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reportagem cultural

- Publicada em 31 de Março de 2021 às 21:41

Acervo na UPF preserva legado do escritor Josué Guimarães

Acervo Literário na UPF tornou-se referência para celebração do centenário do autor

Acervo Literário na UPF tornou-se referência para celebração do centenário do autor


Acervo Literário de Josué Guimarães/PPGI-UPF/DIVULGAÇÃO/JC
O Acervo Literário de Josué Guimarães (ALJOG), sob responsabilidade da Universidade de Passo Fundo (UPF), cumpre o papel de manter o legado do escritor vivo a partir da conservação e pesquisa da sua obra e trajetória. Com mais de oito mil itens, há no acervo objetos pessoais (como óculos, echarpes, projetos de slides do autor), documentos, fotos, manuscritos originais, correspondência, esboços, notas, além de parte da biblioteca pessoal do autor. Ao mesmo tempo, o arquivo tornou-se um referencial para a celebração do centenário do autor, completado neste ano.
O Acervo Literário de Josué Guimarães (ALJOG), sob responsabilidade da Universidade de Passo Fundo (UPF), cumpre o papel de manter o legado do escritor vivo a partir da conservação e pesquisa da sua obra e trajetória. Com mais de oito mil itens, há no acervo objetos pessoais (como óculos, echarpes, projetos de slides do autor), documentos, fotos, manuscritos originais, correspondência, esboços, notas, além de parte da biblioteca pessoal do autor. Ao mesmo tempo, o arquivo tornou-se um referencial para a celebração do centenário do autor, completado neste ano.
O coordenador e professor Miguel Rettenmaier lembra que um acervo literário é um espaço de memória. "Os itens que estão ali resguardados, classificados, catalogados e higienizados, são objeto de pesquisa tanto quanto o próprio processo de preservação e organização dos itens", diz. São esses vestígios do autor de Camilo Mortágua que ajudam na compreensão da história da produção e da recepção literária.
Na década de 1990, acervos de escritores fundamentais da história do Estado, como Erico Verissimo e Mario Quintana, começaram a ser organizados por professoras como Maria da Glória Bordini e Regina Zilberman. Em 1996, Nydia Guimarães, a viúva de José, cedeu à Pucrs arquivos, documentos e materiais, que ficaram sob a tutela da professora Maria Luiza Remédios. "A partir daí se iniciaram minhas pesquisas, que deram possibilidade de dissertação e tese de doutorado orientados por Remédios", conta Miguel. Mais tarde, ele se tornaria professor e coordenador na UPF.
Em 2007, segundo Adriana Guimarães, filha mais jovem do casal, devido à troca das organizadoras, o material foi levado para Passo Fundo. "Minha mãe tomou a decisão de enviar o acervo para a UPF sob os cuidados do Miguel, pois além de ter sido aluno na Pucrs, era um entusiasta da obra do meu pai e conhecia profundamente o material. Minha mãe tinha laços familiares em Passo Fundo, o início da Jornada Literária teve a participação dos dois, já existia ali uma relação de confiança", explica. O espaço faz parte da infraestrutura do curso e do Programa de Pós-Graduação em Letras da universidade.
A maioria das pesquisas e bolsistas envolvidos no trabalho são da área de Letras. "Mas toda e qualquer pesquisa em acervo tem uma natureza transdisciplinar. Em nosso caso, jornalismo, historiografia, tecnologia, educação, dentre outras áreas, são links sempre abertos na investigação", explica Miguel. Desse tempo todo, já resultaram diversas pesquisas acadêmicas, entre níveis de graduação, mestrado e doutorado.
Bruna Santin está atualmente no mestrado da pós-graduação em Letras da UPF, pesquisando as missivas de Josué Guimarães. Em sua pesquisa, pretende fazer um percurso histórico, escritural, chegando até aos limites íntimos do processo de criação literária do escritor. "O trânsito epistolográfico de Josué ocorria não somente com personalidades literárias marcantes da época, mas com familiares, amigos, editores e leitores. Quando esses últimos correspondentes entram em cena, os aspectos da literatura do autor ganham voz e sentimento, já que alguns passam a narrar suas experiências de leitura ao escritor, de forma bastante particular e, por vezes, confessional e sentimentais", explica. Ao todo, existem, aproximadamente, quinhentas missivas, contando com alguns telegramas e bilhetes.
Entre as cartas, estão trocas com escritores como Erico Verissimo e o jornalista e humorista Millôr Fernandes. "Os amigos me proibirem de admirá-los enquanto a censura, aos inimigos, me impede de esculhambar-los. Quê que há. Você tem sido um batalhador, um homem sincero e leal com os amigos. [...] Permiti-me admirá-lo?", escrevia Millôr para Josué em 1973, durante a ditadura militar, período em que o escritor foi perseguido.
Para abranger um maior público, encontra-se em fase de digitalização parte do acervo de Guimarães. "Essa não é a parte mais difícil, já que dispomos de equipamentos, scanners, muito modernos. A grande questão é a ferramenta de consulta e pesquisa remota. Ela está em construção", diz Miguel. Isso vai permitir a pesquisa remota de todas as textualidades catalogadas no acervo.
O acervo é dividido em duas partes. Uma delas é restrita à pesquisa e só dá acesso a pessoas autorizadas, tendo em vista a necessidade de cuidado com os materiais acondicionados. A parte de exposição, com vitrines e cartazes, é livre aos usuários da Biblioteca da UPF e demais interessados.

Escrevendo para crianças

Já consagrado, Josué Guimarães começou a produzir para público infantil

Já consagrado, Josué Guimarães começou a produzir para público infantil


IVAN PINHEIRO MACHADO/REPRODUÇÃO/JC
Josué Guimarães já era um autor consagrado quando começou a escrever para o público infantil - talvez uma faceta menos conhecida do seu trabalho literário. Seu primeiro livro nesse segmento foi A Casa das Quatro Luas (1979), seguido por Era uma Vez um Reino Encantado (1980), Xerloque da Silva em O Rapto da Dorotéia (1982), Xerloque da Silva em Os Ladrões da Meia-Noite (1983), Meu Primeiro Dragão (1983) e A Última Bruxa (1986).
Para Vera Teixeira de Aguiar, doutora em Teoria da Literatura e professora titular aposentada da Pucrs, talvez o contato com os leitores, prática de sucesso do Instituto Estadual do Livro do Rio Grande do Sul (IEL), tenha incentivado Guimarães a produzir também para o público mais jovem. "Mas esse não é um movimento singular: vários escritores fizeram o mesmo antes dele, desde o fim do século XIX, Figueiredo Pimentel, por exemplo, e o início do século XX, como Olavo Bilac. Mais adiante, temos Monteiro Lobato, Viriato Correa, Graciliano Ramos, Erico Veríssimo e muitos outros", explica.
O escritor e doutor em Letras Caio Riter diz que escrever para a infância é investir, desde cedo, na formação de leitores. "E que eles possam ler não como hábito, mas como exercício de uma postura liberta para dar seu sim às palavras literárias, lembrando que, uma vez leitor, sempre leitor".
As razões para se dedicar a escrever para esse público podem variar, mas a qualidade do texto e as profundidades temáticas de Guimarães continuaram também para as crianças. Segundo Vera, em nenhum momento, ele sobrepõe elementos imaginativos e lúdicos, que atraem e divertem o leitor, àqueles pedagógicos, comprometidos com conteúdos ou conceitos morais, por exemplo: "Ao contrário, suas obras conversam com as do passado, trazem para o universo do leitor Aladim ou Reino das Águas Claras, entre outras personagens, espaços, cenas. Todos esses mecanismos vão enriquecendo o imaginário do leitor".
Caio diz que em sua produção pode se observar a presença de um escritor que percebe o leitor-criança como alguém que pensa, não ditando regras e normas e abrindo espaço para a fantasia.
Publicado em 1977, o livro É tarde para saber conta a história de amor entre dois jovens. Para Vera, atualmente é possível considerá-lo um romance voltado para o público jovem. "Conta a relação cheia de silêncios e vazios, devido à cortina de censura, que corrompe todas as relações humanas nos anos de chumbo da ditadura no Brasil. Na verdade, os jovens se apaixonam, mas não se conhecem, pois há um fosso entre a moça da zona sul carioca e aquele rapaz sem história, o guerrilheiro que só é identificado depois da morte", explica a professora. Guimarães vai desenhando e sugerindo o clima sufocante da vida nacional no período da ditadura militar.
Caio Riter acredita que um dos maiores legados de Josué é justamente pensar a literatura como objeto artístico que dialoga com seu tempo. "Ele foi um autor que não se furtou de construir narrativas, muitas vezes mergulhadas no fantástico, que apontam, ainda hoje, para o aguçamento do olhar sobre a condição humana, expressando olhar revolucionário e crítico sobre a sociedade e seus (des)governos, sem contudo ser panfletário. A causa de Josué, expressa em romances como Camilo Mortágua, Os tambores silenciosos ou É tarde para saber é a causa da liberdade, sonho tão presente e cada vez mais necessário", completa.

Obra segue atual

Camilo Mortágua seria a obra definitiva de Guimarães na opinião do professor Sergius Gonzaga

Camilo Mortágua seria a obra definitiva de Guimarães na opinião do professor Sergius Gonzaga


Acervo Literário de Josué Guimarães/PPGI-UPF/DIVULGAÇÃO/JC
Apesar de começar tardiamente sua carreira literária, apenas aos 49 anos, Josué Guimarães já era um profissional experimentado na escrita e na vida pública, tendo exercido a função de jornalista em diversas redações, participado de questões políticas, e tendo incursões pontuais na ficção. Talvez por isso, sua escrita tenha um certo sentido de urgência.
Para o escritor Luiz Antonio de Assis Brasil, a obra de Guimarães segue atual. "Em primeiro lugar, por causa de seu conteúdo estético - toda obra de arte que merece este nome permanece para sempre. Em segundo, porque ele ensina a tolerância com as diferenças, e nada mais atual do que isso", explica. O autor de Cães da Província também acredita que o legado de Josué é sua colaboração à constituição da identidade rio-grandense, inserindo nela outras vertentes temáticas além das tradicionais
O professor da área de Letras da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs) e coordenador de Literatura de Porto Alegre, Sergius Gonzaga, acredita que Camilo Mortágua é a obra definitiva de Guimarães. "Trata-se de um romance esplêndido como ideia, como registro simultâneo da decomposição da velha classe estancieira e do nascimento da burguesia urbana. Josué sabia tudo sobre os mecanismos de ascensão e da derrocada, da ambição e do fracasso, aliás como o próprio Erico Verissimo", explica. Parte do seu acervo revela o planejamento que o escritor fazia para escrever seus romances. Estabelecia uma relação de detalhes cronológicos que não necessariamente fariam parte da obra definitiva.
Miguel Rettenmaier acredita que sua obra deveria voltar a ser mencionada pela imprensa especializada. Para o professor, as injustiças sociais e a tolerância da sociedade com as demasias do poder seguem, algo que a obra de Guimarães traz. "Os tambores silenciosos, sobre uma tentativa de controle autocrático por um militar político na liderança do Executivo, sustentado por um nacionalismo fascistoide, parece ter sido escrito nestes tempos. Dona Anja, que apresenta, como personagens, políticos que, em um bordel, defendem a família e os bons costumes, se reedita no quadro do conservadorismo hipócrita de agora. Josué, por força de suas temáticas e de nossa história, é um autor absolutamente atual", finaliza.

Memórias da filha

Adriana Guimarães lembra do convívio nas casas do bairro Petrópolis e em Canela

Adriana Guimarães lembra do convívio nas casas do bairro Petrópolis e em Canela


IVAN PINHEIRO MACHADO/REPRODUÇÃO/JC
Adriana Guimarães, a filha mais nova do escritor, guarda com carinho a figura do pai. "Ele era muito presente e sempre bem humorado, a nossa casa sempre foi muito aberta, com muitas visitas, e ele e minha mãe (Nydia Guimarães) adoravam isso. Sempre tinha algum amigo morando ou passando uma temporada com a gente", diz. A memória mais forte de Adriana é do tempo na casa na Rua Riveira, no bairro Petrópolis, em Porto Alegre, onde o escritor viveu até sua morte, em 1986. "É muito difícil falar do meu pai sem citar a minha mãe, os dois se complementam, faziam tudo juntos, tinham uma sintonia imensa, eram grandes companheiros de vida", explica.
Inclusive, no processo de escrita, Adriana conta que sua mãe ajudava na revisão, participando ativamente. "Ela era taquígrafa e excelente datilógrafa, ajudava muito na organização e na correção dos textos. Os dois passavam horas nessa rotina, mas interagindo com as demandas do dia a dia", conta. Mesmo com toda essa efervescência do cotidiano, ela revela que Josué possuía uma grande capacidade de concentração na hora de sentar para escrever. Apenas quando tinha uma ideia para um livro e começava a pensar sobre ele ficava mais disperso, distante e ansioso. "Ele formatava toda a história na cabeça, fazia pesquisas, passava um período mais tenso. Quando sentava na máquina ele mudava, escrevia com prazer, mesmo no meio da agitação da casa, ficava feliz, acho que eram os momentos de maior realização dele", explica Adriana.
Na temporada em Portugal, que foi de 1974 a 1976, ela conta que muitos brasileiros exilados visitavam a sua família. "Minha mãe fazia arroz, feijão, farofa e picadinho à mão, dizia que era a comida mais brasileira de todas, de noite faziam festas com muito samba. Mesmo nos momentos mais difíceis eles estavam dispostos a estender a mão", conta.
Nessa época, depois da volta para o Brasil e a ida para a casa no bairro Petrópolis em Porto Alegre, também começou a ser construída a casa de Canela, em 1983. "Ele se envolveu muito com o projeto e com a obra. Ele e a minha mãe passavam os finais de semana cuidando dos mínimos detalhes. Meu pai queria muito morar lá, poder ficar sossegado para escrever e, principalmente, terminar a trilogia A Ferro e Fogo. Tinha tudo planejado para o terceiro livro que seria sobre os Muckers", conta.
Depois da morte de Josué, Nydia se mudou para Canela, em 1989. Lá continuou o que ela e seu marido tanto faziam tão bem: acolhendo artistas, amigos, recebendo familiares, e tornando a casa um grande ponto de encontro e de congregação. Além disso, Nydia tomou como missão tornar a cidade um local reconhecido pela sua arte e cultura. Desse modo, em 1991 conseguiu inaugurar a Fundação Cultural de Canela, tornando-se a sua primeira presidente. Atualmente, é justamente Adriana que ocupa o cargo. Josué Guimarães virou nome de rua, de biblioteca e da Feira do Livro Infantil na cidade. Nydia, por sua vez, ganhou um Espaço Cultural com seu nome.
Para Adriana, o legado de Josué reside em saber transformar em palavras o que ele via e sentia. "As inquietudes humanas continuam as mesmas. O momento histórico é outro, mas a luta por uma sociedade mais igualitária continua, e a visão dele segue atual sobre todos os temas sociais e políticos abordados tanto nas obras literárias quanto nos textos jornalísticos", finaliza.

Centenário de atividades

Acervo Literário na UPF tornou-se referência para celebração dos 100 do autor, em janeiro de 2021

Acervo Literário na UPF tornou-se referência para celebração dos 100 do autor, em janeiro de 2021


UPF/DIVULGAÇÃO/JC
O ano do centenário de Josué Guimarães não poderia passar sem festividades. As ações são realizadas em parceria entre a UPF, a editora L&PM, a Secretaria Municipal de Cultura de Porto Alegre, via Biblioteca Pública Municipal Josué Guimarães, e o governo do Estado, representado pelo Instituto Estadual de Literatura.
No mês de janeiro, foi realizada na UPF, a live Letras: 100 anos de Josué com músicas executadas pelos artistas Cássio Boges e Lari Acevedo, alunos de Letras da instituição. Já a biblioteca que leva o seu nome em Porto Alegre divulgou em suas redes sociais dicas de leitura das obras de Guimarães ao longo do mês de janeiro. Em fevereiro, foram produzidos vídeos também sobre os livros do escritor e que estão disponíveis no canal do YouTube da biblioteca. A ideia é que se siga o ano inteiro com a leitura de partes da sua obra e a contação de histórias baseadas em sua literatura para jovens.
Dentre as atividades em 2021, uma das maiores é o Colóquio 100 Josué Guimarães (1921-2021), programado para acontecer virtualmente de 3 a 7 de maio. A ideia é discutir tanto a obra de Josué, quanto aspectos relacionados a sua personalidade, como o jornalismo e a política. Entre os convidados, estão Maria da Glória Bordini (Ufrgs), Sergius Gonzaga (Ufrgs), Carlos Reis (Universidade de Coimbra), Juremir Machado da Silva (Pucrs), Maria Eunice Moreira (Pucrs), Tau Golin (UPF), Philipe Willemart (USP), Alicia Duha Lose (Ufba/Cepedop) e Rosinês Duarte (Ufba). O colóquio está aceitando artigos acadêmicos e as inscrições podem ser realizadas pelo endereço eletrônico www.upf.br/aljog/coloquio-100-josue-guimaraes-1921-2021.
Ainda sem data definida, será realizada mais uma edição do Concurso Nacional de Contos Josué Guimarães, premiação já tradicional, com um histórico de revelações de nomes como Lourenço Cazarré, Ernani Ssó, Altair Martins, Lucia Bettencourt, entre outros. Atualmente, a UPF está no processo de elaboração do edital.
 

Novas edições

L&PM relançou quatro livros de sua coleção com novas capas

L&PM relançou quatro livros de sua coleção com novas capas


/LPM/DIVULGAÇÃO/JC
Para celebrar o centenário de Josué Guimarães, a L&PM relançou quatro livros de sua coleção com novas capas. Quase toda a obra do escritor foi publicada pela editora, uma relação também de amizade entre Ivan Pinheiro Machado, um dos seus fundadores, e o autor. Uma live do editor com Miguel Rettenmaier (UPF) ocorre em 15 de abril, às 19h30min, no YouTube da L&PM.
Ivan conta que seu pai, o advogado e ex-deputado Antonio Pinheiro Machado Netto, fez defesa na intensa perseguição política movida pela ditadura militar contra Josué. Mas foi somente quando estava no exílio em Portugal que eles conviveram mais: "Em 1976, eu tinha 23 anos e recém tínhamos fundado a L&PM. Fiquei hospedado na casa do Josué e da Nydia, sua mulher, pessoa maravilhosa, durante quase dois meses".
Ele recorda das conversas variadas e de ficar fascinado pelo processo criativo de Josué que consistia em conversar e pensar na história e então escrever. "Lembro bem que, quando ele morreu, tinha 'contado' pra mim e, imagino, para outros amigos, pelo menos três novos romances: A morte da primeira dama, Uma fresta na janela e Brava gente", revela Ivan.
Confira os livros relançados:
Enquanto a noite não chega - Narra a história de uma cidade abandonada, já em ruínas, onde os últimos habitantes são um senhor de 92 anos, sua esposa de 86 anos e o coveiro. A cidade ficará totalmente deserta quando os idosos morrerem e o coveiro cumprir seu compromisso de enterrar o último morador. Mas um imprevisto muda o rumo do destino do casal.
Depois do último trem - Na novela, Eduardo retorna, depois de uma longa ausência, para sua terra natal, a cidade fictícia de Abarama. Prestes a sumir do mapa devido a uma barragem que vai alagá-la, Abarama é praticamente um cemitério de almas e casas abandonadas.
Camilo Mortágua - No romance, Guimarães conta de maneira apaixonante a decadência de uma família de pecuaristas da Fronteira. A história reproduz o drama de dezenas de famílias gaúchas que, baseando seus rendimentos na exploração de rebanhos, levaram suas vidas luxuosas na capital do Estado, e que, com o passar do tempo, terminou por arruiná-las.
É tarde para saber - Situa-se num momento tumultuado da vida brasileira, o final da década de 1970. Jovens idealistas se insurgiram contra a ditadura militar, correndo riscos diante do enfrentamento com a dura repressão policial.
 

* Rafael Gloria é jornalista, mestre em Comunicação pela Ufrgs e editor fundador do site Nonada - Jornalismo Cultural e sócio da agência Riobaldo.