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Publicada em 18 de Maio de 2025 às 16:00

Da roça à indústria: os 150 anos da imigração italiana no Rio Grande do Sul

Italianos que chegaram ao Estado percorreram uma trajetória marcada por trabalho, superação e empreendedorismo, legado que permanece até hoje

Italianos que chegaram ao Estado percorreram uma trajetória marcada por trabalho, superação e empreendedorismo, legado que permanece até hoje

Cristiano Lemos/Prefeitura Municipal de Farroupilha/JC
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Roberto Hunoff
Roberto Hunoff Jornalista
Especial para o JC*
Especial para o JC*
Nesta terça-feira, 20 de maio, o Rio Grande do Sul celebra um século e meio da chegada das primeiras famílias de imigrantes italianos, marco histórico ocorrido na localidade de Nova Milano, em Farroupilha. Vindos da região de Milão, os primeiros colonos encontraram terras inexploradas e deram início a uma trajetória marcada por trabalho, superação e empreendedorismo. Entre 1875 e 1914, cerca de 84 mil italianos chegaram ao estado, impulsionando o desenvolvimento econômico da Serra Gaúcha com saberes trazidos da Europa. A diversificação das atividades, do comércio à criação de indústrias e o espírito cooperativista deixaram um legado que ainda hoje se reflete em setores-chave da economia, como o vitivinícola, moveleiro e metalúrgico.

O saber fazer do imigrante italiano forjou a economia da Serra Gaúcha

Imigrantes italianos desembarcaram no Estado, tendo como berço a localidade de Nova Milano, em Farroupilha

Imigrantes italianos desembarcaram no Estado, tendo como berço a localidade de Nova Milano, em Farroupilha

Domingos Mancuso/ Acervo Museu Municipal de Caxias do Sul/JC
Esta terça-feira, 20 de maio, marca os 150 anos da chegada das primeiras famílias de imigrantes italianos ao Rio Grande do Sul, tendo como berço a cidade de Farroupilha, especificamente a localidade de Nova Milano. As famílias de Stefano Crippa, Tomazo Radaelli e Luigi Sperafico, vindas de Milão, encontraram terras devolutas e praticamente inexploradas da região, com grande quantidade de matas virgens e indígenas.
O primeiro ciclo migratório ocorreu entre 1875 e 1914, trazendo ao estado cerca de 84 mil pessoas, que deixaram a Lombardia, o Vêneto e o Tirol em busca de oportunidades e fugindo das tensões que culminaram na Primeira Guerra Mundial. O ápice da imigração foi entre 1884 e 1894, com a chegada de 60 mil italianos, que ajudaram a forjar o estado.
Com parcos recursos financeiros e o quase inexistente apoio do poder público, as famílias superaram os desafios, colocando em prática conhecimentos que obtiveram nas suas origens. De acordo com a professora e pesquisadora Vânia Merlotti Herédia, o processo de desenvolvimento econômico da região até os anos 1930 foi pautado pelas indústrias naturais, principalmente as que tinham referência com a subsistência.
"O objetivo do governo era criar uma colonização agrícola. Deu certo porque os imigrantes, além de camponeses, tinham experiência em outros ofícios específicos, como alimentos, bebidas, tecidos e produção de equipamentos agrícolas. Inicialmente atendiam as necessidades das colônias e depois as do mercado", assinala.

Documentos históricos revelam a trajetória de empreendedorismo nas mais diversas atividades econômicas | Prefeitura Municipal de Farroupilha/JC
Documentos históricos revelam a trajetória de empreendedorismo nas mais diversas atividades econômicas Prefeitura Municipal de Farroupilha/JC

A professora também destaca a capacidade dos imigrantes e seus primeiros descendentes de diversificarem as atividades, atuando também em vinícolas e olarias, dentre outras, e de buscarem novos mercados, não ficando dependentes dos alemães que ocupavam o Vale dos Sinos. "Eles iam para São Paulo negociar diretamente com o mercado. Estes fatores unidos ajudaram no crescimento", explica.
Segundo a pesquisadora, os primeiros 25 anos estiveram muito ligados à agricultura, iniciando com a atividade extrativa e posterior plantios das principais culturas. As etapas posteriores seguiram o desenvolvimento clássico com o comércio, pequena oficina, grande indústria e serviços. "A diversificação industrial é uma característica muito presente, especialmente em Caxias do Sul", reforça.
A utilização da madeira, tanto nos parreirais apoiados em cepos como no vime que amarrava a videira à estrutura, assim como servia aos teares cuja produção agasalhava as famílias, teve papel fundamental na estruturação de uma matriz econômica, que crescia na primeira década do novo século. A importância da atividade extrativa se mostra evidente com dados de Caxias do Sul. Entre 1894 e 1909, o número de serrarias passou de 28 para 50.
Além do empreendedorismo, ela registra o pioneirismo dos imigrantes, com o desenvolvimento de produtos para resolver os problemas da comunidade. Cita a empresa De Antoni, em 1894, primeira fábrica de trilhadeiras do Brasil, e usadas no beneficiamento de arroz, trigo, cevada, aveia e cereais. Em 1891, Aristides Germani deu origem ao Moinho Ítalo Brasileiro, tornando-se, posteriormente, um ícone nacional no segmento de trigo. Em 1896, Abramo Eberle assumiu uma funilaria, adquirida pelo pai Giuseppe e administrada pela mãe Luigia Zanrosso, e a transformou em uma poderosa indústria metalúrgica conhecida no Brasil e exterior. A Cooperativa Vitivinícola Forqueta, fundada em 1929, foi o primeiro estabelecimento do seu gênero implantado na América Latina.
As casas de comércio também recebiam a produção agrícola, que era estocada e revendida em épocas vantajosas, dando pequenos juros aos produtores. A acumulação gerada permitiu a diversificação da aplicação: dos produtos hortifrutigranjeiros, as inversões passaram para o vinho e depois para a indústria. Vânia Herédia destaca que os imigrantes tinham um senso de poupança muito forte, fazendo com que o comércio operasse com baixos estoques, ainda assim com grande variedade de itens, e atendendo, muitas vezes, o consumo por demanda. Fator determinante para a evolução econômica da região foi a chegada da ferrovia, em 1910, que permitiu o estabelecimento direto de comercialização com o comércio de Porto Alegre, sem a intermediação dos comerciantes das colônias alemãs dos vales.
A também professora e economista Mônica Mattia reforça a tese de que os imigrantes trouxeram consigo o "saber fazer", pois a Itália já vivia os processos inovadores da Primeira Revolução Industrial em suas empresas. Razão, segunda ela, para que na região os setores produtivos, como alimentação, têxtil, metalúrgico, moveleiro e vinícola, sejam tão representativos na economia.
Recorda que, inicialmente, eram pequenas oficinas manuais que se ampliaram e evoluíram com a industrialização do Brasil, iniciada na década de 1930 após a Grande Depressão dos Estados Unidos e Europa, e intensificada com o período de desenvolvimento da década de 1970. "A região foi fortemente influenciada pelos movimentos nacionais de industrialização e modernização dos processos produtivos", observa.
Outro ponto destacado pela economista é o cooperativismo, que possibilitou à área rural potencializar o setor do agro e influenciar as indústrias do trigo, vinícola e do leite. Acrescenta ainda a integração entre os ítalo-brasileiros e os italianos residentes na Itália, cujas viagens de retorno à terra natal possibilitaram a observação do que se fazia fora do país. "Houve a influência da participação em feiras internacionais e a realização de eventos na região, possibilitando aumento na qualidade, produtividade, design e tecnologias utilizadas pelas empresas, bem como pela inovação", reforça.

Aida Alimentos avança no mercado nacional

Mariana, Mauro e Janaína comemoram a expansão para outros estados

Mariana, Mauro e Janaína comemoram a expansão para outros estados

Jeferson Soldi/Divulgação/JC
Marca criada em 1922 por iniciativa do casal Ernesto Bortolo Gasperin e Rita Dalla Chiesa Gasperin, em sociedade com integrantes da família Salton, na localidade de Tuiuty, em Bento Gonçalves, a Aida Alimentos se consolidou, com o passar dos anos, como referência em produtos de charcutaria. Com a saída dos sócios em 1924, a empresa passou a ter comando exclusivamente familiar e ganhou nova sede, na mesma cidade, que segue como endereço atual.
"Construído em uma estrada de tropeiros, o prédio tinha a residência na parte superior e a fábrica na inferior. Atualmente, estamos praticamente na área central da cidade", destaca Mariana Gasperin, diretora comercial, da quarta geração da família, juntamente com a irmã Janaína, diretora administrativa e financeira.
O casal fundador foi substituído pelo único filho homem, Mário, sucedido depois pelo filho Mauro, atual diretor geral e pai de Mariana e Janaína, que iniciaram carreira na empresa no início dos anos 1990. Mariana destaca que a empresa começou a mudar seu DNA com a introdução no mercado do óleo de soja, substituto da banha, e da geladeira. Em 1970, foram adquiridas máquinas para a produção de itens cozidos, como salsichas.

Marca criada em 1922 por iniciativa do casal Ernesto Bortolo Gasperin e Rita Dalla Chiesa Gasperin | Aida/Divulgação/JC
Marca criada em 1922 por iniciativa do casal Ernesto Bortolo Gasperin e Rita Dalla Chiesa Gasperin Aida/Divulgação/JC

O portfólio foi sendo depurado ao longo das últimas duas décadas na busca por itens mais nobres, mas alinhados com a proposta original. Atualmente são 20 itens e 38 embalagens, derivados de suínos, incluindo curados, cozidos, defumados e frescais.
Os mais vendidos continuam sendo o salame e a copa, mas o destaque também é compartilhado com o culatello, bacon e presunto italiano.

Giovanni Battista Gasperin e familia, pais do fundador Ernesto Bortolo Gasperin | Aida/Divulgação/JC
Giovanni Battista Gasperin e familia, pais do fundador Ernesto Bortolo Gasperin Aida/Divulgação/JC

Com a obtenção certificados públicos em 2022, a Aida iniciou a expansão para outros estados, que ganhou força no ano passado e neste. O Rio Grande do Sul ainda segue como principal mercado consumidor, mas Paraná e São Paulo mostram potenciais para o crescimento. "Com a visibilidade nacional estamos abrindo novos mercados junto aos públicos premium", assinala. Operações de varejo mais sofisticado, restaurantes e lojas especializadas são os principais canais de venda da empresa.
Mas para alcançar este patamar foi necessário realizar um trabalho anterior. Entre 2014 e 2016, a planta foi refeita, com investimentos em novo layout, mais espaço e em equipamentos para modernizar a produção. E pensando à frente, Mariana projeta uma nova fábrica para a próxima década, em terreno já adquirido no Vale do Vinhedos, em Bento Gonçalves.
"Temos capacidade instalada para dobrar os níveis de produção, mas já está no radar a construção de uma nova sede. Vamos explorar ainda mais a charcutaria, pois o mercado caminha nesta direção, buscando produtos mais refinados e diferenciados, muito voltados à harmonização", projeta. No quadro de 30 colaboradores, em torno de 70% são de mulheres, muitas em cargos de chefia.
Excetuando-se alguns itens importados, como tabaco para defumação, a empresa é atendida, basicamente, por fornecedores regionais, localizados num raio de 100 quilômetros da planta. Como razões, a diretora cita a condição de a matéria-prima ser refrigerada e a busca do fortalecimento da cadeia local.

Empresas se consolidou, com o passar dos anos, como referência em produtos de charcutaria | Jeferson Soldi/Divulgação/JC
Empresas se consolidou, com o passar dos anos, como referência em produtos de charcutaria Jeferson Soldi/Divulgação/JC

"Entendemos que todos ganham com este modelo", define. Ela afirma que o compromisso com a qualidade é permanente, desde a seleção dos fornecedores, passando pelo controle na produção, até as análises mensais microbiológicas feitas em laboratórios credenciados. Um dos projetos recentes é o Aida Esperienza. A novidade coloca na mesa até 11 produtos da família para serem degustados numa experiência que acontece no prédio da fábrica e que pode ser levada para qualquer outro ambiente.

CIC Caxias marca data com monumento

Expectativa é entregar a obra no final deste ano

Expectativa é entregar a obra no final deste ano

Renato Solio Arquitetura/Divulgação/JC
Para marcar os 150 anos da imigração italiana no Rio Grande do Sul, a Câmara de Indústria, Comércio e Serviços de Caxias do Sul (CIC Caxias) lançou o projeto do Monumento dos 150 Anos da Imigração Italiana. A obra assinada pelo arquiteto e designer Renato Solio será instalada na Praça da Estação, no Bairro São Pelegrino, local simbólico da transformação econômica e cultural da cidade.
A iniciativa busca deixar um legado físico e simbólico para as futuras gerações, eternizando a contribuição dos imigrantes italianos para a formação de Caxias do Sul, da Serra Gaúcha e de grande parte do desenvolvimento do Rio Grande do Sul.
 
“O monumento é mais uma entrega do movimento empresarial para marcar historicamente um dos fatos mais transformadores da identidade regional. Esses imigrantes chegaram, transformaram a cidade, a região e cunharam cultura, design e tecnologia. Esse monumento é uma marca para o futuro”, destacou o presidente Celestino Loro.
A concepção do projeto propõe uma obra com 30 metros de extensão e seis metros de altura, composta por 150 tubos de aço - um para cada ano da imigração italiana. A estrutura será assentada sobre concreto, material escolhido para simbolizar solidez e permanência. Em planta baixa, o monumento apresenta o formato do símbolo do infinito, representando a continuidade do legado deixado pelos imigrantes.
 
O uso do aço reforça a ligação com o polo metal mecânico de Caxias do Sul, enquanto o concreto remete à durabilidade da obra. “Na extremidade inicial do monumento, teremos a escultura de um casal de imigrantes e, na outra ponta, a representação da sociedade atual. É um percurso simbólico de crescimento e transformação”, explica Sólio.
 
A comunidade também poderá participar diretamente da homenagem. Famílias interessadas em eternizar sua história junto a dos imigrantes poderão adquirir cotas simbólicas e ter seus nomes gravados no monumento. As contribuições podem ser feitas por pessoas físicas ou jurídicas por meio do site oficial da campanha, disponível no site Monumento 150 anos
 
A CIC Caxias atua como articuladora do projeto, reunindo poder público e iniciativa privada para viabilizar a construção. A expectativa é de que o monumento esteja finalizado em 2025. O local escolhido reforça o elo entre passado e presente. Foi por meio do trem que os primeiros imigrantes puderam escoar a produção e integrar-se à economia do estado, tornando aquele espaço um símbolo da transformação da cidade.
Consevitis-RS cria selo comemorativo
O Instituto de Gestão, Planejamento e Desenvolvimento da Vitivinicultura do Estado do Rio Grande do Sul (Consevitis-RS) criou um selo comemorativo aos 150 anos da imigração italiana para aplicação nas garrafas de vinhos, espumantes e sucos de uva das vinícolas gaúchas. A entidade produzirá cerca de 100 mil unidades para distribuição gratuita às vinícolas gaúchas interessadas.
O selo, que já havia sido criado dentro da identidade visual dos 150 anos da imigração italiana, recebeu um complemento, a frase “Vinho Gaúcho é herança dos 150 anos da imigração italiana”, agregando um destaque especial ao setor vitivinícola.
 
 
Entidade produzirá 100 mil unidades para distribuição gratuita  | CONSEVITIS/Divulgação/JC
Entidade produzirá 100 mil unidades para distribuição gratuita CONSEVITIS/Divulgação/JC
 
“Com este selo comemorativo, queremos valorizar essa trajetória e reforçar a importância do vinho gaúcho, que carrega em cada garrafa um pouco da nossa história”, afirma o presidente Luciano Rebellatto. O objetivo da iniciativa, que conta com o apoio da Frente Parlamentar Brasil/Itália, da Assembleia Legislativa do Estado, é valorizar o setor vitivinícola e mobilizar as vinícolas, especialmente aquelas com DNA italiano em sua história, na celebração desta data.
 
Comites-RS inaugura sede honorária
 
No mês que marca a celebração dos 150 anos da imigração italiana no Rio Grande do Sul, o Comitê dos Italianos no Exterior, circunscrição Rio Grande do Sul, assinalou um momento histórico em sua trajetória: a inauguração da sede honorária, em Porto Alegre. Com 500m² e um auditório com capacidade para cerca de 50 pessoas, o espaço foi viabilizado com o apoio do empresário Sérgio D’Agostin, patrono do Comites-RS e incentivador do fortalecimento da italianidade no Estado.
 
Presidente Cristina Mioranza e empresário Sérgio D'Agostin em frente à sede do Comites-RS  | Viviane Somacal/Divulgação/JC
Presidente Cristina Mioranza e empresário Sérgio D'Agostin em frente à sede do Comites-RS Viviane Somacal/Divulgação/JC
Para a presidente Cristina Mioranza, o espaço simboliza não apenas um avanço estrutural, mas principalmente o compromisso contínuo com a promoção da cultura, da memória e dos interesses da coletividade italiana no Rio Grande do Sul. “Em um ano tão significativo, reafirmamos com orgulho nossas raízes e projetamos um futuro de ainda mais integração, valorização e representatividade”, destacou.

Santa Clara cresce com a diversificação de negócios

Cooperativa tem trabalhado a responsabilidade social por meio do projeto social Plantando o Bem, com palestras, peças teatrais, encontros e concursos em escolas sobre ecologia e sustentabilidade

Cooperativa tem trabalhado a responsabilidade social por meio do projeto social Plantando o Bem, com palestras, peças teatrais, encontros e concursos em escolas sobre ecologia e sustentabilidade

Cooperativa Santa Clara/Divulgação/JC
Uma forma de queijo de 15 quilos e uma manteiga de dois quilos foram o resultado do processamento de 152,8 litros de leite recebidos de 32 produtores no primeiro dia de funcionamento, em 1912, da atual Cooperativa Santa Clara, com sede em Carlos Barbosa. Dentre os 32 fundadores, 18 tinham sobrenomes italianos. Um ano antes, 17 agricultores haviam criado a Latteria Santa Chiara para onde destinavam as sobras de leite da produção própria. "Este grupo proveniente da Itália já conhecia o cooperativismo e a importância do trabalho integrado. Isto foi essencial para o êxito do negócio", destaca Alexandre Guerra, diretor administrativo e financeiro.

Cooperativa Santa Clara surgiu em 1912 com sede em Carlos Barbosa | Cooperativa Santa Clara/Divulgação/JC
Cooperativa Santa Clara surgiu em 1912 com sede em Carlos Barbosa Cooperativa Santa Clara/Divulgação/JC

Denominada inicialmente como Cooperativa de Laticínios União Colonial, a Santa Clara, que ganhou este nome em 1977, tem 4,8 mil famílias associadas. Nas três plantas industriais a capacidade de processamento anual é de 25 milhões de litros de leite, coletados em 153 municípios gaúchos. A operação, com unidades em Carlos Barbosa, Casca e Getúlio Vargas, responde por 53% do faturamento. Ainda tem dois frigoríficos de suínos, cozinha industrial, 30 unidades varejistas, dentre supermercados e lojas agropecuárias, duas fábricas de rações e sete centrais de distribuição em vários estados. No total, são 73 unidades de negócios e 2.679 funcionários.
A partir de 1975, na busca pela diversificação e ampliação de áreas de atuação, a Santa Clara iniciou um processo de incorporação de outras cooperativas. As primeiras, com foco em leite e trigo, eram de Carlos Barbosa. As seguintes estavam localizadas em Veranópolis, Cotiporã, Paraí, Casca e São Vendelino.

O portfólio tem mais de quase 400 produtos, dos quais em torno de 50 tipos de queijos | Santa Clara/Divulgação/JC
O portfólio tem mais de quase 400 produtos, dos quais em torno de 50 tipos de queijos Santa Clara/Divulgação/JC

O mais recente movimento envolveu a compra de frigorífico em Vila Lângaro, com capacidade para o abate de 600 suínos por dia. Com a aquisição, a Santa Clara amplia a presença no setor, somando dois frigoríficos e sete suinoculturas: uma em Carlos Barbosa, uma no Alto Jacuí e cinco no Alto Uruguai. De acordo com Guerra, a cooperativa tem como regra em seu planejamento estratégico investir em torno de R$ 30 milhões anuais, sendo dois terços próprios, em melhorias de processos produtivos, varejo, ampliação, modernização e desenvolvimento de novos produtos.
A região Sul e os estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Mato Grosso são os principais mercados consumidores dos produtos da Santa Clara, que têm no varejo, compreendendo supermercados, padarias e outros, o principal canal de venda. Hotéis, restaurantes e lojas especializadas também são abastecidos. No total, são mais de 22 mil clientes ativos.
O portfólio tem mais de quase 400 produtos entre laticínios, frigorífico, doces e sucos, dos quais em torno de 50 tipos de queijos. Guerra recorda que, em 1909, o imigrante e associado Fausto Breda voltou à Itália para aprender a fazer queijo. De lá trouxe a receita para um queijo colonial, ainda parte do portfólio atual.
Guerra salienta que a Santa Clara é a mais antiga cooperativa do segmento lácteo em atividades no Brasil e a segunda maior em captação de leite no estado. Como ações pioneiras no setor e no mercado cita a técnica de adoção da inseminação artificial, pagamento do leite pela qualidade e não só pelo volume, certificação ISO 9000, elaboração do primeiro queijo com microrganismos probióticos e o uso de ordenha automatizada por um associado seu.

Dentre os 32 fundadores, 18 tinham sobrenomes italianos | Cooperativa Santa Clara/Divulgação/JC
Dentre os 32 fundadores, 18 tinham sobrenomes italianos Cooperativa Santa Clara/Divulgação/JC

A cooperativa tem trabalhado a responsabilidade social por meio do projeto social Plantando o Bem, com palestras, peças teatrais, encontros e concursos em escolas sobre ecologia, sustentabilidade e alimentação saudável, além de colaborar com o Banco de Alimentos de Porto Alegre. Em termos ambientais tem como meta reduzir em 30% a emissão dos gases estufa até 2030, além de investir em energia fotovoltaica. Uniformes de trabalhadores recolhidos após determinado tempo de uso são transformados em cobertores e doados a entidades assistenciais.
 

Dalle Molle preserva produto centenário em seu portfólio de balanças

Empresa foi fundada em 1920 e se tornou uma das principais marcas nacionais de fabricante de balanças

Empresa foi fundada em 1920 e se tornou uma das principais marcas nacionais de fabricante de balanças

DALLE MOLLE/Divulgação/JC
Nascido em Caxias do Sul, em 1884, filho do casal Giacomo e Antonia Dalle Molle, que migrara um ano antes para o Brasil, Ângelo Fortunatto Dalle Molle deixou como legado uma das principais marcas nacionais de fabricante de balanças para diferentes segmentos produtivos e de serviços. Destaque para a linha de balanças para a medição do peso hectolítrico de cereais, principalmente trigo, destinada ao setor privado, como moinhos, sementeiras e cerealistas, e entes públicos, como a Embrapa, para o desenvolvimento de cultivares.
No portfólio desde o início da empresa, em 1921, o produto responde por 25% da receita e tem mercado em todos os estados. Sócio proprietário desde 2000, Diovani Luiz Oldoni destaca que a essência do produto é a mesma desde o início, somente mais moderno e tecnológico. Explica que o equipamento tem como função principal definir a destinação do grão, dependendo da qualidade. Dalle Molle criou o equipamento com base em um modelo alemão, pois à época o produto era importado, principalmente da Alemanha, França e Suíça.
 
Após trabalhar com a família na agricultura e elaboração de vinho, mudou-se com 20 anos para a área central e começou a trabalhar na Bertoni & Cia, fabricante de balanças e alguns tipos de ferramentas. Tornou-se autodidata, passando as noites, sob a luz de lampião, estudando sozinho, lendo livros de elementos de engenharia escritos em italiano que conseguia com amigos que viajavam para outras cidades e à capital.
 
Com a crise econômica de 1920, empresas que atuavam neste ramo na cidade sucumbiram, abrindo a oportunidade para Dalle Molle iniciar o seu negócio, aproveitando a vasta experiência que tinha em manufatura de balanças. No ano seguinte nasceu a Ângelo Dalle Molle & Irmão para atuar na produção de balanças para pesagem de caminhões, gado, suínos, ferro e lã, uso em armazéns e frigoríficos e para peso hectolítrico de cereais.
 
Inventivo e de mente inquieta, implementou novas formas de produção, com aperfeiçoamento constante dos produtos, que eram reconhecidos com premiação em feiras industriais. Pioneira na produção de catálogos detalhados, que demonstravam a variedade de balanças produzidas, a marca ganhou visibilidade em vários estados. Ele também integrou, em 1951, a primeira diretoria da Delegacia Regional do Centro da Indústria Fabril do Rio Grande do Sul, uma das primeiras etapas para posterior criação do Sindicato das Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Material Elétrico de Caxias do Sul.
 
 
Com a morte do empreendedor em 1956, a empresa mudou de donos e de nome. Surgiu a Indústria de Balanças Dalle Molle sob o comando Paulo Guidalli (cunhado de Ângelo) e Antonio Casimiro Tonet (funcionário desde 1937). Nesse período, a empresa dominou o mercado de balanças para pesagem de uva e de gado, e no setor de trigo para peso hectolítrico de cereais.
 
Tonet deixou a empresa em 1977 e Guidalli, que seguiu no comando, faleceu em 1985, o que fez a empresa retornar à família Dalle Molle pelos netos de Ângelo, Ricardo Dal Pont e Newton Prestes. A decisão da dupla foi investir em melhorias de processos e renovação e modernização na linha de produtos, necessárias diante das mudanças do mercado, com aumento de concorrência, e estagnação da estrutura fabril.
 
A estratégia foi reforçada com a chegada de Diovani Luiz Oldoni, em março de 1991, que assumiu a administração total da empresa. Dentre as medidas adotadas no início dos anos 90, as principais foram a desativação da produção de alguns modelos de balanças, ingresso na área de manutenção de equipamentos de outras marcas, locação e revenda, além da concentração na rentabilização maior da balança de peso hectolítrico de cereais. “Depuramos o portfólio para investir em produtos rentáveis, pois o custo de manufatura é muito elevado. A estratégia deu certo e temos, hoje, uma empresa sanada”, afirma.
 
O portfólio contempla balanças industriais, comerciais, de laboratório, rodoviárias, agrícola, pecuária e especiais, bem como prestação de serviços de manutenção, reparo, reforma, calibração e locação de balanças para laboratórios, indústrias, comércio e área da saúde. Excetuando-se a balança de peso hectolítrico, as demais atividades têm foco comercial na Serra Gaúcha.
 
Oldoni adotou a denominação atual da empresa e mudou, em 2002, para uma sede própria, afastada do Centro, com 440 metros quadrados. Espaço menor que o existente na planta anterior, onde a produção era verticalizada, com processos de fundição, usinagem e corte e dobra, dentre outros, o que exigia também quadro maior de pessoal muito especializado. Atualmente, a empresa tem vários desses processos terceirizados e corpo funcional menor.
 
O executivo entende que a estratégia de trabalhar em nichos específicos e atendendo demandas exclusivas de clientes têm garantido a sustentabilidade do negócio. “Está complicado fabricar equipamentos. Existe muito produto importado a custo menor, mas boa parte chega sem homologação. Ou seja, falta fiscalização do governo. Já a empresa nacional atende toda a burocracia e administra um custo elevado com matérias-primas e impostos. Com este desequilíbrio é difícil competir em igualdade”, lamenta. Motivo para que o empresário não tenha, no momento, projetos de expansão. Entende que a prestação de serviços é um filão de grande potencial por ser uma atividade sem possibilidade de importação.

Magnabosco mantém o mesmo endereço há 110 anos em Caxias

Referência do varejo, loja fica localizada defronte à praça central e ao lado da Catedral de Caxias do Sul

Referência do varejo, loja fica localizada defronte à praça central e ao lado da Catedral de Caxias do Sul

Leandro Araújo/Divulgação/JC
A Casa Magnabosco é uma referência do varejo de Caxias do Sul, localizada no mesmo endereço desde a fundação, em 1915, defronte à praça central e ao lado da Catedral. Inicialmente, uma casa de madeira abrigava um armazém de secos e molhados para a venda de tecidos a metro, grãos e ferragens, entre outros itens. Dentre os principais clientes, caixeiros viajantes que levavam os produtos para outras localidades da região. À frente do negócio estava Raymundo Magnabosco.
 
Nascido em Antônio Prado, o fundador passou parte da infância e adolescência na Itália. Aos nove anos, órfão de pai, retornou com a mãe Lúcia para a Itália. De volta ao Brasil fixaram residência em Caxias do Sul, onde Magnabosco iniciou a trajetória empresarial. Em 1919, casou-se com Flora Serafini, que residia em frente ao varejo, e com quem teve 12 filhos. “Era um armazém bem à moda antiga e o casal era apaixonado por comércio e pessoas”, registra Pedro Horn Sehbe, atual CEO e representante da quarta geração.
 
O casarão de madeira cedeu lugar, em 1939, ao atual prédio de alvenaria, de 4,5 mil metros quadrados, construído no estilo art déco. Na parte inferior, foi mantido o armazém; o segundo andar foi residência do juiz e sede do fórum; e terceiro era destinado à família.
 
Nos anos 1950, a empresa iniciou um processo de mudança e focou seu negócio em tecidos, roupas e acessórios. Com o falecimento de Raymundo Magnabosco, em 1959, o filho Girólamo assumiu o comando e o prédio passou por ampla reforma interna e apresentou-se como um centro comercial, estruturado em vários departamentos especializados. De 1968 até o início dos anos 1990, a empresa operou em sociedade com outro grupo comercial da cidade. Com a volta do controle acionário à família, assumiu André Magnabosco, neto de Raymundo, que ficou no cargo até 2016.
 
 
Pedro Horn Sehbe, bisneto dos fundadores, assumiu em 2016 com o desafio de reposicionar a marca. Atualmente, a Magnabosco se apresenta ao mercado como um grande magazine, inspirado no conceito europeu de stores within the store (lojas dentro de loja), com mais de 150 marcas de renome nacional e internacional. “Atualmente, temos fila de espera de marcas interessadas em participar”, revela.
 
Pedro Horn Sehbe, bisneto dos fundadores, assumiu em 2016 com o desafio de reposicionar a marca | Magnabosco/Divulgação/JC
Pedro Horn Sehbe, bisneto dos fundadores, assumiu em 2016 com o desafio de reposicionar a marca Magnabosco/Divulgação/JC
 
De acordo com o CEO, o objetivo é conectar a região com as tendências mundiais, investindo no lançamento exclusivo de produtos de grandes marcas. “Somos um local de encontro, conexão e cultura, que vai além da moda. O desafio era fazer a marca ser lembrada pelas novas gerações jovens, pois seu público estava envelhecendo”, frisa.
Para ampliar a gama de serviços, foi lançada uma perfumaria internacional e criados o Laboratório Magnabosco, que oferece cursos sobre moda, e o estúdio fotográfico para locação. Com as estratégias, a empresa triplicou o faturamento na comparação com 2016, tendo alcançado a marca recente de R$ 30 milhões.
 
O CEO estima que 2,5 mil pessoas circulam pela operação todos os dias. O atendimento é feito por 70 funcionários e o cadastro é de 70 mil clientes ativos. A empresa também tem investido em eventos, como o Grande Espetáculo de Natal, realizado em frente à loja.
 
Loja conta hoje com mais de 150 marcas de renome nacional e internacional | Magnabosco/Divulgação/JC
Loja conta hoje com mais de 150 marcas de renome nacional e internacional Magnabosco/Divulgação/JC
 
Nos planos está a expansão para outras cidades por meio de unidades menores, de 300 metros quadrados. Um projeto em andamento inclui Porto Alegre. O executivo pondera tratar-se de uma ação de médio prazo, bem como em outras cidades, inclusive fora do estado. “É importante ter um parceiro local identificado com as nossas peculiaridades, que são o encantamento do cliente, a jornada de compras e um mix de marcas. É preciso apurar se a proposta faz sentido àquela comunidade”, destaca. Além de Caxias, a Magnabosco tem uma pequena operação em Bento Gonçalves, em parceria com a Vinícola Salton. O e-commerce, ainda pouco representativo na receita, também receberá atenção nos planos de expansão.
 

Cootegal tem origem em tecelões imigrantes que chegaram ao Brasil no ano de 1891

Cooperativa completou 25 anos de existência em 2024

Cooperativa completou 25 anos de existência em 2024

Cootegal/Divulgação/JC
A chegada ao Brasil, em 1891, de um grupo de imigrantes italianos, com o ofício de tecelões, vindos da cidade de Schio, Província de Vicenza, é o nascedouro da Cootegal (Cooperativa de Trabalho Têxtil Galópolis), que completou 25 anos de existência em 2024. Do grupo, cinco famílias que chegaram à Serra Gaúcha identificaram na localidade de Caxias do Sul, às margens da BR-116, a oportunidade de criar uma pequena indústria têxtil. Motivo: uma cascata, ainda existente, permitiria montar uma usina para fornecer a energia necessária ao empreendimento.
Inaugurada oficialmente em 29 de janeiro de 1898, a então Cooperativa de Tecidos de Lã ganhou, em 1904, o reforço do técnico químico Hércules Galló, nascido na Itália em 1869, que tomou conhecimento da atividade e se propôs a participar como sócio. Com o tempo adquiriu todas as cotas e tornou-se o único proprietário. Para ampliar a operação, uniu-se à família Chaves Barcellos, de Porto Alegre, que era um dos principais clientes da empresa. A sociedade durou até 1921, quando Galló faleceu e a família Chaves Barcellos assumiu o comando. Nasceu, então, a Sociedade Anônima Companhia Lanifício São Pedro, que seguiu até 1979, quando foi adquirida pela família Sehbe, tradicional em Caxias do Sul no ramo do vestuário, com fábrica e varejo.
 
Nesta época, eram 700 funcionários e a localidade tinha forte dependência da fábrica, que contribuía em várias iniciativas comunitárias. Após alteração do nome, em 1982, para Lanifício Sehbe, a empresa entrou em crise em 1999, gerando atraso de salários e greve dos trabalhadores. Em abril daquele ano, um grupo se mobilizou para negociar possível arrendamento da fábrica no formato de cooperativa, fato consolidado poucos meses depois, dando origem à Cootegal, que inicialmente arrendou a planta fabril de 20 mil metros quadrados sobre área total de 50 mil metros quadrados. Em 3 de dezembro de 2001, houve a aquisição do parque industrial.
 
Um dos compromissos assumidos pelo grupo no acordo, que envolveu empresa e sindicato de trabalhadores, era de que, na medida em que a produção aumentasse, haveria abertura de vagas. A cooperativa iniciou com 25 sócios em 7 de junho e, no final de 1999, tinha 120. Atualmente são 130 pessoas no quadro, entre associados e colaboradores.
 
 
Fernando Marchioro, hoje presidente, estava neste grupo. Recorda que os primeiros movimentos ocorreram junto a clientes para a retomada das operações. Desde 1999, o prédio vem recebendo melhorias estruturais e novos equipamentos para garantir um processo verticalizado de produção, iniciando no recebimento da lã, seguindo pela fabricação de fio de lã, tecelagem, tinturaria e acabamento. “Temos priorizado equipamentos com maior capacidade de produção e de qualidade, e mais seguros, além do treinamento constante das pessoas”, assinala. Atualmente, a empresa produz fios e tecidos de lã e mistos para decoração, moda, calçados, corporativos e jogos. Tradição que vem desde 1930, o fornecimento de cobertores para as Forças Armadas é mantido.
 
A diretoria também quer fazer da planta um espaço turístico. O estudo em andamento contempla melhorias na infraestrutura visando receber visitantes para conhecer as várias etapas da fabricação, culminando em uma loja de produtos prontos para a venda. A expectativa é iniciar as visitas no final de 2027.
 
Outro projeto, programado para ser concluído no final de 2026, é a montagem de um lavador de lã na cidade de Rosário do Sul. Atualmente, o serviço é terceirizado no único lavador de lã do estado. O investimento de R$ 4 milhões permitirá que a Cootegal tenha mais agilidade na execução do serviço e forneça serviços para terceiros.
 
Uma das metas para os próximos cinco anos é dobrar o atual volume de exportações, que representam 15% da receita. Para atender ao objetivo será preciso aumentar a produção, possível com a criação de um segundo turno, aperfeiçoamento produtivo e obtenção de certificados exigidos por alguns países. Atualmente, as vendas externas se concentram na Argentina, no Uruguai, Chile e no Canadá.
 
Para o mercado interno, uma das prioridades é a produção de tecidos de lã mais leves para atender o consumo de regiões de temperaturas mais amenas. Para tanto, a empresa adquiriu o equipamento necessário para produzir fios mais delicados. A nova coleção 2016 com este material terá apresentação, neste mês de maio, em São Paulo. O principal cliente da cooperativa é a indústria da confecção localizada nos três estados da Região Sul e em São Paulo.

Tramontina marca presença em 120 países

Primeiro robô foi adquirido em 1988; hoje,tem capacidade para produzir mais de 2,3 milhões de itens por dia

Primeiro robô foi adquirido em 1988; hoje,tem capacidade para produzir mais de 2,3 milhões de itens por dia

Tramontina/Arquivo/JC
Fundada em 1911 por Valentin Tramontina em Carlos Barbosa, a Tramontina nasceu como uma pequena ferraria e cresceu impulsionada por valores familiares, empreendedorismo e inovação. Após a morte de Valentin, a esposa Elisa De Cecco assumiu a liderança, garantindo a sobrevivência e expansão da empresa durante períodos difíceis, como a II Guerra Mundial.
 

 Valentin Tramontina e a esposa Elisa | Tramontina/Arquivo/JC
Valentin Tramontina e a esposa Elisa Tramontina/Arquivo/JC

A partir das décadas seguintes, com a participação do filho Ivo Tramontina e de Ruy J. Scomazzon, que passou a integrar a sociedade, a empresa se transformou em potência industrial, ampliando fábricas, diversificando produtos e realizando exportações. O crescimento contínuo incluiu a criação de centros de distribuição pelo País e o desenvolvimento de unidades produtivas fora do Rio Grande do Sul e do Brasil, consolidando uma rede nacional e levando a marca para diversos países.
Produz, atualmente, mais de 22 mil itens em nove fábricas, oito no Brasil - seis no Rio Grande do Sul, Pará e Pernambuco - e uma na Índia. A recente operação fora do país é uma joint venture com a indiana Aequs, com foco na produção de panelas para atender a demanda crescente daquele mercado.

Primeira fábrica da empresa, em 1911 | Tramontina/Arquivo/JC
Primeira fábrica da empresa, em 1911 Tramontina/Arquivo/JC

"A empresa mantém o compromisso com seus valores, investindo em tecnologia, responsabilidade social e valorização de seus mais de 10 mil funcionários", registra Rosane M. Fantinelli, diretora de marketing corporativo. As vendas externas se estendem a 120 países, com presença global em lojas físicas e e-commerce. A marca ainda possui centros de distribuição e escritórios regionais de vendas em 21 países, o que permite alcançar mercados em todos os continentes.
A Tramontina conta hoje com capacidade instalada para produzir mais de 2,3 milhões de itens por dia, com auxílio de quase mil robôs nas linhas de produção e foco em diferentes segmentos. Suas linhas vão além dos utensílios de cozinha e panelas, incluindo também eletroportáteis, ferramentas manuais, soluções para instalações elétricas, equipamentos para jardinagem, construção civil e setor automotivo, móveis em madeira e utilidades plásticas, porcelanas e produtos para cozinhas profissionais.

A marca ainda possui centros de distribuição e escritórios regionais de vendas em 21 países | Tramontina/Divulgação/JC
A marca ainda possui centros de distribuição e escritórios regionais de vendas em 21 países Tramontina/Divulgação/JC

De acordo com a executiva, a Tramontina segue atenta às transformações do mercado e à constante evolução do cenário global, mantendo um olhar estratégico tanto para o desenvolvimento de novos produtos quanto para a expansão de suas operações. "A empresa investe continuamente em inovação, tecnologia e design para atender consumidores cada vez mais exigentes e conectados, oferecendo soluções que aliam funcionalidade, qualidade e estética", explica. A empresa também busca ampliar sua presença nacional e internacional por meio da diversificação de portfólio, fortalecimento de parcerias e abertura de novos canais de distribuição.
 

Veronese nasce da paixão pela química

Família se instalou em Otávio Rocha, interior de Flores da Cunha, em 1882

Família se instalou em Otávio Rocha, interior de Flores da Cunha, em 1882

Veronese/ARQUIVO/JC
Nascido em 1885 e filho mais velho do imigrante Felice Veronese, que se instalou no distrito de Otávio Rocha, interior de Flores da Cunha, em 1882, Luiz Veronese decidiu que não queria ser um agricultor, como era comum na época. Sua paixão era a química. A oportunidade de colocar em prática o sonho surgiu quando houve a necessidade de pólvora para a detonação de basalto para a construção da residência da família. Com o auxílio de um velho manual, conseguiu produzir com sucesso e passou a comercializar o item.
Observando as pipas de vinho da família, uma das primeiras da região a elaborar a bebida para venda a terceiros, identificou o sal de tártaro, então descartado como resíduo. Com o insumo, era possível produzir o cremor de tártaro destinado à indústria de panificação, massas e biscoitos, ainda hoje presente no portfólio da empresa. Mesmo com a resistência do pai e com ajuda financeira de um tio, viajou para a Itália, onde adquiriu maquinário e materiais de laboratório, além de tratados de química. No seu retorno, em 1911, fundou a indústria química em Caxias do Sul, dando início à produção de cremor de tártaro e produtos associados, como o ácido tartárico, tendo por principal matéria-prima os resíduos do processo de produção de vinho da região.
Felice Veronese  fundou a indústria química em Caxias do Sul em 1911 | Veronese/Divulgação/JC
Felice Veronese fundou a indústria química em Caxias do Sul em 1911 Veronese/Divulgação/JC
 
Em 1918, o pai Felice se convenceu de que seria um bom negócio e orientou os filhos Attilio e Henrique a se unir ao irmão, que havia recebido, inicialmente, o apoio financeiro de um tio. O atual diretor Paulo Veronese, que assumiu o comando em 1977, recorda que o fundador também foi o primeiro oficial do escritório de enologia de Caxias do Sul, do qual se exonerou para dedicar-se exclusivamente à empresa. Em 1952, Luiz e Henrique faleceram, cabendo a Attilio, pai do atual diretor, dar continuidade à empresa.
 
 
Na década de 70 a empresa instalou unidade em São Marcos para produção de derivados de enxofre. No início dos anos 90 abriu unidade na cidade de Taubaté (SP) para a distribuição de dióxido de enxofre. Recentemente, em 2021, transferiu a operação fabril de Caxias do Sul para São Francisco de Paula, ocupando uma extensa área às margens da Rota do Sol. Em Caxias foi mantida a administração.
 
Atualmente, a empresa divide a linha de produtos em três grupos: tartaratos para conservação de alimentos e bebidas; enxofre, sulfitos e SO2, usado na vinificação e único fabricante nacional; e extratos vegetais da acácia negra transformados em tânico para uso alimentício. Além dos segmentos de alimentos e bebidas, também atividades químicas, de galvanoplastia e papel e celulose. Da produção total, cerca de 50% seguem para países europeus e da América do Sul, Estados Unidos e África, essencialmente para o segmento vinícola.
Atual diretor Paulo Veronese assumiu o comando em 1977 | Veronese/Divulgação/JC
Atual diretor Paulo Veronese assumiu o comando em 1977 Veronese/Divulgação/JC
 
A cadeia de insumos é basicamente regional, formada a partir de vinícolas que são clientes e fornecedores. De Estância Velha e Montenegro vêm acácia, e de Esteio, da Refap, o enxofre. Por questões operacionais, opera em três turnos. O quadro é formado por 50 trabalhadores.
 
Na nova planta, foi implantado um sistema de economia circular | Veronese/Divulgação/JC
Na nova planta, foi implantado um sistema de economia circular Veronese/Divulgação/JC
 
Na nova planta, foi implantado um sistema de economia circular. Tudo o que é retirado da natureza, depois de seu aproveitamento retorna de modo ecologicamente correto e ainda produtivo. Sob licença ambiental e obedecendo critérios técnicos de agronomia, o adubo é distribuído por meio de fertirrigação na ampla área anexa à planta industrial para cultivo de milho, soja e feijão.

Salton avalia projetos de expansão

Fundadores da vinícola deixaram o legado do empreendedorismo, agora nas mãos da quarta geração da família

Fundadores da vinícola deixaram o legado do empreendedorismo, agora nas mãos da quarta geração da família

Salton/Divulgação/JC
Com capacidade instalada para elaborar anualmente 25 milhões de litros de espumantes, destilados, vinhos e sucos, a Vinícola Salton estuda estratégias para elevar o volume para atender as expectativas de crescimento nos mercados interno e externo. A meta da empresa, atualmente gerida pela quarta geração, é alcançar receita de R$ 1 bilhão até 2030, com 10% de vendas no exterior, três pontos percentuais acima da participação atual.

Empresas &Negócios - especial 150 anos imigração italiana - Vinícola Salton - 1922 | Salton/Arquivo/JC
Empresas &Negócios - especial 150 anos imigração italiana - Vinícola Salton - 1922 Salton/Arquivo/JC
 

Os projetos em estudo contemplam a ampliação da planta fabril, localizada no distrito de Tuiuty, em Bento Gonçalves, em áreas contíguas já pertencentes à empresa. De acordo com o presidente Maurício Salton, no cargo desde 2018, a estrutura inaugurada em 2004 está próxima do limite de produção.
O parque industrial foi criado com forte viés em qualidade, além de consolidar o enoturismo, atividade que, nos últimos anos, tem atraído média de 50 mil pessoas. Com a nova planta, a antiga localizada no Centro foi desativada. A empresa avançou no enoturismo, em 2023, com a Casa di Pasto Família Salton, localizada no roteiro Caminhos de Pedra, em Bento Gonçalves, celebrando as origens do negócio familiar.
Outra estratégia envolve a unidade de Santana do Livramento, com a instalação de módulo para vinificação de uvas tintas, duplicando a capacidade instalada. A ideia de iniciar o projeto neste ano foi adiada em razão do momento atual da economia nacional, especialmente pelos elevados custos de capital. Atualmente, a empresa tem um módulo para vinhos brancos e espumantes na Fronteira.

Vinícola Salton em 1967 | Salton/Arquivo/JC
Vinícola Salton em 1967 Salton/Arquivo/JC

 
A vinícola tem como fundador Paulo Salton, primogênito do italiano Antonio Domenico Salton, que chegou ao Brasil em 1878 e se instalou em Bento Gonçalves, onde conheceu e casou-se com a imigrante Lucia Canei, com quem teve 10 filhos. Em 1884 deram início a uma "casa di pasto", em frente à Igreja Matriz, onde hospedavam viajantes, ofereciam refeições e vendiam queijos e embutidos. O vinho servido era elaborado com uvas colhidas nas parreiras nos fundos da instalação.
Com a morte do pai, em 1910, o filho mais velho assumiu e formalizou o negócio, que deu origem, em 1922, à empresa Paulo Salton & Irmãos. Diante dos bons resultados, os irmãos José e Cesar levaram os negócios para São Paulo, nos anos 1940. Atualmente, a operação está sediada em Jarinu, interior paulista, com um portfólio de destilados e respondendo por 30% da receita.
Após superar diversas crises, a empresa tem nos anos 1980 uma fase importante no aspecto produtivo, além do societário, com a saída de alguns familiares da gestão, mas permanecendo como sócios. Coube à terceira geração criar o Conselho de Administração e iniciar um processo de qualificação, respaldado em avanços tecnológicos. "Processos mais eficientes, menos ociosidade e melhoria de produtos sustentaram esta renovação, que muda a empresa de patamar", assinala o executivo.

 Vinicola Salton em 2025 | Daniela Radavelli/Divulgação/JC
Vinicola Salton em 2025 Daniela Radavelli/Divulgação/JC

 
O período de 1995 a 2005 é apontado como um ciclo de transformação do portfólio e da marca, com agregação de rótulos de maior valor e de mais visibilidade aos espumantes, hoje o principal produto da companhia, respondendo por 50% da receita e por 35% de todo o volume da bebida vendida no mercado brasileiro, incluindo marcas importadas.
A vocação da família pelo espumante se deu em 1933, quando iniciou a elaboração. A partir de 2005, a marca assumiu a liderança no mercado, de acordo com a Nielsen, conquista que se mantém até hoje. Com a linha Salton Classic, teve início a elaboração de vinhos finos em 1999.
A empresa também se fortalece com a consolidação da unidade de Santana do Livramento, com a plantação de uvas estratégicas e montagem de uma cantina enxuta, administrada por duas pessoas ou de forma remota. Operando somente na safra, a Azienda Domenico, criada na gestão de Daniel Salton, pai de Maurício, elabora vinho base ou mosto para a vinificação em Bento. São 120 hectares de vinhedos próprios, cultivados em espaldeira e colheita mecanizada.
A empresa abriu as portas para uma gestão mais profissional e também focada em sustentabilidade e pesquisas junto a universidades. Uma das ações é a realização do primeiro inventário de gases de efeito estufa no setor vinícola brasileiro.
Maurício Salton destaca que a conquista do mercado externo precisou de mais de 10 anos de trabalho. Inicialmente, havia o desconhecimento de que o Brasil elaborava vinhos e espumantes e de que era capaz de sustentar qualidade a cada safra, além das condições climáticas. Com ajustes no portfólio, incluindo vinhos varietais com pouca passagem por barricas, a empresa superou as barreiras. Atualmente vende para 30 países, dos quais 16 compram de forma recorrente todos os anos, e tem os Estados Unidos e a Ásia como principais compradores.
A gestão da empresa, que tem 500 colaboradores, é feita por uma diretoria executiva, composta por seis integrantes, três da família e três profissionais, dois deles com carreira interna. O conselho de administração é formado por sete integrantes, que representam as diversas vertentes da família. Para 2027 está programada a renovação do acordo de acionistas e a criação de um conselho de família.
 

Consulado da Itália no Rio Grande do Sul reforça laços com a comunidade ítalo-gaúcha

Caruso é Cônsul-Geral em Porto Alegre desde 23 de agosto de 2022

Caruso é Cônsul-Geral em Porto Alegre desde 23 de agosto de 2022

Edivan Rosa/Critério/Divulgação/JC
O cônsul-geral da Itália no Rio Grande do Sul, Valerio Caruso, destacou o protagonismo da comunidade ítalo-gaúcha nas comemorações dos 150 anos da imigração italiana no Estado. Ao lado do embaixador da Itália no Brasil, Alessandro Cortese, Caruso participou de uma série de agendas em Porto Alegre e na Serra Gaúcha que reforçaram os laços históricos, culturais e econômicos entre os dois países. Em um momento marcado pelo simbolismo e pela superação, o cônsul lembrou que o espírito resiliente dos primeiros imigrantes permanece vivo nos gaúchos, especialmente após a tragédia climática de 2024. “Esse espírito, tão parecido com o dos italianos que chegaram aqui há 150 anos, foi essencial para transformar dor em reconstrução”, afirmou.
Caruso também celebrou a inauguração da nova sede do Comites-RS, em Porto Alegre, e anunciou o início das obras da nova sede do Consulado, que deverá ser entregue até o fim do ano. “Queremos uma estrutura moderna, à altura da importância da comunidade italiana no Estado, e que permita atender melhor às demandas que só aumentam”, explicou. Ele ressaltou ainda a importância de ampliar a presença internacional do Rio Grande do Sul, defendendo a criação de uma rota aérea direta com a Itália. “O não pode mais viver nesse isolacionismo involuntário. É hora de apresentá-lo ao mundo”, afirmou o cônsul.
 
A aproximação entre Brasil e Itália também se fortalece por meio de acordos práticos, como o que permite a conversão de carteiras de habilitação entre os dois países — já em vigor na Itália e prestes a ser promulgado no Brasil. Em entrevista ao Empresas & Negócios, Caruso, que desde 23 de agosto de 2022 é Cônsul-Geral em Porto Alegre, é diplomático de carreira desde 2018, prestou serviço como Chefe Adjunto da Secretaria do Vice-Ministro das Relações Exteriores e da Cooperação Internacional e ainda junto à Direção Geral para os Recursos Humanos e Inovação.
 


Empresas & Negócios - O ano de 2025 marca os 150 anos da chegada dos primeiros imigrantes italianos ao Rio Grande do Sul. Que importância o senhor atribui a esse marco histórico para a relação entre Brasil e Itália?
Valerio Caruso - Essa data não é apenas uma celebração do passado, mas um reconhecimento do papel fundamental que a cultura italiana teve — e continua tendo — na formação da identidade e da cultura gaúcha. A presença italiana está profundamente enraizada no tecido social, econômico e cultural do Estado, e representa uma ponte viva que segue fortalecendo os laços entre o RS e a Itália.

E&N - A força de trabalho dos imigrantes italianos foi essencial na formação da identidade econômica e cultural do Estado. Como o senhor avalia a contribuição desses primeiros italianos para o desenvolvimento do Rio Grande do Sul?
Caruso - Foi uma epopeia extraordinária. A força de trabalho, a fé no progresso e o espírito comunitário dos primeiros imigrantes italianos tiveram um impacto profundo e duradouro no desenvolvimento do Rio Grande do Sul. Sem a colonização italiana, o Estado certamente seria muito diferente do que é hoje. Esses migrantes transformaram a realidade do território em que se estabeleceram — introduziram novas práticas agrícolas, impulsionaram o artesanato, a indústria e ajudaram a construir cidades e instituições. Essa trajetória de coragem, sacrifício e visão é um grande motivo de orgulho para a Itália e para todos os seus descendentes no RS.

E&N - Muitas das principais cooperativas e indústrias do setor alimentício e vitivinícola do Estado têm origem italiana. Como o senhor vê essa presença italiana na economia gaúcha atual?
Caruso - Esta é uma ferramenta extraordinária para a economia gaúcha e também para todo o Brasil. Trata-se de um legado que une tradição, qualidade e inovação. Além disso, essas raízes italianas representam uma grande oportunidade para a internacionalização das nossas excelências locais, valorizando os produtos gaúchos também no exterior e fortalecendo os laços econômicos e culturais com a Itália e com o mundo.

E&N - As cidades com raízes italianas, como Bento Gonçalves, Garibaldi, Caxias do Sul e Farroupilha, têm investido em manter viva essa herança cultural. Como o consulado italiano tem apoiado essas iniciativas?
Caruso - O Consulado é parceiro de todas essas cidades que preservam com tanto carinho as raízes italianas. Acompanhamos de perto e apoiamos as iniciativas culturais, educativas e comunitárias que mantêm viva essa herança. Como cônsul, faço questão de prestigiar as festas, celebrações e eventos que homenageiam essa identidade italiana tão presente no cotidiano de municípios como Bento Gonçalves, Garibaldi, Caxias do Sul, Farroupilha e tantos outros. É uma prioridade para nós reforçar esses laços e celebrar juntos essa maravilhosa história.
 


E&N - A imigração italiana no Rio Grande do Sul tem características diferentes daquela que ocorreu em outros estados brasileiros, como São Paulo e Espírito Santo? O que distingue a experiência gaúcha nesse processo migratório?
Caruso - Sim! A imigração italiana no Rio Grande do Sul tem características muito particulares. Tenho a impressão de que os gaúchos são diferenciados nesse sentido — aqui, as raízes identitárias italianas são mantidas de forma especialmente forte e viva. Isso se reflete na língua, nas tradições, na gastronomia, na religiosidade e até na maneira de ser das pessoas. A cultura italiana foi incorporada de forma profunda no cotidiano das famílias e das comunidades, criando uma identidade ítalo-gaúcha muito marcante, que é motivo de orgulho para a Itália.

E&N - Em sua opinião, quais valores culturais e sociais dos italianos ainda estão presentes no modo de viver do povo gaúcho?
Caruso - Acredito que muitos valores culturais e sociais trazidos pelos imigrantes italianos continuam muito presentes no modo de viver do povo gaúcho. A religiosidade, por exemplo, permanece como um elemento central na vida de muitas comunidades. A confiança no progresso — essa crença de que o esforço coletivo pode construir um futuro melhor — também é algo marcante. E, sem dúvida, a ética do trabalho, o espírito de sacrifício e a valorização da família são traços profundamente enraizados que refletem esse legado italiano tão vivo no Rio Grande do Sul.

E&N - O senhor acredita que essa data comemorativa pode ser uma oportunidade para fortalecer ainda mais os laços comerciais e culturais entre a Itália e o Rio Grande do Sul?
Caruso - Sem dúvida! Aliás, essa data comemorativa já está sendo uma grande oportunidade para fortalecer ainda mais os laços comerciais e culturais entre a Itália e o Rio Grande do Sul. Um exemplo concreto disso é o recente lançamento da nova Câmara de Comércio Italiana no Estado, que nasce com o objetivo de aproximar ainda mais os empreendedores italianos e gaúchos. Além disso, acabamos de concretizar a aquisição da nova sede do Consulado Geral da Itália em Porto Alegre, um investimento importante que simboliza o compromisso de longo prazo com esta região. Tudo isso foi impulsionado também pela histórica visita do presidente da República Italiana, Sergio Mattarella, à Porto Alegre no ano passado — um momento de grande prestígio que reforçou a profundidade dessa relação bilateral.
 

* Roberto Hunoff é jornalista e correspondente do Jornal do Comércio em Caxias do Sul (RS)

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