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reportagem especial

- Publicada em 24 de Setembro de 2023 às 16:00

Cresce a aposta das empresas gaúchas na economia circular

Economia circular avança no varejo e na indústria do Estado

Economia circular avança no varejo e na indústria do Estado


freepik/divulgação/jc
Karen Viscardi, especial para o JC*
Karen Viscardi, especial para o JC*
Os princípios da economia circular ganham cada vez mais adeptos no mundo corporativo. Mais do que tendência, uma exigência de investidores e consumidores para evitar colocar em colapso a capacidade de recursos do planeta, que está no limite. No Rio Grande do Sul, as práticas vão desde logística reversa de produtos e embalagens, reutilização de insumos na indústria, redução e/ou substituição de fontes de energia e água, adoção de políticas de resíduo zero, entre outras.
A busca por sustentabilidade mobiliza empresas do varejo e da indústria, como Renner, Ramarim, Tramontina e Noca Móveis, e até um estádio de futebol: a Arena do Grêmio. Buscar soluções que envolvam a população e empresas é o objetivo do Cluster Ecoar. O Cluster para Ecossistemas Circulares e de Inovação reúne universidade, institutos de pesquisa e tecnologia, startups, poder público e entidades empresariais para implementar a rastreabilidade dos produtos de consumo diário e suas embalagens em Porto Alegre.

Os chamados 3Rs: reuso, remanufatura, reciclagem, ganham cada vez mais adeptos, seja entre os consumidores ou entre as companhias que apostam nas ações com foco em sustentabilidade

Os chamados 3Rs: reuso, remanufatura, reciclagem, ganham cada vez mais adeptos, seja entre os consumidores ou entre as companhias que apostam nas ações com foco em sustentabilidade


rawpixel/freepik/divulgação/jc
Reduzir, reutilizar e reciclar. Os 3R atrelados ao conceito de economia circular estão se disseminando na cultura das empresas gaúchas, especialmente das grandes corporações. Por um lado, investidores vêm exigindo boas práticas em gestão ambiental, social e de governança como forma de aumentar a lucratividade, reduzir riscos e manter a imagem da empresa. De outro, cada vez mais os consumidores levam em conta questões como sustentabilidade, ética e tudo o que envolve o social e o ambiental. Pesquisa Retratos da Sociedade: hábitos sustentáveis e consumo consciente, realizada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) em 2022, mostra que 50% dos consumidores verificam se o produto foi produzido de forma ambientalmente sustentável, enquanto em 2019 esse percentual ficava em 38%.
Pioneira no varejo brasileiro no modelo de loja circular, a Lojas Renner inaugurou sua primeira unidade há dois anos, no Rio de Janeiro. E, a partir de 2023, todas as unidades abertas ou reformadas da rede seguem os princípios da circularidade. "A Lojas Renner possui uma trajetória longa e sólida em ESG e tem a sustentabilidade como um valor corporativo", diz Fabiana Taccola, diretora de Operações da Lojas Renner. Tudo é integrado, desde a escolha das matérias-primas e o desenvolvimento dos produtos até o ambiente de loja e o pós-consumo.
Na Tramontina, uma das iniciativas na lógica da circularidade é a logística reversa, que já tirou do mercado mais de 1,5 tonelada de produtos pós-consumo. Segundo Lizandra Marin, gerente do Núcleo de Sustentabilidade da empresa, a busca de soluções é contínua, com investimentos em tecnologias limpas, reciclagem e reaproveitamento de materiais, redução na geração de resíduos e efluentes, além de avanços na circularidade a partir do reuso, entre outras práticas.
A preocupação com a pegada ambiental também é realidade no Grupo Ramarim. As práticas de gestão ambiental, social, cultural, ambiental e de sustentabilidade da empresa renderam o reconhecimento do selo Origem Sustentável (Diamante), concedido por entidades da cadeia calçadista. Essa conquista não veio à toa. Há dez anos, a fabricante de calçados femininos começou a trabalhar com o conceito de economia circular, com a reutilização das sobras de borracha.
Mas não é só nas grandes empresas que a transição para a economia circular está presente. Pequenos e médios negócios, mesmo que em menor ímpeto, vem aderindo às práticas de sustentabilidade como forma de se diferenciar no mercado, atender às exigências de clientes e ter acesso a crédito. "Há uma questão muito forte entre os pequenos e médios, estes empresários são mais atrelados a propósito", destaca Sérgio Finger, CEO da Trashin, empresa de gestão de resíduos e logística reversa.

Falta de regulação no Brasil é um dos gargalos a ser vencido

Cluster Ecoar é uma iniciativa da Hélice Consultoria da Ufrgs que busca, entre outras coisas, rastrear embalagens

Cluster Ecoar é uma iniciativa da Hélice Consultoria da Ufrgs que busca, entre outras coisas, rastrear embalagens


Cluster Ecoar/divulgação/jc
Apesar das iniciativas relevantes, os exemplos de adoção dos princípios da economia circular ainda são isolados. O professor Fabian Scholze Domingues, do Departamento de Economia e Relações Internacionais da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), credita a falta de um engajamento maior à falta de regulação no País, entre outros fatores. "O neoliberalismo é incompatível com uma economia circular séria porque nos países onde funciona, o setor é altamente regulado. Não existe economia circular sem legislação, é preciso aplicar multa em caso de descumprimento e instituir políticas públicas coerentes", critica Domingues.
No Cluster Ecoar, iniciativa da Hélice Consultoria da Ufrgs, que visa agregar valor aos resíduos sólidos urbanos e implementar a rastreabilidade dos materiais para uma cadeia de embalagens com menor impacto ambiental, a legislação é um dos aspectos estudados. "Estamos analisando políticas federais, tentando entender como interferem nessas dinâmicas, qual o papel do Estado no âmbito da logística reversa e estimular a regulamentação no Rio Grande do Sul. Por fim, tentando compreender como os municípios se inserem nessa discussão, especialmente no debate da coleta do resíduo seletivo domiciliar", explica Annelise Steigleder, promotora de Justiça do Ministério Público do Rio Grande do Sul (MPRS) e integrante do Cluster Ecoar.
Com contribuição e expertise de universidades, institutos de pesquisa e tecnologia, startups, representantes de empresas e do poder público, o Ecoar é uma união de experiências e saberes com objetivo de eliminar ou reduzir o descarte e a consequente destinação para aterros sanitários. A tarefa é desafiadora, pela mistura de lixo orgânico com material reciclado. "Para ampliar os índices de reciclagem e reduzir o rejeito é preciso melhorar a seletividade doméstica e das empresas", explica o secretário de Desenvolvimento Social de Porto Alegre (SMDS), Léo Voigt, que também participa do cluster.
A constatação do titular da SMDS pode ser comprovada ao examinarmos a forma como as pessoas descartam lixo. Segundo levantamento de 2022 da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais, na região Sul do Brasil as áreas de disposição inadequada, incluindo lixões e aterros controlados no Sul, receberam 28,4% do total de resíduos coletados. No país, o índice ficou em 39% do total coletado, alcançando um total de 29,7 milhões de toneladas com destinação inadequada.
Sem o devido reaproveitamento, mais recursos são retirados da natureza. Vale lembrar que para atender o atual padrão de consumo da humanidade seria necessário 1,7 planeta Terra, segundo a organização não governamental (ONG) Footprint Network. Neste ano, 2 de agosto foi o dia da sobrecarga do planeta terra, data do ano em que a demanda por recursos naturais supera a capacidade da Terra de produzir ou renovar esses recursos ao longo de 365 dias.
De acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), para habitação, alimentação, transporte e vestuário, são consumidos cerca de 100 bilhões de toneladas de materiais por ano para atender uma população mundial de 8 bilhões de pessoas. Até 2050, espera-se que a extração e utilização de materiais duplicará em relação a 2015. Este aumento pode gerar um colapso dos sistemas de suporte à vida da Terra, que já estão em ponto de ruptura.
A pesquisa Cicle Economy, da Deloitte, traz uma informação preocupante em nível mundial. A utilização de insumos circulares encolheu de 9,1% para 7,2% do total usado do planeta. Está mais do que na hora de o Brasil - suas empresas e sua população - ajudar a reverter essa tendência.

Princípios da economia circular

  • Projetar para evitar resíduo no final do ciclo.
  • Estender ao máximo a vida útil dos produtos, de forma a ser possível separar o sistema técnico do biológico. Projetar para não estragar ou demorar a estragar. E, se gerar resíduo, que seja permitido o chamado 3Rs: reuso, remanufatura, reciclagem.
  • Usar energia renovável em todos os processos, evitando ao máximo externalidades negativas, que impactem o meio ambiente.
  • Fonte: Professora de Engenharia de Produção da Ufrgs Istefani Carisio de Paula, coordenadora-geral do Cluster Ecoar

Como adotar princípios da economia circular na empresa

  • Identifique oportunidades de economia circular em sua cadeia de suprimentos, incluindo a utilização de materiais reciclados, a redução do uso de recursos naturais e a implementação de processos de produção mais eficientes.
  • Projete produtos e embalagens duráveis e facilmente recicláveis, bem como ofereça serviços de reparo, remanufatura e reutilização.
  • Considere a possibilidade de oferecer serviços de compartilhamento de recursos, como veículos, equipamentos ou espaços de trabalho, para maximizar a utilização dos ativos.
  • Forme parcerias com outras empresas, organizações e governos para colaborar na implantação da economia circular, incluindo a identificação de oportunidades e a criação de programas e iniciativas.
  • Invista em tecnologias que apoiem a economia circular, como a reciclagem avançada e a remanufatura.
  • Engaje seus públicos, incluindo funcionários, fornecedores, clientes e a comunidade em geral, em seus esforços para a economia circular.
Fonte: Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae)

Lojas Renner tem metas ambiciosas de sustentabilidade

Rede varejista é pioneira no Brasil em adotar os atributos de circularidade, e deve expandi-los a todas as lojas

Rede varejista é pioneira no Brasil em adotar os atributos de circularidade, e deve expandi-los a todas as lojas


TÂNIA MEINERZ/JC
Pioneira no varejo brasileiro ao implantar a primeira loja baseada em atributos de circularidade em 2021 no Rio de Janeiro, a Lojas Renner adotou o modelo para todas as unidades inauguradas ou remodeladas a partir deste ano. As mais recentes foram reformadas e entregues em agosto em Canela e no Shopping Iguatemi, em Porto Alegre. Outras duas novas unidades devem ser inauguradas neste formato ainda neste ano no Rio Grande do Sul: em Taquara e em Montenegro.
Nas filiais da Serra e da Capital, as soluções de arquitetura permitiram ganhos econômicos e ambientais. Os projetos foram desenvolvidos para utilizar um menor volume de materiais de construção, reutilizar insumos, descartar adequadamente e diminuir resíduos. Para se ter uma ideia, no mobiliário, o volume de MDF foi 40% menor e, nas operações, o consumo de água caiu 58%. "Nosso conceito de loja circular está alinhado aos compromissos públicos de sustentabilidade da companhia. Temos metas para acelerar o desenvolvimento de processos ambientalmente responsáveis nos nossos produtos e modelos de negócio", explica Fabiana Taccola, diretora de Operações da Lojas Renner.
A proposta pode ser percebida pelos consumidores nas lojas e nos produtos. As roupas com matérias-primas e processos mais sustentáveis representam hoje mais de 80% do total da marca e, até 2030, a meta é alcançar 100%. Um exemplo são as peças identificadas pelo selo Re - Moda Responsável, que utilizam algodão certificado ou menor consumo de água na confecção.
A aplicação das diretrizes de circularidade nos pontos de venda traz como resultado a redução de emissões de CO2. A prática, ressalta a executiva, não se restringe às lojas. As metas do primeiro ciclo de compromissos públicos de sustentabilidade, concluído em 2021, foram superadas. Houve redução de 35,4% nas emissões corporativas absolutas de CO2 frente ao inventário de 2017. Outro dado é que 100% do consumo corporativo de energia foi gerado a partir de fontes renováveis de baixo impacto (solar, eólica e pequenas centrais hidrelétricas).
No ciclo de compromissos públicos até 2030, a Lojas Renner S.A. está desenvolvendo uma série de ações para acelerar a transição para uma economia de baixo carbono em seus negócios. O objetivo é criar as condições para levar a companhia à neutralidade climática (Net Zero) em 2050. O compromisso é validado internacionalmente. Pelo sexto ano consecutivo, a varejista integra o S&P Global Sustainability Yearbook 2023, guia que reúne as empresas de capital aberto com as melhores práticas sustentáveis no mundo e que é elaborado pela agência Standard and Poor's.

Ramarim inova com a reutilização de insumos não convencionais

Solventes, tintas e EVAs de entressola são alguns dos itens reciclados

Solventes, tintas e EVAs de entressola são alguns dos itens reciclados


Ramarim/divulgação/jc
O Grupo Ramarim, fabricante de calçados femininos com sede em Nova Hartz, começou há dez anos a trabalhar com conceitos da economia circular a partir da reutilização dos resíduos de borracha. Atualmente, cerca de 60% a 70% do insumo retorna para a linha de produção.
A empresa também passou a reutilizar solventes e tintas, reduzindo em quase 60% o consumo destes itens, e a reciclar embalagens de adesivos, EVAs de entressola, entre outros materiais.
Hoje, o Grupo compra crédito de carbono, mas já está no planejamento zerar as emissões até 2030. Segundo Rodrigo de Oliveira, diretor de Inovação e Tecnologia do Grupo Ramarim, o maior desafio em zerar as emissões é no transporte.
O objetivo é avançar na agenda ambiental e garantir a manutenção da certificação no nível máximo do selo Origem Sustentável (Diamante), que avalia a gestão econômica, social, cultural, ambiental e de sustentabilidade da empresa. O selo foi embasado nas normas internacionais de ESG (Governança ambiental, social e corporativa) e foi desenvolvido pela Associação Brasileira de Empresas de Componentes para Couro, Calçados e Artefatos (Assintecal) e pela Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados), em parceria com o Laboratório de Sustentabilidade (Lassu) da Universidade de São Paulo (USP) e do Massachusetts Institute of Technology (MIT).
Atualmente, a empresa destina 100% dos resíduos de produção para reciclagem ou reaproveitamento, sendo que 52% são transformados em energia e 48% reciclados ou reaproveitados no processo fabril. Para conquistar a certificação, houve uma avaliação interna que definiu a poluição do ar e a geração de resíduos como temas de casa. No trabalho de identificação de geração de carbono, a empresa mediu o consumo de gás e ar condicionado, foi revisada a frota, entre outros.
"Trabalhamos para manter o selo, a parte de ESG nos exige uma planificação. Temos um gerenciador de investimentos e toda documentação referente a vários aspectos, como redução do consumo de água e de emissão de carbono e a reutilização de resíduos", explica Oliveira. O avanço da Ramarim na agenda ambiental passou pela qualificação de 100% dos funcionários. Os treinamentos voltados para ESG se intensificaram nos últimos anos estimulados pelo projeto de certificação do selo de Origem Sustentável. Os colaboradores têm acesso a informações em cursos, cartazes e informativos por telão. Hoje, há coleta seletiva de lixo em todos os setores da empresa.
No consumo de energia, a Ramarim está inserida no mercado livre e busca comprar de fontes renováveis, especialmente eólicas. Também está em estudo a produção de energia fotovoltaica. O plano é executar até 2030. "Queremos começar e entender como vai funcionar, até para fazer um investimento acertado", detalha o diretor. E, até 2026, pretende aproveitar 100% da água da chuva captada nas dependências da empresa para uso em limpeza, descargas etc.

Tramontina vende produtos novos e coleta usados

No Rio Grande do Sul, são três postos de coleta nas cidades de Porto Alegre, Carlos Barbosa e Farroupilha

No Rio Grande do Sul, são três postos de coleta nas cidades de Porto Alegre, Carlos Barbosa e Farroupilha


Tramontina/divulgação/jc
Quem tiver produtos Tramontina em casa e quiser dar a destinação correta, pode descartar nas lojas oficiais da marca. Presente em todas as lojas oficiais (T stores) no Brasil, a logística reversa estimula a circularidade dos materiais. Os pontos de coleta recebem, além dos itens da marca, suas embalagens, eletroeletrônicos, pilhas e baterias. O programa já tirou do mercado mais de 1,5 tonelada de produtos pós-consumo.
No Rio Grande do Sul, são três pontos de coleta: T store do Barra Shopping Sul, em Porto Alegre, e outros dois nas T factory stores de Carlos Barbosa e Farroupilha. E, em breve, a nova loja do Shopping Iguatemi, na Capital. No total, são 20 unidades no país. Em paralelo ao recolhimento de produtos nas lojas próprias, a Tramontina conta com a rede de 3,5 mil lojas para arrecadação, integrantes da Associação Brasileira de Reciclagem de Eletroeletrônicos e Eletrodomésticos (ABREE).
A logística reversa, cujo piloto foi em 2022, faz parte do projeto Tramontina Transforma, ação de sustentabilidade da marca, que reúne também iniciativas de gestão ambiental.
No ano anterior, foi instituído o Comitê ESG, responsável por debater e sugerir projetos e ações que envolvam as áreas de impactos ambiental, social e econômico. Segundo Lizandra Marin, gerente do Núcleo de Sustentabilidade da empresa, o projeto Transforma está consolidado e tem avançado cada vez mais.
"Estamos sempre buscando o aprimoramento de nossos processos internos, no desenvolvimento de produtos e embalagens mais sustentáveis e na conscientização dos stakeholders da relevância da responsabilidade ambiental, diz. A gerente detalha que a empresa fomenta a circularidade e trabalha para que os avanços andem junto com os atributos de qualidade e durabilidade reconhecidos nos produtos da marca.
Além da iniciativa voltada ao consumidor final, a Tramontina mantém parceria com a Eureciclo, certificadora de logística reversa de resíduos sólidos que realiza a compensação de embalagens, garantindo a reciclagem de massa equivalente desses resíduos que vão para as casas dos consumidores brasileiros. Os pneus também estão inseridos na logística reversa, seja por meio da rede de assistências técnicas ou junto à Usina de Tratamento Ecológico de Pneus (UTEP), empresa que operacionaliza o retorno desses materiais.
 

Logística reversa é aposta da Noca Móveis para crescer no mercado doméstico

Fabricante deu início ao projeto em 2016, com estudos para reutilização da tecnologia polyvinyl

Fabricante deu início ao projeto em 2016, com estudos para reutilização da tecnologia polyvinyl


Noca/divulgação/jc
A Noca Móveis, do Grupo Sierra, investe em logística reversa e mira os mercados doméstico e corporativo. O projeto começou em 2016, com estudos para utilização da tecnologia polyvinyl, o conhecido PVC, que é revestido e com aparência de madeira. "Trazemos todos os benefícios do PVC para dentro do nosso negócio. Trabalhamos o conceito de economia circular de forma efetiva. Não perdemos nada do processo, insumos como aparas, refugos e sobras são reaproveitados. Se porventura o cliente quiser trocar o mobiliário, garantimos a recompra", explica Carlos Dal Vesco, gestor comercial da Noca.
É uma estratégia de marketing, mas também social, garante o executivo. Isso porque o material volta para a fábrica em Gramado ou, se for distante geograficamente, vai para recicladores. A Noca também conta com o programa de recompra, gerando um voucher equivalente ao peso do item entregue para aquisição de outro. Segundo a empresa, 70% dos móveis de polyvinyl duram entre 15 e cem anos. Outros 22%, entre dois anos e 15 anos. Apenas 8% são considerados descartáveis, com durabilidade de até dois anos.
Além da reciclagem do PVC dentro na linha de produção, o gestor da Noca explica que a própria produção de PVC é de baixo impacto, uma vez que 60% do material é composto por cloreto de sódio e o restante provém do eteno da cana de açúcar. "Nossos produtos são fabricados com baixíssimo índice de consumo de energia, muito menos do que o substrato do MDF, todo refugo é reutilizado, não há cola no processo ou são a base d'água. Com tudo isso, o risco ao meio ambiente é bem menor", diz Dal Vesco.
São móveis para cozinha, lavanderia, banheiro, closet, quarto e sala, além de linhas para ambientes corporativos, como hotéis, restaurantes e hospitais. A Noca está em processo de validação e certificação dos móveis Nova junto à Anvisa e outras autarquias que trabalham com certificação para hospitais e restaurantes. "A bandeira da sustentabilidade da Noca é central, inclusive o nome vem de Nossa Casa, e temos de cuidar bem do que é nosso", afirma Dal Vesco. A fábrica conta com mais de 15 lojas próprias no país, número que deve chegar a 20 até o final do ano. A base do projeto é o Brasil, mas já houve interesse de um investidor para abrir unidade nos EUA, a primeira no exterior.

Cluster Ecoar vai rastrear o ciclo de embalagens para reduzir resíduos na Capital

Objetivo é diminuir a geração e o descarte de resíduos nas residências; primeira etapa de diagnóstico sobre os dejetos sólidos já foi concluída

Objetivo é diminuir a geração e o descarte de resíduos nas residências; primeira etapa de diagnóstico sobre os dejetos sólidos já foi concluída


freepik/divulgação/jc
Universidade, institutos de pesquisa e tecnologia, startups, poder público e entidades empresariais trabalham em conjunto para implementar a rastreabilidade dos produtos de consumo diário e suas embalagens em Porto Alegre - da produção até a destinação final. Denominado Cluster Ecoar (Cluster para Ecossistemas Circulares e de Inovação), o projeto começou em 2022 e terá duração de três anos.
A iniciativa é da Hélice Consultoria, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), e conta com recursos de R$ 2,63 milhões da Fundação de Amparo à Pesquisa do Rio Grande do Sul (Fapergs).
O objetivo é diminuir a geração e descarte de resíduos das residências, detalha a professora de Engenharia de Produção da Ufrgs Istefani Carisio de Paula, coordenadora-geral do projeto.
"Vamos tentar remover o resíduo que hoje não tem serventia e que inclusive gera impacto indo para um aterro. Para isso é necessário um cluster porque o projeto de economia circular é sistêmico. Não tem como atuar em um ponto ou regiões específicas, é preciso enxergar o todo e construir de forma sistêmica, e isso pressupõe expertises diferentes", afirma Istefani.
A primeira etapa, de diagnóstico sobre resíduo sólido em Porto Alegre, já foi concluída. Nesta fase, foram realizados estudos nas áreas políticas públicas (União, Estado e Município), em domicílios, além de pesquisas e entrevistas com indústrias locais e de fora do Estado, empresas de gestão de resíduos, cooperativas e três grandes redes de supermercados.
Os resultados mostraram novos atores na cadeia de relações. "Começamos a entender a complexidade dos processos. Descobrimos, por exemplo, que os supermercados contratam empresas terceirizadas para fazerem a gestão de resíduos", detalha a pós-doutoranda em Engenharia de Produção na Ufrgs Ghissia Hauser, responsável pela parte de governança do Cluster Ecoar. Além disso, na coleta, foram identificados três nichos de coleta reciclável. A coleta seletiva oficial, o catador que retira o que é aproveitável e um terceiro, que muitas vezes combina com o zelador a entrega dos resíduos recicláveis de determinado edifício.
A partir da conclusão do diagnóstico, a equipe se prepara para a próxima etapa: o desenvolvimento de uma ferramenta piloto capaz de gerenciar os dados de rastreamento das embalagens durante todas as etapas do ciclo. A meta é agregar valor e engajar todos os envolvidos na cadeia.

Projeto pode impactar na legislação e em políticas públicas

O projeto de rastreabilidade deve gerar necessidade de mudanças na legislação e a instituição de novas políticas públicas. "Quando se consegue identificar resíduos com potencial de reciclagem, se começa a pensar quais estratégias e políticas são necessárias para que este resíduo do pós-consumo volte de alguma forma para a indústria", explica Annelise Steigleder, promotora de Justiça do Ministério Público do Rio Grande do Sul (MPRS) e integrante do Ecoar.
Está em discussão no cluster, por exemplo, uma legislação federal para que as empresas invistam no retorno real dos resíduos. "Também estamos analisando os tipos de resíduos e o que funciona. Enquanto latas de alumínio são valorizadas, materiais como vidro, muitas vezes não são recolhidos porque não tem recicladora próxima, dependendo da região do Rio Grande do Sul, e o custo de transporte é muito alto", conta Annelise.
O Ecoar também está identificando as dificuldades para depois buscar alternativas de reinserção dos rejeitos que hoje não têm compradores. "O que impede? São empecilhos tecnológicos, tributários, logísticos?", questiona a promotora. Segundo Annelise, o trabalho do cluster tem uma relação direta com a sustentabilidade das cidades, que geram muitíssimos resíduos, e com políticas públicas multinível.
Também integrante do Cluster, o titular da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social de Porto Alegre (SMDS), Léo Voigt, destaca que a prefeitura se soma aos esforços de todas as entidades para identificar, descrever e consolidar o descarte do pós consumo. "A partir desta análise, a ideia é elaborar uma proposta de política de reciclagem, aperfeiçoando o sistema de destinação, elevando os volumes de materiais resgatados no pós-consumo", afirma Voigt.
O diretor de Empreendedorismo Social da SMDS, João Dornelles Freire, reforça o papel da secretaria no projeto interdisciplinar e cita projeto da prefeitura para qualificar a gestão e produção, que contará com recursos do BID e do Banco Mundial, e que está em fase de elaboração. São quatro eixos: capacitação de pessoas; redesenho dos processos produtivos; revisão da cadeia de valor em parceria com o DMLU; e melhoria de infraestrutura, com reforma de nove unidades de triagem.

Como os produtos chegam da indústria e como são descartados em Porto Alegre

Produtos: embalagem + produto
Resíduos pré-consumo: quebra de produtos, produtos descartados antes do consumo
Resíduos pós-consumo: embalagens descartadas pelo consumidor
Recuperação: recuperação dos materiais da embalagem
Rejeito: materiais que não podem ser reaproveitados

Poder público
Indústria de matéria-prima virgem
Indústria de embalagens
Indústria envasadora dona da marca
Varejistas
Consumidor/Domicílios
DMLU
Catadores individuais
Catadores paralelos
Gestor de resíduos
Cooperativas
Aterro
Indústria de reciclagem
Outras indústrias

Arena transforma poda do gramado em adubo e recicla materiais

Processo começou há dez anos, com a criação do Plano de Gerenciamento de Resíduos Sólidos no estádio gremista

Processo começou há dez anos, com a criação do Plano de Gerenciamento de Resíduos Sólidos no estádio gremista


Isabela Albornoz/divulgação/jc
Grama que vira adubo, lixo que vai para a reciclagem. A Arena do Grêmio vem reduzindo o impacto ambiental por meio da conscientização das equipes, instalação e sinalização de lixeiras categorizadas para os torcedores em dias de jogos. O lodo que se acumula no fosso é retirado anualmente e hoje tem destinação correta. O processo começou há dez anos, com a criação do Plano de Gerenciamento de Resíduos Sólidos. Em 2022, ganhou novo fôlego na parceria com a Trashin, que atua na área de gestão de resíduos e logística reversa. Desde maio do ano passado, a Arena tem o Selo T - Carbono Neutro, que compensa as emissões de carbono.
Para medir a eficiência dos processos, os descartes são quantificados. Em pouco mais de um ano, foram descartadas 68,3 toneladas. Do total, 38,3 toneladas foram para triagem e reciclagem, ou seja, mais de 55% de aproveitamento. A poda da grama vai para compostagem e depois é utilizada na horticultura. Só não é reutilizada no gramado porque deixa escorregadio, explica Francine Saraiva, analista de Facilities da Arena do Grêmio.
"Tentamos fazer o máximo de reciclagem possível. Só não é maior por causa da segregação na origem, com mistura de materiais, como os resíduos que ficam no chão ao final das partidas", conta.
A natureza da atividade do estádio é desafiadora. Durante a maior parte do tempo há uma baixa utilização dos espaços, com presença apenas das equipes do escritório, lojas e manutenção. Já em dias de jogos pode ultrapassar 50 mil pessoas por um período de quatro horas. "Temos de relembrar as pessoas sobre a destinação correta, ajustar processos. Muitos não sabem o que pode e o que não pode ser reaproveitado", conta Francine, que é engenheira agrônoma.
Para engajar o público interno, a Trashin realiza cursos de conscientização e sensibilização. Nos jogos, vídeos explicativos chamam a atenção dos torcedores, que têm disponíveis lixeiras separadas por categoria. Todas as ações estão em sintonia com os preceitos da economia circular, os chamados 3R: reduzir, reciclar e reutilizar. A meta, explica Francine, é reduzir ao máximo o impacto ambiental.
Segundo Sérgio Finger, CEO da Trashin, a solução da Arena foi completa. "Eles se preocuparam com todos os materiais, não só recicláveis, mas também a destinação dos rejeitos", diz Finger. No caso do lodo, o desafio foi encontrar uma solução com custo menor de destinação e que fosse adequado. Hoje, o lodo vai para uma unidade próxima para passar por processo de secagem e depois vai para compostagem. "Falamos em economia circular e local, sempre buscamos o parceiro mais próximo possível do gerador para ter menor custo logístico e menor emissão de gases de efeito estufa", esclarece o CEO da Trashin.
A redução ou eliminação de resíduos se dará por meio da inovação, com utilização de tecnologias avançadas na logística reversa, acredita o CEO da Trashin, Sérgio Finge. "Investir em pesquisa e desenvolvimento nessa área pode revolucionar a gestão de resíduos, permitindo-nos encontrar métodos mais eficientes de reciclagem e reutilização de materiais", afirma Finger.
A abordagem está alinhada ao conceito de economia circular, que busca maximizar o valor dos recursos renováveis e recicláveis, inclusive reutilizar materiais descartados na indústria. Na logística reversa, a Trashin tem como parceiras marcas como Havaianas, Nike, L'Occitane e iFood. Assim, produtos descartados são transformados em novos itens. Na Havaianas, por exemplo, as sandálias são utilizadas para confeccionar tapetes ecológicos destinados a projetos sociais e esportivos.
"É necessário que gestores se comprometam a colocar em prática ações que garantam um futuro mais sustentável por meio da gestão de resíduos, seja por iniciativa própria ou via contratação de parceiros especializados que tenham know-how para implementar projetos de forma a poupar tempo e dinheiro", reforça o empresário.

Números da Arena

Resíduos reaproveitados
  • 38.3 toneladas
Plástico
  • 14.913,6 kg - jogo de futebol
Papel
  • 14.142 kg - jogo de futebol
Metal
  • 6.586,5 kg
Vidro
  • 2.641,1 kg
Grama coletada
  • 252m³
Impacto financeiro
  • R$ 59.567,04 para os profissionais que realizam a coleta e triagem dos resíduos
Frequentadores da Arena:
2022: 615.869 pessoas
Até 01/08/2023: 712.599 pessoas
Fonte: Arena do Grêmio e Trashin
 

*Karen Viscardi é formada em Jornalismo pela Pontifícia Universidade Católica (Pucrs). Atuou como editora no Jornal Zero Hora, e como editora e repórter no Jornal do Comércio.