Apesar dos esforços do governo para associar o tarifaço de Donald Trump à atuação da família Bolsonaro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) é visto como o principal culpado pela sobretaxa aplicada ao Brasil por 35% dos entrevistados na última pesquisa Datafolha.
O ex-presidente Jair Bolsonaro (22%) e seu filho Eduardo Bolsonaro (17%), que está nos EUA e faz lobby no governo Trump pelo endurecimento das medidas punitivas contra o Brasil, são o segundo e terceiro mais citados como principais responsáveis, respectivamente. Juntos, somam 39%.
Na pesquisa Datafolha, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes é visto como principal culpado pelo tarifaço por 15% dos entrevistados. Não sabem responder 7%, enquanto para 3% nenhuma das figuras listadas é responsável. Já 1% diz que todos --Lula, Bolsonaro, Eduardo e Moraes-- são culpados. O Datafolha realizou 2.002 entrevistas em 113 municípios entre os dias 11 e 12 de agosto. A margem de erro é de 2 pontos percentuais, para mais ou para menos, num nível de confiança de 95%.
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O Brasil entrou na mira de Trump com a imposição de uma sobretaxa de 50% sobre uma gama de produtos e por meio de sanções diretas a autoridades, entre elas o ministro do Supremo e, mais recentemente, técnicos que trabalharam na formulação do programa Mais Médicos.
A lista de queixas do republicano vai de uma suposta "caça às bruxas" contra Bolsonaro no julgamento por tentativa de golpe de Estado, passa pelos esforços de regulamentação das plataformas digitais e alcança um alegado tratamento injusto dado pelo Brasil a exportadores americanos.
Desde que Trump começou sua ofensiva contra o Brasil, Lula e outras autoridades no governo atribuem o tarifaço à ação, junto às autoridades americanas, de Eduardo e à defesa que Bolsonaro faz do republicano. Ministros e o presidente também trabalham para associar a família Bolsonaro e a oposição aos danos econômicos decorrentes do bloqueio do mercado americano.
Em julho, Lula realizou um discurso no qual tratou Bolsonaro e Eduardo como "traidores da pátria". "Ele [Bolsonaro] agora tem que ser tratado por nós como os traidores do século 20 e do século 21 da história desse país", disse na ocasião.
"Ele que tenha vergonha, se esconda da sua covardia e deixe esse país viver em paz. Porque eles não tiveram nenhuma preocupação com os prejuízos que essa taxação vai trazer ao povo brasileiro, que vai trazer à indústria, a agricultura, aos serviços, ao salário do povo, nenhuma preocupação".
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Quando Trump incluiu Moraes na Lei Magnitsky, Lula declarou que as sanções contra o magistrado eram motivadas pela "ação de políticos brasileiros que traem nossa pátria e nosso povo em defesa dos próprios interesses" --em outra referência a Bolsonaro e Eduardo.
Por outro lado, a oposição tem colocado o tarifaço na conta do que consideram falhas diplomáticas de Lula --que na campanha americana apoiou a adversária de Trump, Kamala Harris-- e nas decisões de Moraes contra bolsonaristas.
O Datafolha também mostrou que, na hora de apontar o culpado, a resposta sofre forte variação de acordo com o voto dado pelo entrevistado na eleição de 2022. Entre os que votaram em Lula, o índice dos que veem o petista como principal responsável cai para 11%. Dentro desse público, 38% indicam Bolsonaro como culpado e 35%, Eduardo.
Agências