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Cultura

- Publicada em 01 de Julho de 2020 às 20:05

O chamado dos contos a Tônio Caetano, porto-alegrense agraciado com Prêmio Sesc

Com a vitória, escritor terá obra 'Terra nos cabelos' publicadas e distribuída pela editora Record

Com a vitória, escritor terá obra 'Terra nos cabelos' publicadas e distribuída pela editora Record


CLAUDIO MACEDO/DIVULGAÇÃO/JC
Roberta Requia
Aos 37 anos e vivendo o momento conturbado causado pela pandemia da Covid-19, Tônio Caetano teve motivos para comemorar no mês de junho. Seu livro Terra nos cabelos foi o vencedor do Prêmio Sesc de Literatura de 2020 na categoria Contos. O resultado saiu no dia 19 do mês passado.
Aos 37 anos e vivendo o momento conturbado causado pela pandemia da Covid-19, Tônio Caetano teve motivos para comemorar no mês de junho. Seu livro Terra nos cabelos foi o vencedor do Prêmio Sesc de Literatura de 2020 na categoria Contos. O resultado saiu no dia 19 do mês passado.
Há 17 anos, a premiação condecora novos escritores, concedendo aos vencedores a publicação de suas obras pela editora Record. "Se fosse em outro momento, já estaria na rua comemorando com amigos e familiares", declarou Tônio em entrevista ao Jornal do Comércio. Seu livro foi o selecionado entre 666 obras inscritas: "Fiquei também feliz quando uma amiga disse que a notícia trouxe alegria para ela neste momento difícil. Saúde, arte e boas notícias são essenciais, ainda mais agora".
Assim como muitos escritores, Tônio concilia a carreira de escritor com o segundo cargo, nesse caso o de administrador no município de Porto Alegre: "É possível sim conciliar a escrita literária com outro trabalho. A maioria dos escritores faz isso no Brasil. A vida fica bem mais corrida, e tento ser organizado fora do trabalho para manter o espaço da literatura".
Nascido em Porto Alegre e especialista em Literatura Brasileira pela Pucrs, o gosto pela leitura surgiu ainda durante a infância na escola municipal, onde menciona seu primeiro encontro com os livros em clássicos como As aventuras da Bruxa Onilda e Menino Maluquinho, edições da Coleção Vagalume, além dos clássicos da literatura brasileira. "Não recordo a idade exata em que a escrita teve início. Mas no começo, além das fichas de leitura na escola, muito era busca de compreensão do mundo e das minhas questões", reflete o escritor.
Os contos que compõem Terra nos cabelos tratam de diferentes percursos da mulher perante a sociedade. Segundo Tônio, a vontade de escrever um livro somente com protagonistas femininas já existia desde 2017. Suas histórias foram compostas em sequência. "Passei mais de um ano só escrevendo contos para formar Terra nos cabelos. Depois tiveram muitas reflexões, reescrita e cortes. Muitos ficaram de fora na última revisão, dias antes da inscrição no prêmio."
As narrativas são ilustradas por mulheres de diferentes idades e caminhos, pontos de vista e vidas totalmente diferentes, além da jornada de autoconhecimento e luta interna e externa. Como inspiração, ele revela ter lido obras de Carolina Maria de Jesus, Conceição Evaristo Atena Beauvoir, Adriana Mondadori e Giovana Madalosso: "Eu procurei obras que conversassem com o que eu pretendia, mas é difícil encontrar livro de contos inteiro com personagens femininas. Eu queria também personagens e pontos de vista diferentes. Persegui a ideia de que o livro tinha que ser igual a um bom vinil, com canções em diferentes volumes, batidas, tons", relata.
Quando a pandemia chegou, Tônio estava prestes a completar um ano como servidor municipal da capital gaúcha, enquanto planejava as férias anuais entre abril e maio: "Quase tudo foi adiado e entrei em isolamento, cheio de dúvidas e medos".
Entre lembranças e vivências esquecidas, recorda com carinho do desfile de Carnaval deste ano, onde pode comemorar com os amigos uma última festa antes da pandemia. "Ainda bem que o Carnaval em Porto Alegre aconteceu um pouco antes e pude ter esta alegria, desfilar na Império da Zona Norte, estar com meus irmãos e amigos no Complexo Cultural do Porto Seco", recorda.
A saudade da rua, das pessoas e dos amigos, inclusive, são coisas da qual Tônio mais sente falta. "A proximidade com os amigos, os abraços dos familiares, do 'tô indo praí' e do 'vem pra cá'". Uma rotina de exercícios mais ou menos bem-sucedida e o sentimento de introspecção crescente acompanham o autor de Terra nos cabelos: "Gosto de estar com as pessoas, ir a eventos literários, teatro, sair para caminhar, tomar uma cerveja, lua, sol. Agora tudo está difícil. A pandemia me deixou mais introspectivo. Uma atividade diferente que tenho feito neste período é exercício físico com vídeos do YouTube. Outro dia, a Jane Fonda dos anos 1980 me deixou com dor nas costas. Além disso tem as lives, que perco quase todas".
Enquanto espera que a edição física de Terra nos cabelos ganhe vida, Tônio tem aproveitado a quarentena com leituras, música, filmes e a companhia do namorado Marcelo. Para ele, a literatura produz inúmeros e diversos impactos, sendo impossível contá-los em momentos como o atual, onde ela se faz tão importante: "Neste período em que estamos, mais urgentes em refletir sobre as questões que nos cercam, em mergulhar noutras vidas e também em nos divertir, a literatura pode ser uma grande irmã, amiga, mãe, professora." Para ele, a literatura nesse momento coloca-se como um convite ao leitor, cabendo apenas a ele aceitá-la. "Parece-me que neste isolamento, de alguma forma, pelo menos quem não está em negação, está mais propenso a dizer sim."
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