular), principalmente as digitais, como conteúdo de ensino ou ferramenta de apoio ao aprendizado.
Tem vantagens, mas também tem desafios. Um dos principais é o viés algorítmico, visto que sistemas de inteligência artificial podem produzir resultados injustos ou discriminatórios. Por isso, a necessidade de supervisão. Outro desafio é que nem todos os estudantes têm acesso a equipamentos tecnológicos e internet de qualidade, que pode agravar ainda mais a desigualdade educacional. Para não termos uma desumanização do ensino, os professores são os principais atores. Sempre foram e continuarão sendo.
Por outro lado, também não podemos desenvolver uma dependência tecnológica. A escola precisa continuar aperfeiçoando competências como o pensamento crítico, a criatividade, a argumentação, a empatia, a cooperação e a resolução de problemas, evitando que os alunos se tornem apenas consumidores passivos de tecnologia. Também por isso a necessidade de investir na formação de professores, preparando-os para o uso ético e pedagógico das ferramentas tecnológicas.
O debate sobre o uso da IA na educação básica está em construção. Teremos novas regras em breve. O uso dessa ferramenta deve ser pautado pela responsabilidade, ética e compromisso com a qualidade e a equidade no ensino. Se bem planejado, o uso da inteligência artificial pode se tornar um aliado importante no desenvolvimento da educação básica no Brasil, promovendo, sem prejuízo ao papel central do professor, inovação e respeito à diversidade dos estudantes.
Ronald Krummenauer
Vice-presidente da área de Educação da Associação Comercial de Porto Alegre (ACPA)