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Publicada em 24 de Junho de 2025 às 15:02

Clima adverso faz RS perder fatia no PIB nacional nos anos 2020

 PIB do Rio Grande do Sul registrou variação nos últimos anos

PIB do Rio Grande do Sul registrou variação nos últimos anos

Arte/JC
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Ana Stobbe
Ana Stobbe Repórter
Um lugar comum quando se fala em Produto Interno Bruto (PIB) do Rio Grande do Sul é que o desempenho depende em boa parte "de São Pedro", isto é, quando o clima ajuda a agricultura e as chuvas são adequadas, a economia vai bem. Entretanto, quando o Estado é atingido por estiagens prolongadas ou chuvas extraordinárias e concentradas, a safra é prejudicada e o agronegócio vai mal, o que por consequência prejudica o PIB gaúcho.
Um lugar comum quando se fala em Produto Interno Bruto (PIB) do Rio Grande do Sul é que o desempenho depende em boa parte "de São Pedro", isto é, quando o clima ajuda a agricultura e as chuvas são adequadas, a economia vai bem. Entretanto, quando o Estado é atingido por estiagens prolongadas ou chuvas extraordinárias e concentradas, a safra é prejudicada e o agronegócio vai mal, o que por consequência prejudica o PIB gaúcho.
Com variações climáticas, o PIB tem oscilado entre anos bons e ruins. Mas uma sequência de temporadas com clima adverso tem prejudicado a economia gaúcha, que perdeu uma parte de sua fatia no PIB nacional nos anos 2020.
Entre 2020 e 2024, o Produto Interno Bruto (PIB) gaúcho passou por muitas oscilações. Dos cinco anos sob retrospectiva, apenas o de 2021 pode ser considerado totalmente positivo. Nos demais períodos da série histórica, os valores foram direta e indiretamente impactados por eventos como a pandemia e variações climáticas extremas, incluindo estiagens em 2020, 2022 e 2023, além da enchente de 2024.
Estiagens afetaram o solo gaúcho nos últimos anos, prejudicando as lavouras em diversas partes do RS | Vinny Vanoni /PMPA/Divulgação/JC
Estiagens afetaram o solo gaúcho nos últimos anos, prejudicando as lavouras em diversas partes do RS Vinny Vanoni /PMPA/Divulgação/JC
As sucessivas perdas no campo fizeram o Rio Grande do Sul perder espaço no PIB nacional nos primeiros anos desta década. Enquanto em 2019 o Estado representava uma fatia de 6,5% do PIB brasileiro, em 2020 a fatia caiu para 6,2%. A queda não parou por aí: em seus piores momentos (2022 e 2023) chegou a alcançar 5,9%. Os dados mais recentes, de 2024, mostram uma leve recuperação do RS, chegando a 6,02% do PIB nacional.
PIB gaúcho cresceu de forma irregular, influenciado por variações climáticas |
PIB gaúcho cresceu de forma irregular, influenciado por variações climáticas
Os problemas começaram em 2020, com a pandemia causada pela Covid-19 somada a uma estiagem que impactou o agronegócio — cuja cadeia completa representa uma parcela de cerca de 40% do PIB gaúcho, dependendo da metodologia utilizada. Foi a pior queda percentual dos últimos anos, com uma redução de 7,2% do PIB em 2020, na comparação com os valores registrados em 2019.
O ano de 2021, por sua vez, foi de retomada, especialmente pela reabertura da economia após um ano de intensa preocupação com a pandemia. Além disso, houve supersafra no campo. O crescimento real do Rio Grande do Sul naquele ano foi de 9,3%. Assim, os valores nominais do PIB foram dos R$ 470,94 bilhões de 2020 para R$ 581,28 bilhões em 2021 (em valores corrigidos, R$ 621 bilhões em 2020 e R$ 678 bilhões em 2021).
Economia gaúcha teve reação em 2024, mesmo com o efeito das enchentes | Arte/JC
Economia gaúcha teve reação em 2024, mesmo com o efeito das enchentes Arte/JC
 
O crescimento não duraria muito tempo. Em 2022, sob nova estiagem, novamente o PIB gaúcho encolheu: a redução foi de 2,6% em relação ao PIB registrado em 2021. "Foi uma estiagem muito forte em termos de impacto econômico, a que teve o maior impacto no PIB do Estado, desde que o acompanhamos", avalia o experiente economista Martinho Lazzari, do Departamento de Economia e Estatística do Rio Grande do Sul (DEE-RS), vinculado à Secretaria Estadual de Planejamento, Governança e Gestão. O evento se repetiu em 2023 em menor intensidade, e o PIB gaúcho cresceu 1,9%, mas não voltou aos patamares anteriores.
O fatídico ano da maior tragédia climática da história do Rio Grande do Sul, 2024, começou com uma grande esperança: a previsão de supersafra. Mas as expectativas foram quebradas. Enquanto algumas regiões sofreram com enchentes, outras foram impactadas por mais uma estiagem.
Além da enchente de 2024, chuvas intensas em 2025 voltaram a castigar o solo agrícola, como no município de Santiago, na Região Central do RS | MARCELO STEINER/EMATER/DIVULGAÇÃO/JC
Além da enchente de 2024, chuvas intensas em 2025 voltaram a castigar o solo agrícola, como no município de Santiago, na Região Central do RS MARCELO STEINER/EMATER/DIVULGAÇÃO/JC
Apesar das adversidades, houve um expressivo crescimento de 4,9% do PIB em 2024 na comparação com 2023. Uma das explicações é que o cálculo do Produto Interno Bruto mede fluxo das riquezas, e as perdas e os impactos de eventos como as enchentes ainda devem ser sentidos a médio e longo prazos, de acordo com especialistas do DEE-RS. O efeito de estiagens na produção, em anos anteriores, também foi mais intenso.
"Na última divulgação do PIB alguém perguntou o que é pior, as enchentes ou as estiagens. O problema é que tivemos uma série de estiagens e elas têm impacto não só sobre a agropecuária, mas em todo o tecido produtivo, principalmente no Interior. Então, afetam o comércio, a capitalização do produtor e a indústria. É uma sequência de anos de baixa produção, que acaba desestimulando algumas atividades. Ainda estamos analisando se o Estado vai conseguir recuperar a perda desses anos. Tem sido um período bem difícil", analisa Lazzari.
Conforme pontua o diretor do DEE-RS, o estatístico Pedro Zuanazzi, a última vez que o Estado havia enfrentado duas estiagens sequenciais tinha sido em 2004 e em 2005. "Naquele período, vemos que o Rio Grande do Sul ficou abaixo da economia brasileira e esse gap não se fechou mais. Depois de 2005, acompanhamos o crescimento brasileiro até 2021, mas acabamos tendo outras quatro estiagens em seis anos (2020 a 2025) e mais a enchente. Se vai se repetir o que aconteceu em 2004 e 2005 e se vamos ter uma defasagem permanente, ainda vamos ter que esperar mais para saber", explica.

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