Um cenário extremamente positivo desponta no horizonte quando o assunto é exportação cultural para a China, e dois exemplos que encontrei aqui são a prova disso. A publicação do livro infantil A ponte, do escritor gaúcho Eliandro Rocha; e a recente turnê do grupo carioca Artesanal Cia. de Teatro em diferentes cidades podem - e devem - servir de estímulo a outros empreendedores da economia criativa no Brasil.
Neste ano, por exemplo, quem "viajou" para a China foi Rocha, com seu livro sendo traduzido para o mandarim, graças ao trabalho contínuo e persistente da editora Callis. Comandada por Miriam Callis, a editora está há mais de 25 anos no mercado de livros infantis e juvenis, e é exemplo de sucesso ao cruzar oceanos com letras brasileiras. Miriam conta que a empresa já tem oito livros publicados na China - o primeiro deles foi lançado há cinco anos.
"Fizemos várias tentativas antes de conseguir. Em 2008, fui a China com outros editores brasileiros, mas voltamos sem nenhum resultado. Depois disso, conheci alguns editores chineses no Japão. E, como sempre tínhamos estande nas feiras de Bolonha (Itália), Frankfurt (Alemanha) e Guadalajara (México), finalmente conseguimos fechar negócio com um editor chinês em Guadalajara", relata.
Miriam pode ser considerada uma editora modelo de internacionalização. Atualmente, conta ela, a empresa utiliza constantemente o estande coletivo da Câmara Brasileira do Livro nas feiras de Guadalajara e de Frankfurt, e estande próprio em Bolonha. "Hoje, temos um agente literário na China que facilita muito o contato com novas editoras. E já temos, no horizonte de publicação, mais um livro do Eliandro (Rocha), chamado Escola de princesas recatadas", antecipa Miriam.
Uma possível participação chinesa na Feira do Livro de Porto Alegre, por sinal, já começa a ser alinhavada. Em recente visita à Bienal do Livro de São Paulo, o presidente da Câmara Rio-Grandense do Livro (CRL), Isatir Antonio Bottin Filho, deu os primeiros passos para isso. "Fiquei impressionado com a qualidade das publicações apresentadas em três estandes da China em São Paulo. Já começamos a conversar informalmente sobre a participação deles na Feira do Livro de Porto Alegre", revela Bottin Filho.
Nos palcos, os holofotes chineses se voltaram, entre julho e agosto, para a Artesanal Cia. de Teatro. Foram 10 apresentações do espetáculo O homem que amava caixas e duas oficinas em quatros cidades, além de um convite para regressar em 2019 para uma temporada de dois meses de oficinas e apresentações. "Nossa agente nos inscreveu em um festival chinês de teatro infantil e só nos contou quando fomos escolhidos. Financeiramente, a verba não era suficiente. Corremos atrás de patrocínio e contamos com o apoio da embaixada brasileira na busca por incentivo local, e, assim, foi um mercado novo que se abriu e uma experiência incrível", explica Marta Paiva, produtora da companhia.
Marcelo Azevedo, chefe do setor Cultural da embaixada brasileira em Pequim, avalia que o atual momento é um dos melhores dos últimos anos no sentido de aproximação da indústria criativa entre os dois países. Azevedo lembra que, no final de 2016, ocorreu um acordo cultural histórico entre Brasil e China. "Em 2016, o Brasil assinou 22 acordos de cooperação com a China, e um terço deles foram people to people, com se diz, no sentido de relações humanas, e quatro deles específicos na área cultural", comemora o diplomata.
Em janeiro de 2018, houve uma marca histórica: o primeiro filme brasileiro exibido no circuito comercial de cinemas do gigante asiático. Nise - O coração da loucura, dirigido por Roberto Berliner, foi exibido em mais de 550 salas na China. E um acordo cinematográfico ainda renderá novos frutos neste ano e levará a produções conjuntas.
O gaúcho Elisandro Rocha lançou o livro A Ponte em mandarim