A terceira temporada de eventos regionais do projeto Mapa Econômico do RS foi encerrada nesta quinta-feira, 6 de novembro, em evento realizado no Centro de Convenções da Federação das Indústrias do Estado (Fiergs). O encontro reuniu lideranças políticas e empresariais para debater os desafios e as oportunidades das Regiões Metropolitana, Vale do Sinos e Litoral Norte. Nesse sentido, os principais indicadores estaduais mapeados no projeto do Jornal do Comércio foram apresentados pelo editor-chefe, Guilherme Kolling.
De acordo com ele, a série de reportagens e a análise de dados do Mapa Econômico mostram que a economia gaúcha tem se transformado em dois grandes eixos: a inovação e a sustentabilidade. Kolling mostrou uma série de iniciativas para exemplificar, como a transformação da biorrefinaria, a produção de plástico verde no Polo Petroquímico de Triunfo, a instalação de parques eólicos na Região da Fronteira e de fábricas de semicondutores na Região Metropolitana de Porto Alegre. "A economia do Rio Grande do Sul está se transformando em direção à inovação e à sustentabilidade. Esse é um processo antigo, mas nos últimos anos ele está tendo uma aceleração”, acrescentou Kolling.
Kolling também chamou a atenção para os efeitos de eventos extremos do clima sobre a economia gaúcho. Foram quatro estiagens nos últimos seis anos, além da enchente de 2024, gerando um impacto negativo no Produto Interno Bruto (PIB). Enquanto a economia brasileira se manteve relativamente estável, com poucas variações, a do Rio Grande do Sul teve intensa instabilidade, registrando abruptas mudanças a cada ciclo.
"Evidentemente, isso afeta a vida de todo mundo, mas também tem um efeito econômico, inclusive sobre o PIB gaúcho", destacou. Nesse aspecto, o editor-chefe do JC ressaltou a perda de participação do Estado no PIB brasileiro: em 2019, o Rio Grande do Sul representava 6,5% da economia brasileira, percentual que chegou a 5,9% em seus piores momentos — entre 2022 e 2023 — e que, em 2024, teve uma leve recuperação, chegando a 6,02%, ainda distante de uma retomada completa.
Observando o copo "meio cheio", Kolling destacou uma oportunidade de desenvolvimento econômico relacionada ao desafio da questão climática: a irrigação, voltada à resiliência do setor agropecuário diante das sucessivas estiagens que afligiram o território gaúcho recentemente. "A irrigação é um tema central para o desenvolvimento do Rio Grande do Sul, assim como o desafio climático, que deve estar na agenda de todos nos próximos anos", acrescentou o jornalista.
Editor-Chefe do JC, Guilherme Kolling Mapa Econômico Porto Alegre - FIERGS
EVANDRO OLIVEIRA/JC
Junto a isso, ele ressaltou as 90 oportunidades de desenvolvimento observadas pelo Mapa Econômico do RS em 2025 entre as regiões do Estado. "Ao fazer o mapeamento das cadeias produtivas gaúchas, nós vemos novas oportunidades, ou seja, desdobramentos dessas atividades que já existem, que podem seguir desenvolvendo o Rio Grande do Sul, ou então novos projetos. O bom é que em todas as regiões do Rio Grande do Sul existem grandes projetos que podem sair do papel e alavancar esse desenvolvimento econômico", destacou.
Entre eles, destaca-se a ampliação da construção civil em Passo Fundo, com mais de 100 prédios sendo erguidos simultaneamente. A isso, na Região Norte, somam-se projetos de industrialização de grãos — como a implantação da Soli3, em Cruz Alta — e o setor de biocombustíveis, que crescerá com a nova planta de produção de etanol e glúten vital da Be8, o que inclui o desenvolvimento de novas variedades de trigo e triticale para abastecê-la enquanto matérias-primas.
Alguns dos projetos já haviam sido mapeados como oportunidades em 2023, na primeira edição do Mapa Econômico do RS, e, desde então, saíram do papel. Na Região Sul, por exemplo, foi identificada a possibilidade de o Estado receber uma nova fábrica de celulose. "Vocês podem dizer, bom, mas desde 2003-2004 já se falava do projeto da Stora Enso, da Votorantim Celulose e Papel (VCP) para a parte Sul do Estado. Mas esses projetos estavam adormecidos, ninguém mais falava nesse assunto. E em 2023, ouvindo produtores rurais, prefeitos e o setor florestal, vimos que havia uma expectativa muito grande de uma nova fábrica de celulose, que estava amadurecendo esse projeto e que acabou saindo em 2024 com o anúncio da CMPC, maior investimento privado da história do Rio Grande do Sul”, explicou Kolling.
Na Serra Gaúcha, que tem uma sólida indústria metalmecânica, a expansão do enoturismo é apontada como grande oportunidade de desenvolvimento, aliando o agro na produção de uvas, a indústria na fabricação de vinhos, espumantes e sucos de uva, além do setor de serviços, movimentando turismo, hotelaria e gastronomia.
A Região Central avança na indústria de bebidas e alimentos, especialmente no Vale do Taquari. A Região Metropolitana, tema do último capítulo do Mapa Econômico do RS de 2025, se destaca em complexos de inovação e parques tecnológicos. Entre as iniciativas que estão avançando, está o projeto da Tellescom para uma fábrica de semicondutores em Cachoeirinha, que atuará amplamente na área já explorada pelo Ceitec, em Porto Alegre, e a "cidade dos Data Centers", da Scala Data Centers, que se instalará entre Eldorado do Sul e Guaíba.
Como desafios, além da questão climática, Kolling destacou a queixa em todas as regiões sobre a dificuldade de preenchimento de postos de trabalho formais pela mão de obra gaúcha, especialmente a qualificada. E, mais do que isso, a retenção de talentos no Estado frente a um cenário de perda populacional e estagnação demográfica esperado para os próximos anos.
"Dos 497 municípios do Rio Grande do Sul, 289 perderam população entre 2010 e 2022. A população do Estado teve um crescimento residual, graças às grandes e médias cidades. As pequenas perderam mais população ainda. E acho interessante mencionar que somente três das 28 microrregiões gaúchas tiveram um crescimento populacional de dois dígitos no período", pontuou Kolling, citando o Litoral, Hortênsias e Vale do Taquari.
Público formado por lideranças acompanhou apresentação do Mapa Econômico do RS em Porto Alegre
TÂNIA MEINERZ/JC
O editor-chefe ainda explicou a metodologia utilizada pelo Mapa Econômico do RS a partir da divisão do Estado em cinco macrorregiões. A partir disso, são utilizados dados públicos e relatórios da iniciativa privada, cruzados com entrevistas realizadas com especialistas, gestores públicos e lideranças políticas e empresariais de cada região. O projeto se soma, ainda, a outros do Jornal do Comércio que fornecem indicadores da economia gaúcha, como o Marcas de Quem Decide e o Anuário de Investimentos.