Em 2019, os estúdios Sony lançaram aquele que ficaria marcado como um dos piores filmes de super-heróis já feitos. X-Men: Fênix Negra tem um elenco de peso, o suporte de uma franquia de sucesso e um orçamento de US$ 200 milhões. Pois a obra cinematográfica foi, merecidamente, um fracasso de crítica e público. Nem toda a tecnologia disponível para se fazer cenas de ação com fundo verde foi suficiente para salvar o filme do diretor e roteirista Simon Kinberg. Mas, e o que isso tem a ver com o futebol, tema recorrente das colunas deste jornalista?
Pois bem, eu explico.
O tema da coluna de hoje será arbitragem. Todo mundo que circula pelo meio do futebol diz que não gosta de falar de arbitragem, mas a verdade é que adora. A figura do árbitro de futebol é atraente por si só. Em um universo movido por paixões, ele só atrai ódio. Ninguém ama um juiz de futebol, ninguém cria cânticos para ele, ninguém o idolatra e pede autógrafos. Os árbitros não aparecem nos álbuns de figurinhas dos campeonatos.
A arbitragem brasileira, especificamente, vem passando por seguidas mudanças em seu comando e, nesse caso, a manchete “sob nova direção” não tem representado nenhuma melhora. Sob a liderança do gaúcho Leonardo Gaciba, a arbitragem atingiu um nível triste de se ver. Os erros se acumulavam e, desta vez, com um agravante: os árbitros seguiam errando mesmo com a ajuda do VAR.
Gaciba saiu e entrou Wilson Seneme, que havia saído da comissão de arbitragem da Conmebol sem deixar saudade. O resultado foi que o que era ruim, ficou ainda pior.
A gota d’água foi o
erro grotesco da equipe liderada pelo árbitro Wilton Pereira Sampaio na partida entre Corinthians e Grêmio, na segunda-feira (18). A não marcação do pênalti em favor dos gaúchos pelo árbitro no campo já foi um erro enorme. Das arquibancadas do Itaquerão deu para ver que a penalidade foi clara. Pois bem, ainda assim, um descuido pode acontecer, uma falta de atenção no momento. O inaceitável é que,
munidos das imagens de todas as câmeras presentes no estádio, os assistentes do VAR não chamaram o árbitro para analisar o lance na beira do campo.
Diante disso, mais uma vez, o tema da profissionalização dos árbitros no País voltou ao debate. É inegável que um árbitro profissional, com carteira assinada, seria melhor para o futebol brasileiro. Entretanto, no caso de juízes da Fifa, essa desculpa não cola.
Boa parte dos árbitros brasileiros – a maior parte, provavelmente - trabalha em outras áreas, possuem suas profissões onde atuam quando não estão dentro de campo. Para esses, a profissionalização seria fundamental. Poderiam dedicar todo o seu tempo para o esporte, para o estudo do jogo, para a preparação física e mental.
No entanto, para os árbitros FIFA, a profissionalização não mudaria quase nada. Juízes como Wilton Sampaio dedicam todo o seu tempo ao futebol. Eles não têm outra profissão. Sampaio, inclusive, esteve na Copa do Mundo do Catar e ostenta o escudo da Fifa há 10 anos. Uma década como árbitro Fifa e não marca um pênalti escandaloso como aquele ocorrido no estádio corintiano.
Sampaio atuou em 13 jogos do Brasileirão 2023. Somando as outras competições em que esteve em campo, são 38 jogos apitados por ele neste ano. Isso dá exatamente um jogo por semana.
O pedido justo da profissionalização não encobre a baixa qualidade da arbitragem brasileira. Há aqueles que dizem que os árbitros são ruins porque não são profissionalizados. Por outro lado, os mais gaiatos afirmam que eles não são profissionalizados justamente por serem são ruins.
O fato é que a simples troca de nomes no comando não tem funcionado. A falha está na formação de árbitros e assistentes.
Quando o diretor e a preparação com o roteiro são ruins, não adianta uma tecnologia mega avançada, o filme não vai ser bom. É assim no cinema e é assim no futebol.