Por trás da tradição no setor metalmecânico, que hoje garante a vanguarda da região em termos de inovação com sustentabilidade na produção, há o desafio de garantir cada vez mais cabeças pensantes e valorizadas neste processo. Para isso, o estímulo à atração de novos talentos com aptidão para esta indústria renovada começa bem cedo.
"Nós percebemos que, para estes jovens cientistas, é preciso mantê-los motivados e desafiados. Na Randon, temos procurado criar o espaço adequado para eles desenvolverem suas ideias sem medo de errar. Este novo perfil de jovens que entram na indústria, e que estamos buscando, gosta de atuar em projetos em que eles vejam os benefícios daquele produto ali na frente. Trabalham tendo um propósito", diz o CEO da Randoncorp, Sérgio Carvalho.
A retenção de talentos é um tema recorrente em indústrias como essa, em um momento de inovação constante.
Em Caxias do Sul, a escola de mecatrônica do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) desenvolveu, em conjunto com o Simecs, o projeto Escola do Amanhã, que leva a indústria para as salas de aula do ensino fundamental. Durante dois anos, atingindo estudantes entre 14 e 15 anos, eles têm a oportunidade de um curso de iniciação e desenvolvimento de robótica e inteligência artificial custeado pela indústria. O projeto chega e 2024 ao seu segundo ano, com 17 turmas de 25 alunos.
Na sequência, conta o coordenador do curso de Mecatrônica do Senai, Igor Krakeche, as indústrias têm custeado também a formação de jovens aprendizes, por dois anos, a partir dos 16 anos, também na área técnica em mecatrônica e em setores como robótica e automação. Atualmente, são mais de 200 alunos cursando esses projetos de jovens aprendizes na unidade de Caxias do Sul.
"Os cursos, neste módulo, têm as vagas muito rapidamente preenchidas e, ao final, a absorção destes talentos pelo mercado local é superior a 90%. É um esforço que todo o setor tem feito para desmistificar a formação técnica. Hoje, um jovem com 18 anos, tendo essa formação, pode chegar à indústria, por exemplo, como um ferramenteiro, com salários em torno de R$ 10 mil. Em plenas condições, por exemplo, de custear os estudos no Ensino Superior", diz o coordenador.
Ganha o novo profissional e ganha a indústria. A unidade de Caxias do Sul do Senai pode ser considerada uma das mais modernas no Estado, com um parque de máquinas como CNC, soldagem, injetoras, softwares e ferramentas de engenharia de alto nível. Semelhante ao que há nos parques industriais da região.
"Hoje, o Senai é essencial, porque permite que esses profissionais cheguem à indústria com uma prática de operação diferenciada. Ele opera com as máquinas na escola. E isso representa ganho de tempo e redução de custos para a indústria, que teria que treinar este profissional durante a operação", explica Krakeche.
Ainda assim, há um desafio para garantir essa formação. Em relatório da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), o Brasil aparece com apenas 11% da população entre 15 e 24 anos matriculada em cursos profissionalizantes. A média entre países membros da OCDE chega a 37%, mais do que o triplo. E a remuneração deste profissional, aqui no Brasil, chega a ser 32% superior a de um jovem formado no Ensino Médio tradicional.
"Há um descompasso no sistema educacional. Nosso maior desafio é garantirmos a atração para essa qualificação, não apenas para os jovens, mas para todos que querem se qualificar. As pessoas ainda não veem a indústria, de um modo geral, como um caminho para o futuro, mas em boa parte há falta de conhecimento do que é a indústria hoje. E o Senai é um caminho para chegar a esse crescimento profissional. Na Serra, 95% das indústrias preferem o profissional qualificado pelo Senai, porque a competitividade do setor depende diretamente da qualidade de quem opera esses novos sistemas industriais", aponta o diretor regional do Senai, Carlos Trein.
Entre as 58 unidades educacionais no Estado, o Senai conta com 17 entre a Serra e os Vales do Caí e Paranhana. Só em Caxias do Sul, são seis escolas de diferentes setores. Somente em Porto Alegre há maior diversidade, com oito escolas.