A bancada evangélica no Congresso Nacional, alinhada com o presidente Jair Bolsonaro (PL), neste ano eleitoral, volta a ser centro das atenções, com candidatos de todos os partidos, disputando seu apoio.
Impacto do segmento
A simples constatação de que surgem no país, a cada ano, cerca de 14 mil novas igrejas evangélicas, já é motivo suficiente para se avaliar com maior atenção o impacto do segmento evangélico no Brasil de hoje. O professor de teologia, pastor e ex-deputado pelo Distrito Federal, Peniel Pacheco, fez para o Repórter Brasília, uma análise do segmento evangélico no País.
Comunidades fragmentadas
"É verdade que não se trata de um movimento coeso, do ponto de vista doutrinário e, muito menos, do ponto de vista político ou partidário", avalia Peniel Pacheco. "As comunidades evangélicas são extremamente fragmentadas entre si, ou mesmo internamente. Isso se dá, inclusive, no âmbito de denominações mais antigas e bem estruturadas, onde não há consenso pleno, nem mesmo em torno de temas teológicos considerados fundamentais para a fé cristã".
Novas doutrinas
"Observa-se, com muita frequência, o surgimento de novas doutrinas, modelos litúrgicos inovadores ou diferentes interpretações da Bíblia - a partir de exemplos importados, principalmente dos Estados Unidos - que passam a ser replicados nas igrejas daqui, por serem considerados mais eficientes para agradar aos frequentadores, e para atrair novos membros".
Povo de Deus
Um livro lançado recentemente no Brasil, tem despertado a atenção do grande público para esse fenômeno religioso. Trata-se da obra "Povo de Deus - Quem são os Evangélicos e por que eles importam". O autor, professor Juliano Spyer, doutor em antropologia pela University College de London, mergulhou de cabeça no tema - chegando a conviver por longos períodos com famílias evangélicas da periferia - e teve o cuidado de analisar com profundidade as principais características desse movimento tão plural.
Caráter corporativo
O autor destaca, no entanto, que a atuação política dos parlamentares eleitos pela base evangélica tem um caráter bastante corporativo. Ou seja, a pauta de muitos parlamentares evangélicos é voltada para o atendimento de interesses, tais como: imunidade, isenções ou vantagens tributárias, simplificação para alvarás de templos e concessões de rádio. "Essa atuação bastante coordenada contrasta com o desinteresse por causas de importância nacional".
Interesse coletivo
Na visão do autor, os parlamentares evangélicos geralmente não demonstram muito interesse em questões coletivas como o aquecimento global, a defesa do meio ambiente, projetos de melhoria das condições de saúde e educação, nem estão tão preocupados com o combate à corrupção e ao trabalho escravo.
Tendência do voto evangélico
Em entrevista na última semana, respondendo sobre a tendência do voto do eleitor evangélico, o professor Juliano Spyer, esclareceu que "é muito difícil a gente falar sobre o voto evangélico com esperança, por exemplo, que eles estariam necessariamente atrelados a determinados líderes, ou líderes políticos, ou midiáticos, uma comunidade muito diversa". Ele reforça que, "o termo evangélico é muito generalizante".