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Empresas & Negócios

- Publicada em 17 de Agosto de 2020 às 03:00

Para Haubert, da Abinee-RS, faltam startups de hardware

Gestor demonstra preocupação com a falta de interesse dos jovens pela área de engenharia

Gestor demonstra preocupação com a falta de interesse dos jovens pela área de engenharia


VINICIUS RORATTO/DIVULGAÇÃO/JC
Patricia Knebel
O que é mais desafiador? Percorrer uma trilha de aventura no Deserto do Atacama e do Ushuaia ou gerir uma empresa em um ambiente volátil e imprevisível como o que estamos vivendo? O diretor regional da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee-RS), CEO da Exatron e corredor de trilhas de aventura, Régis Haubert, vê graus similares de dificuldades entre esses dois mundos, além de um grande potencial de aprendizado. "O esporte eleva o nosso nível de condicionamento físico e mental. Enquanto você está lutando para subir combos de areia, a sua energia está totalmente focada naquilo. É preciso gerenciar a fadiga e o imprevisível, assim como acontece quando temos que conduzir uma empresa em um cenário de crise como o que estamos vivendo", analisa.
O que é mais desafiador? Percorrer uma trilha de aventura no Deserto do Atacama e do Ushuaia ou gerir uma empresa em um ambiente volátil e imprevisível como o que estamos vivendo? O diretor regional da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee-RS), CEO da Exatron e corredor de trilhas de aventura, Régis Haubert, vê graus similares de dificuldades entre esses dois mundos, além de um grande potencial de aprendizado. "O esporte eleva o nosso nível de condicionamento físico e mental. Enquanto você está lutando para subir combos de areia, a sua energia está totalmente focada naquilo. É preciso gerenciar a fadiga e o imprevisível, assim como acontece quando temos que conduzir uma empresa em um cenário de crise como o que estamos vivendo", analisa.
Haubert tem 57 anos, e começou a empreender aos 20, em um "fundo de quintal", como ele mesmo comenta. Ali já nascia a Exatron Indústria Eletrônica, especializada no desenvolvimento de produtos eletroeletrônicos, com sede no Parque Canoas de Inovação (PCI). Formado em eletroeletrônica pelo Colégio Parobé, tem um MBA em Marketing de Empresas e está finalizando essa formação em transformação digital e o futuro dos negócios. "Entramos em uma era digital sem precedentes. Não fazemos ideia hoje de como será o mundo daqui cinco anos", analisa. À frente da Abinee-RS, o executivo celebra a retomada que o setor vem vivenciando recentemente, depois de um período difícil em função da pandemia da Covid-19. Os bons resultados chegam com a necessidade de maior automatização das fábricas, empresas e bancos. "As empresas estão demandando soluções em função das restrições ocupacionais, o que está movimentando o setor", explica.
Empresas & Negócios - Como o setor de eletroeletrônica está sendo impactado pela crise da Covid-19?
Regis Haubert - O setor eletroeletrônico movimenta hoje R$ 8 bilhões, e a estimativa é ter uma queda de 5% esse ano. Não tivemos casos de muitas empresas quebrando neste setor aqui no Rio Grande do Sul, apenas algumas que estavam em insolvência. Mas, claro que estamos vivendo um momento sui generes durante esta pandemia, com muitos fatores acontecendo no âmbito econômico e de preocupação com a saúde. Não conseguimos enxergar um Norte de mais de 15 dias à frente, e é muito complicado gerir uma empresa nesse panorama. Apesar disso, depois desses quatro meses, o mercado está começando a retomar. Na eletroeletrônica, inclusive, estamos quase chegando a patamares de antes da Covid-19 em algumas áreas.
E&N - A necessidade de automação exigida pelo cenário da pandemia está puxando a retomada do setor?
Haubert - Sim, as companhias entenderam que precisam retomar seus programas de desenvolvimento e os projetos começaram a sair das gavetas, especialmente os de automação industrial, bancária e comercial. Existe uma demanda latente da indústria por um aumento da automatização em função das restrições de trabalho das pessoas nas fábricas. Os clientes estão demandando mais soluções, justamente, para reforçar a infraestrutura fabril. Da mesma forma, os projetos de automação bancária estão acelerando diante da necessidade das instituições ampliarem o número de terminais, já que as agências estão fechadas. O nosso setor também está sentindo uma maior demanda por banda de internet na medida em que mais pessoas estão trabalhando em casa. Isso impacta diretamente nas empresas que fornecem modens e infraestrutura de telecom, especialmente as pequenas que abastecem as cidades de menor porte. Por outro lado, um segmento dentro da eletroeletrônica que ainda está tendo um impacto negativo grande é a área de notebooks e smartphones, algo que afeta mais a região Sudeste, onde estão concentradas essas fabricantes.
E&N - Como a Exatron tem reagido a esse cenário?
Haubert - Em março e abril o nosso faturamento caiu cerca de 45%, mas depois, maio melhorou e o mês de junho foi muito bom - superamos o faturamento de antes da Covid-19 - e julho foi excepcional. Estamos com a carteira de venda para metade de agosto fechada, puxado pelas nossas soluções de iluminação pública. E isso não só com a gente. Tem outras empresas tendo que fazer até hora extra para atender às demandas das indústrias.
E&N - Que caminhos os empresários do setor podem buscar para avançar nesta indústria, que é tão competitiva?
Haubert - A nossa indústria é transversal, pois está inserida em todos os setores da economia, como aviônica, automotiva, saúde e tantos outros. Temos pregado para os nossos empresários buscar um nicho de mercado para atender que tenha potencial de futuro. Um caso é o da Internet das Coisas (IoT).
E&N - As universidades gaúchas foram um celeiro para o nascimento de muitos players de base tecnológica do setor que permanecem até hoje no mercado. Mas, hoje em dia, quase não ouvimos falar em startups surgindo destes ecossistemas. Por que isso acontece?
Haubert - Sim, poucas empresas novas estão surgindo no setor de eletroeletrônica, e essa é uma preocupação nossa. Temos visto mais players de soluções e software, mas não de hardware. Criar uma empresa nessa área é desafiador porque uma indústria requer muito investimento em Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação (PDI&). Investir em hardware é caro, por isso é difícil encontrar startups que tenham decolado. Além desta questão do investimento, há um desinteresse dos jovens empreendedores pela área de hardware, apesar deste ser um mercado altamente promissor. Quando pensamos na Internet das Coisas, por exemplo, todos os dispositivos que surgirem vão precisar de hardware para funcionar, como um sensor, um modem ou um transmissor. Isso significa grandes oportunidades. A IoT pode ser um despertar, uma provocação, mas ainda assim podemos ter um complicador para atender essa demanda porque vai faltar mão-de-obra especializada.
E&N - O que explica essa retração na formação de engenheiros?
Haubert - O desinteresse pela engenharia é grande - as turmas nas faculdades estão cada vez menores. Muitas das empresas de eletroeletrônica que surgiram no Rio Grande do Sul na década de 1970, por exemplo, vieram de projetos de estudantes da engenharia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs). Temos um ecossistema muito capacitado no Rio Grande do Sul, com instituições de ensino referência como Ufrgs, Pucrs, Unisinos e Feevale, mas faltam pessoas interessadas em apostar nessa área.
E&N - Como está a instalação de novas empresas no Parque Canoas de Inovação, uma iniciativa muito celebrada pelo setor?
Haubert - O Parque Canoas de Inovação (PCI), em Canoas, conta hoje com três empresas instaladas: Exatron. Novus e SKF. Existem cerca de quatro empresas interessadas e com negociações abertas, apesar de sabermos que esse não é o momento do mercado mais propício para novos investimentos, o que pode protelar algumas decisões. O parque tem 250 hectares disponíveis para empresas, não precisam ser focadas no setor eletroeletrônica, mas que estejam desenvolvendo produtos e soluções inovadoras.
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