A arquitetura corporativa deixou de ser apenas sobre conceitos e tendências, - o foco no negócio do cliente é primordial na construção de qualquer projeto na Lubianca Arquitetos. Com a entrada em São Paulo neste ano, a empresa passou a fazer parte da carteira de fornecedores da Rede Hilton para as linhas da marca na América Latina. Consolidada no mercado no Rio Grande do Sul, há 40 anos, diversifica e expande a sua atuação concentrada nos segmentos de varejo e hospitalidade. A arquiteta Ana Paula Lubianca usou a experiência que ganhou indo morar na cidade paulista, em 2005, para agregar as novas estratégicas de negócio no escritório da sua família. No ano passado, quando retornou como sócia, o escritório registrou aumento de 18% na captação de novos clientes de varejo. Ocupando o cargo de Head de conceito e jornada, costuma ficar com a pesquisa história a cada novo projeto. "Também analiso o que aquele local representa, o que as pessoas pensam sobre ele, qual as sensações que as pessoas buscam dentro daquele espaço, com isso, construímos o conceito inicial que será norteador projeto arquitetônico", diz ela, que conta mais detalhes na entrevista a segue.
Empresas & Negócios - O escritório sempre foi voltado para o atendimento corporativo ou é algo recente?
Ana Paula Lubianca - O escritório nasceu há 40 anos aproximadamente, com a minha mãe Arlene Lubianca. No início, o foco era a arquitetura de interiores, mas sem segmentação, e com o tempo foi se percebendo que precisava ter uma linha de atuação concreta. Naquela época, os arquitetos faziam de tudo - fomos um dos primeiros escritórios que trabalhavam com arquitetura de lojas, nem se falava em arquitetura de varejo. E depois, na década de 1990, a gente começou a entrar no mercado de arquitetura de hotéis.
E&N - Como foi a entrada no escritório de arquitetura?
Lubianca - Entrei no escritório em 1999, quando eu ainda estava na faculdade, me formei em 2001. Minha família é envolvida com o ramo: além da minha mãe ser arquiteta, meu pai é engenheiro civil. Então desde pequena eu ia nas obras, sempre participei. Com facilidade, entendia do que eles falavam. Naquele mesmo ano fizemos uma movimentação importante no escritório: começamos a trabalhar com um foco maior no business do cliente. O nosso projeto era resultado do que o cliente queria para o negócio dele. Um conceito de marca junto com o conceito do projeto arquitetônico. Neste período, que considero bem importante, a gente começou a atender clientes maiores. Participamos do reposicionamento da praia de Jurerê Internacional do grupo Habitasul, e também fizemos projetos para a Azaléia, que fez parte da padronização das lojas fora do Brasil. Com isso, começamos a alcançar clientes mais robustos e segmentados, focados no varejo.
E&N- E a ideia de ir morar em São Paulo?
Lubianca - Em 2004 conheci meu ex-marido, ele era paulista, então me mudei para a cidade. Naquela época, deixei a empresa porque a gente teve uma decisão societária que não haveria expansão naquele momento. Iríamos manter a empresa no estilo boutique, focada no Sul do País. Fui para São Paulo, vivi um período para a família. Após, retornei ao mercado de trabalho, com foco no corporativo, o que me trouxe uma base muito sólida, porque nesse período eu fiz todo o start da John John, que é uma empresa do grupo Restoque, então implantei 40 lojas para eles - depois, fui para a Nike, onde fiquei quase quatro anos. Peguei um período muito próspero para parte de varejo da empresa (um pouco antes da Copa do Mundo e um pouco depois da Olimpíadas), e participei de todo esse processo. Ainda trabalhei em projetos de empresas como Pepsico e Adidas como associada de outros escritórios.
E&N - E a experiência com a hotelaria?
Lubianca - Em 2018, fui chamada por uma multinacional chamada Selina, uma rede de hostels, para participar da parte de importação dos proprietários deles no Brasil. Fiquei dois anos e abri cinco hotéis.
E&N - Quando foi a hora de voltar para o escritório?
Lubianca - Quando veio a pandemia, achei que era o momento de retomar o negócio familiar. E já cheguei com a ideia de refazer o planejamento estratégico da empresa, com isso, retomei a sociedade e estabeleci efetivamente o ponto em São Paulo. Apesar de ter sido difícil o ano afetado pela pandemia, principalmente para os segmentos que atuamos, seguimos trabalhando. Inclusive tivemos um crescimento de 18% na captação de clientes voltado para o rollout de loja. No fim, acabamos fazendo 37 lojas do ano passado para cá.
E&N - Como aconteceram as negociações com a Rede Hilton de Hotéis?
Lubianca - Neste ano, consolidamos a entrada em São Paulo com a rede Hilton de Hotéis. Fiquei responsável por toda essa interface, pela experiência de já ter trabalhado em multinacional americana. Trabalhamos diretamente com os diretores que cuidam da parte de Caribe e América Latina, eles têm um escritório no Brasil que fica no Hilton Morumbi. Chegamos nesse projeto através do Intercity, com um projeto que tínhamos feito para o grupo que, depois, foi englobado pelo Hilton.
E&N- Com essas mudanças, o que o escritório agregou em atendimento, após todos esses anos de mercado?
Lubianca - Sempre consideramos que o nosso escritório tinha o foco no negócio do cliente, então há muito tempo a gente saiu daquele estereótipo do arquiteto que pensa em fazer o projeto somente bonito, fazemos uma análise bem profunda do business do cliente, da praça onde vai ser implantado, a jornada e o comportamento de consumo do cliente final. Temos profissionais como a responsável pelo marketing, a minha sócia que se especializou em neuromarketing, também estudei muito tempo a questão de conceito e jornada. Não são apenas conceitos de arquitetura, estão empregados conceitos de: Design Thinking, UX (User Experience), marketing, neuromarketing, para construir o projeto em concordância com as marcas.
E&N - Como é feita essa imersão, para entender o conceito de marca do cliente?
Lubianca - Antes de começar o projeto, temos uma etapa de captação, pesquisa e briefing. Com muita conversa. Quando temos oportunidade, conversamos também com os clientes dos nossos clientes. Isso antecede o início dos trabalhos de elaboração do projeto em si. A partir daí, vem o subsídio para começar a conceituar a operação. Costumo sempre entrar em uma parte que é da pesquisa histórica, o que representa aquele local, o que as pessoas pensam sobre ele, qual as sensações que as pessoas buscam dentro daquele espaço. Depois desses levantamentos temos o conceito inicial que vai dar o direcionamento do projeto arquitetônico.