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Publicada em 25 de Maio de 2025 às 16:00

Suinocultura e avicultura fortalecem o agronegócio na Metade Norte do Estado

A  produção de proteína animal é a base econômica de muitos municípios na porção Norte do Estado

A produção de proteína animal é a base econômica de muitos municípios na porção Norte do Estado

/Jairo Backes/Embrapa/JC
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Gabriel Eduardo Bortulini, especial para o JC*
Gabriel Eduardo Bortulini, especial para o JC*
O Rio Grande do Sul está entre os principais produtores de suínos, aves e ovos do País. Grande parte dessas produções se concentra na Metade Norte do Estado, com exemplos de granjas autossustentáveis e de economia circular. No entanto, desafios como a baixa produção de milho são um empecilho recorrente para o setor. Nos últimos dias, ainda, a questão sanitária estremeceu a avicultura, depois da confirmação da gripe aviária no Estado.
 

O Rio Grande do Sul ocupa o terceiro posto entre os maiores produtores de suínos e aves, de acordo com o Atlas Socioeconômico do Estado, com base no triênio 2020-2022

O Rio Grande do Sul ocupa o terceiro posto entre os maiores produtores de suínos e aves, de acordo com o Atlas Socioeconômico do Estado, com base no triênio 2020-2022

/João Dionísio Henn/Embrapa/JC
O Rio Grande do Sul ocupa o terceiro posto entre os maiores produtores de suínos e aves, de acordo com o Atlas Socioeconômico do Estado, com base no triênio 2020-2022. No período, foram registradas, em média, 174 milhões de cabeças de aves e 6,1 milhões de suínos. Em números de abates, o Estado também manteve a terceira posição, tanto de aves quanto de suínos, segundo os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2024.
Das 6,46 bilhões de cabeças de frango abatidas em todo o País, 11,4% ocorreram no Rio Grande do Sul — o único Estado que apresentou queda no setor no último ano, com quase 50 milhões de cabeças a menos que em 2023. De acordo com os dados disponibilizados pela Associação Gaúcha de Avicultura (Asgav), foram abatidas 796 milhões de aves no Estado em 2024. Além disso, foram produzidas 240 mil toneladas de ovos.
Já na suinocultura, conforme os dados do IBGE, das 57,86 milhões de cabeças de suínos abatidas no País, o Rio Grande do Sul foi responsável, em 2024, por 17,1%. Trata-se de um acréscimo de quase 190 mil cabeças com relação ao ano anterior. Os dados disponibilizados pela Associação dos Criadores de Suínos do Rio Grande do Sul (Acsurs) apontam um total de mais de 11 milhões de cabeças abatidas no período.
Além disso, segundo o Painel do Agronegócio do Rio Grande do Sul - 2024, o setor de abate de suínos, aves e outros pequenos animais corresponde à grande maioria dos postos formais de trabalho da agroindústria gaúcha: mais de 74% do total do setor que mais emprega no agronegócio do Estado.
Grande parte desses resultados se concentram na Metade Norte. Conforme os dados da Asgav, a região Norte é responsável por cerca de 15% da produção avícola do Estado. É a terceira maior região produtora, junto com o Vale do Taquari e a Serra, com destaque para os municípios de Marau, Nova Bréscia, Tupandi e Westfália.
As mesmas regiões se destacam na suinocultura. Nesse caso, a procedência dos suínos para abate se concentrou, principalmente, no Norte e noroeste do Estado, nas cidades de Rodeio Bonito, Palmitinho, Aratiba, Santo Cristo e Nova Candelária.
Com relação ao mercado internacional, em 2024, o Rio Grande do Sul exportou mais de 280 mil toneladas de carne suína, segundo os dados disponibilizados pela Acsurs. Foi o terceiro maior desempenho desde 2001, ficando atrás apenas das exportações de 2021 e 2007, respectivamente, que quase atingiram a marca de 300 mil toneladas com destino ao mercado externo.
Na avicultura, a exportação de carne de frango atingiu a marca de 691 mil toneladas, o que rendeu ao Estado a terceira posição no ranking de exportações. Já a exportação de ovos foi de 6,5 mil toneladas, tornando o Rio Grande do Sul o segundo maior exportador do setor.
Um dos pontos mais abordados na entrevista com o presidente executivo da Asgav, José Eduardo dos Santos, foi justamente a atenção com as questões de biosseguridade. A conversa com a reportagem foi anterior ao caso de influenza aviária de alta patogenicidade (H5N1), identificada em Montenegro, que tem gerado embargos nas exportações para diversos países.
"Que nosso produtor, seja de ovos, de frango, esteja atento às questões de biosseguridade, invista em dispositivos de biosseguridade, que busque o seu responsável técnico, que mantenha esses dispositivos implantados e atualizados. Isso vai evitar prejuízos. É imprescindível que o produtor, seja ele profissional, comercial, que tenha suas aves de subsistência, aplique as questões de biosseguridade, para que não haja nenhum problema sanitário que venha gerar mais prejuízo para toda a cadeia produtiva", reforçou.
A preocupação do executivo se justificava mesmo sem o caso da gripe aviária instaurado há alguns dias. Em 2023, o País já tinha enfrentado focos de influenza aviária, mas não em planteis comerciais. Mesmo assim, foi necessária a aplicação dos protocolos sanitários. E, no último ano, um caso isolado da doença de Newcastle causou transtornos, culminando em embargos que afetaram a exportação do produto brasileiro. Obviamente, a expectativa pelo fim dos embargos foi frustrada.
A gripe aviária chega num momento em que a avicultura se recuperava de alguns impactos que culminaram na acentuada elevação do preço dos ovos — o que ocupou os noticiários há alguns meses. Segundo o Ministério da Agricultura, a gripe aviária deve ser controlada em junho: estimam-se 28 dias, partindo do dia 15 de maio, quando teve início o plano de contenção.
 

Avicultura (dados de 2024 - Asgav)

  • Abate de aves: 796 milhões
  • Produção de carne de frango: 1.831.565 toneladas
  • Exportação de carne de frango: 691.767 toneladas
  • Produção de Ovos: 240.574 toneladas
  • Exportação de Ovos: 6.500 toneladas
Suinocultura (dados a Acsurs 2024)
  • Abate de suínos: 11.350.733 cabeças
  • Produção de suínos: 958.700 toneladas
  • Exportação de carne suína: 280.622 toneladas

Suinocultura movimenta municípios

De todas essas regiões vizinhas, o Médio Alto Uruguai concentra a maior produção

De todas essas regiões vizinhas, o Médio Alto Uruguai concentra a maior produção

/K/DIVULGA??O/JC
Há anos, a suinocultura tem demonstrado força em toda a Metade Norte do Estado. Em conjunto com o Vale do Taquari, outras cinco regiões da Metade Norte se destacam como as maiores produtoras do setor: Médio Alto Uruguai, Fronteira Noroeste, Rio da Várzea, Norte e Celeiro.
De todas essas regiões vizinhas, o Médio Alto Uruguai concentra a maior produção. Foi responsável por mais de 17% da produção de suínos para abate em 2024. Toda a pujança da suinocultura na região é alavancada por dois municípios: Rodeio Bonito e Palmitinho.
Desde 2017, Rodeio Bonito só não foi o líder na produção estadual do setor em 2023, quando foi superado pela produção de Rondinha, do Rio da Várzea.
No último ano, contudo, o município do Médio Alto Uruguai retomou seu posto, com um abate de mais de 266 mil animais. No segundo lugar desse ranking, o município de Palmitinho esteve próximo, com 257 mil suínos abatidos.
Segundo Valdecir Folador, presidente da Acsurs, a suinocultura cresceu vigorosamente na região nas últimas décadas e hoje supre quase completamente a demanda do parque industrial.
"Você só consegue crescer a produção de suíno se você tem um parque de agroindústria pra absorver essa produção. E hoje o Rio Grande do Sul, de modo geral, o setor agroindustrial que absorve, que recebe, que abate e transforma suínos, está todo ele praticamente já suprido, não tem muita folga de agroindústria. Então não tem como crescer numa escala muito significativa, normalmente, porque você precisa ter colocação e a colocação vai dentro da agroindústria. É claro que tem ainda um potencial de crescimento, tem oportunidade, mas elas já vão num ritmo mais lento anualmente", explica.

Folador destaca crescimento do setor na região nas últimas décadas | ACSURS/Divulgação/JC
Folador destaca crescimento do setor na região nas últimas décadas ACSURS/Divulgação/JC

Folador, que também tem uma granja na cidade de Barão de Cotegipe, na região Norte, acredita que o crescimento deve acompanhar o consumo, seja do mercado interno quanto do mercado de exportação. Caso contrário, o setor pode enfrentar dificuldades, como ocorreu nos anos de 2022 e 2023.
"O setor passou por um aperto econômico, porque nós crescemos de 6 a 7% ao ano e a demanda da ponta não acompanhou em absorver tudo isso. Então a suinocultura, crescendo na casa entre 1,5 até, no máximo, 3%, consegue fazer com que nós tenhamos rentabilidade, porque o mercado da ponta, interno e externo, consegue absorver sem criar uma oferta maior que a demanda. Então você tem um equilíbrio econômico", esclarece.
Apesar desse passo mais lento, a suinocultura segue sendo a base econômica de muitos municípios, como os já citados Rodeio Bonito e Palmitinho, por exemplo. Nesse sentido, o presidente da Acsurs afirma que a atividade tem contribuído para o desenvolvimento não só das regiões produtoras, mas de todo o Estado, com a geração de renda e empregos. Sua importância, entretanto, ganha destaque principalmente no desenvolvimento dos municípios.
 

Região Norte é a terceira maior produtora de carne de frango do Estado

Estiagens dos últimos anos foram um empecilho ainda maior e um dos principais gargalos da avicultura

Estiagens dos últimos anos foram um empecilho ainda maior e um dos principais gargalos da avicultura

/Frangos/Divulgação/JC
A região Norte representa 15% da produção de carne de frango do Estado, segundo os dados da Associação Gaúcha de Avicultura (Asgav). Considerando os números de 2024, em que foram abatidos mais de 790 milhões de aves no Estado, a região foi responsável por cerca de 120 milhões desse total.
É um número considerável, em uma região com unidades de importantes indústrias do setor. No entanto, quando o assunto é o potencial de crescimento da avicultura na região, o presidente da Asgav é cauteloso. Para ele, as transformações globais no ramo da proteína animal exigem atenção: desde as crises, sejam sanitárias, de conflitos diplomáticos ou bélicos, até as exigências ambientais mais rigorosas, como as da União Europeia.
"A gente tem que estar muito antenado disso para saber qual é o caminho. Eu acho que toda a indústria hoje, que almeja crescer e ter um dispositivo de alternativa do mercado, tem que buscar exportação. Porque o Brasil hoje é esse grande player, no que se refere à proteína animal. E aí ele avalia essas questões todas e vê com seu radar o potencial de investimento e ampliação. Ele existe, mas eu volto a dizer, tem que estar muito atento: as indústrias, os empreendedores, os produtores. Têm que estar muito atentos a essas mudanças e essas implicações que vêm acontecendo no mundo e no Brasil também", avalia.
Adaptar-se às exigências ambientais é imprescindível. Nos últimos anos o setor agropecuário tem enfrentado sequenciais dificuldades, relacionadas aos extremos climáticos. O exemplo mais emblemático ocorreu há um ano, na enchente de maio de 2024, mas não se resume a ela: no início de 2025, o excesso de calor afetou a produção avícola, diminuindo a condição de conversão alimentar das aves, bem como o peso do frango de corte e a produção de ovos. Além disso, as estiagens dos últimos anos foram um empecilho ainda maior em um dos principais gargalos da avicultura: a insuficiência da produção de milho.
Segundo o presidente da Asgav, para suprir as necessidades internas, os produtores precisam comprar, todos os anos, mais de dois milhões de toneladas de milho de outros estados, o que encarece a produção. Para Valdecir Folador, presidente da Associação de Criadores de Suínos do Rio Grande do Sul (Ascurs), a mesma dificuldade é enfrentada na suinocultura gaúcha: "acredito que hoje um dos principais desafios é essa questão do abastecimento".
Ainda assim, José Eduardo dos Santos acredita que o setor consegue se manter graças à pujança da produção avícola do Estado, movida pelas indústrias, pelas cooperativas e pelo próprio produtor.

 Santos aponta a insuficiência de milho como entrave a ser vencido | Asgav/Divulgação/JC
Santos aponta a insuficiência de milho como entrave a ser vencido Asgav/Divulgação/JC

"Poderíamos estar numa situação muito melhor, caso tivéssemos uma política mais avançada para incentivar a produção de milho no Estado do Rio Grande do Sul, mas é um dos fatores aí que a gente ainda enfrenta", defende. No entanto, uma ameaça que parecia distante abalou a produção avícola do Estado nos últimos dias: a questão sanitária.
 

Granja Bertella é destaque em produção de aves e suínos no Alto Uruguai

Pouco mais de uma década mais tarde, a Granja Bertella cria 10 mil suínos

Pouco mais de uma década mais tarde, a Granja Bertella cria 10 mil suínos

/Granja Bertella/Divulgação/JC
Por volta de 2006, Giovani Bertella investiu R$ 125 mil para construir o primeiro galpão, destinado à criação de suínos, em Campinas do Sul, na região do Alto Uruguai. Iniciava-se uma parceria bem-sucedida com a atual BRF. Para isso saldar os custos, Bertella recorreu a um financiamento de R$ 80 mil, no Banco do Brasil, com três anos de carência.
Foi o tempo suficiente para que os lucros da produção possibilitassem a construção de mais uma unidade: quando começou a pagar o primeiro financiamento, a Granja Bertella já tinha dois galpões construídos. Depois de quatro anos, já eram quatro pavilhões de suínos.
A essa altura, por volta de 2010, a família estava satisfeita. Por outro lado, a BRF se mantinha atenta ao crescimento da granja no Norte gaúcho. Giovani recebeu a proposta para construir mais dois barracões, para receber 2 mil suínos, num sistema de alimentação líquida. A construção teve início em 2012. Pouco tempo depois, a granja já alojava 5 mil suínos e contava com um biodigestor.
Pouco mais de uma década mais tarde, a Granja Bertella cria 10 mil suínos, distribuídos em oito galpões. Há alguns anos, ainda, o produtor firmou uma parceria com a JBS. Hoje, a propriedade de 90 hectares possui, também, quatro aviários, que alojam 170 mil aves por lote.
Mas Bertella quer ainda mais: a ideia, para o futuro, é construir mais uma granja, com crechário para leitões a partir de 6 kg. É a etapa que falta na produção dos suínos da propriedade. Atualmente, a granja recebe animais maiores, com 22kg, e conduz todo o ciclo de terminação, até o abate. Segundo Bertella, caso o projeto se consolide, o novo empreendimento permitiria atender completamente a demanda da granja.
"Já temos a proposta da empresa integradora. Como a nossa família tem sustentabilidade e sucessão familiar, também facilita para a empresa, pela confiança no nosso trabalho. Todos esses anos a gente trabalha com essa parceria, então a gente tem bastante respaldo diante da empresa", relata.
Para além dos investimentos e dos projetos, Bertella celebra a segurança financeira de suas produções. Não há mau tempo com as aves e suínos. Para ele, que também lida com a produção agrícola, não há comparação entre as atividades: "A lavoura está no céu aberto. Muito sol prejudica, muita chuva prejudica. Com suínos e aves não tem isso, é completamente diferente. Com uma parceria, uma integração que você tem com essas empresas, mesmo em períodos de crise, você nunca tem oscilação de pagamento. Você sempre ganha o valor que é pago, todo ano tem reajuste, então não tem tempo ruim, se você tem uma mão de obra qualificada", explica.
Bertella comemora os quase vinte anos de atividade na granja, vendo as atividades ganharem novo fôlego com a atuação de Felipe e Gabrieli, os dois filhos. Não bastasse isso, a propriedade já recebeu reconhecimentos nacionais e internacionais, graças à sustentabilidade. 
 

Dejetos de suínos viram energia limpa e insumo para o campo

Tudo tem início na criação animal, cuja atividade gera resíduos orgânicos que são transformados em duas fontes valiosas: biogás e energia renovável

Tudo tem início na criação animal, cuja atividade gera resíduos orgânicos que são transformados em duas fontes valiosas: biogás e energia renovável

/Nelson Morés/Embrapa/JC
Todas as manhãs, os irmãos Felipe e Gabrieli Bertella saem de suas casas, na zona urbana de Campinas do Sul, rumo à Linha Lajeado Ipiranga, para tomar o café da manhã com os pais. É o tempo necessário para que a família converse sobre os planos para o dia, antes de cada um seguir para os próprios serviços na granja. "Esse é o maior orgulho que a gente tem, de poder ter os filhos perto, trabalhando junto", afirma Giovani.
O exemplo da família Bertella é cada vez mais raro nas propriedades rurais. Não à toa, a granja conquistou tanta confiança perante as empresas parceiras. Gabrieli retornou logo após a graduação em Engenharia Agrícola e Ambiental na UFMT, incentivada pelos pais.

Família Bertella | Família Bertella/Arquivo Pessoal/JC
Família Bertella Família Bertella/Arquivo Pessoal/JC

"Com certeza, meus pais se sentiram mais motivados. E aí começamos a implementar mais práticas sustentáveis na granja. Isso me motivou, pois a gente sabe que é difícil, logo que a gente se forma, né? Então, me motivou porque meus pais sempre me ouviram e todas as decisões sempre foram tomadas em família. Claro que existe questão de hierarquia, mas, seguindo isso, termos um convívio muito bom e tomada de decisões em família", conta. Recém-graduada, Gabrieli retornou à propriedade com uma bagagem a mais: novas práticas aprendidas na universidade, que geraram produções mais sustentáveis e eficientes.
"Começamos aproveitando os materiais que a granja já tinha, como matéria-prima. Buscamos a eficiência em todas as áreas praticadas na granja e, consequentemente, estamos praticando a sustentabilidade. Então, com isso, conseguimos a questão da economia circular aplicada dentro da propriedade", avalia. Tudo começa pelos suínos. Com os dejetos produzidos, são gerados tanto o biogás quanto o biofertilizante, que passa pelo processo de compostagem e é incorporado com a cama de aviário, formando uma massa sólida, própria para a utilização na lavoura.
Já o biogás é gerado pelos dois biodigestores da granja, através do processo anaeróbio de microrganismos. O biogás oriundo desse ciclo é aproveitado tanto na produção de energia térmica quanto na produção de eletricidade. Ou seja, toda a energia elétrica consumida na granja é gerada por esse biogás. Já a energia térmica serve para o aquecimento dos aviários.
Esse modelo é o que torna a Granja Bertella autossustentável. Segundo Gabrieli, a propriedade já foi premiada na Expointer, há alguns anos, como a mais sustentável do Rio Grande do Sul por conta dessas práticas. "Elas com certeza ajudam na economia da granja, pois tanto adubo orgânico, energia elétrica e energia térmica são práticas que reduzem custos. E, além da redução de custos, melhoram a produção. Desde a questão do adubo orgânico, quanto a energia térmica nos aviários, a gente consegue ter um aquecimento muito mais uniforme. Então com certeza reduz custo e melhora a produção", esclarece.
Para Giovani, trata-se de um investimento pequeno, considerando os benefícios. "É uma caloria que você tem ali, que você pode usar como combustão, tanto para aquecer como para queimar. É uma das melhores rendas, porque você tem na propriedade e só falta fazer ele produzir. Quem tem granja de suínos tem a matéria-prima, então só falta implantar um sistema, um biodigestor, e produzir esse gás. Você produz toda a energia da propriedade, pode implementar uma fonte de aquecimento, um secador, uma caldeira, e você tem uma caloria de graça, sem custo nenhum, a não ser o investimento inicial, que se paga em poucos anos", reforça.
No entanto, muito além dos benefícios financeiros, as práticas sustentáveis e de economia circular adotadas na Granja Bertella são exigências cada vez mais rígidas, principalmente do mercado externo — destino de grande parte da proteína animal produzida no Estado. Com a ação dos biodigestores, todo o gás que seria lançado na atmosfera, potencializando o efeito estufa, é transformado em fontes de energia e fertirrigação para a propriedade.
Segundo Valdecir Folador, presidente da Associação de Criadores de Suínos do Rio Grande do Sul (Acsurs), ainda são poucas as granjas que contam com a tecnologia de biodigestores. Contudo, práticas sustentáveis são cada vez mais comuns, principalmente a instalação de energia solar. "Posso afirmar que mais de 99% da suinocultura atende rigorosamente a questão ambiental e também a questão da biossegurança das granjas, buscando cada vez mais proteger os rebanhos e cuidando do meio ambiente", garante.
Da mesma forma, José Eduardo dos Santos, presidente executivo da Associação Gaúcha de Avicultura (Asgav), defende que a avicultura apresenta baixos impactos ambientais, com sistemas que compensam a emissão de gases na atmosfera. Além disso, segundo ele, o setor tem investido em energias alternativas.
"Nós temos uma grande quantidade de estabelecimentos, hoje, utilizando energia voltaica, energia solar. Isso já é uma demonstração, nós temos indústrias com frotas de caminhões com motor elétrico. Nós temos a questão do reaproveitamento das águas, de instalação de cisternas. Então, o setor está bastante atento. Claro que tudo isso vai gradativamente, de acordo com que as exigências e com que o olhar que a empresa, o empresário e o produtor, têm dessas questões ambientais", finaliza.
 

*Gabriel Eduardo Bortulini é graduado em Jornalismo pela UFSM e tem mestrado e doutorado em Escrita Criativa pela Pucrs. É um dos fundadores da Oxibá Casa da Escrita, onde trabalha com leitura crítica e lapidação de textos. Tem textos publicados em jornais, livros e revistas. "Refúgio para bisões", seu romance de estreia, conquistou o terceiro lugar no prêmio Biblioteca Digital do Paraná e foi publicado pela Matria Editora, em 2024.

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