Enquanto o Produto Interno Bruto (PIB) gaúcho é divulgado trimestralmente, os dados municipais são informados com defasagem de alguns anos. O mais recente recorte municipal do PIB é com os dados de 2021. Uma revisão da metodologia do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) atrasou a divulgação dos números de 2022, que apenas será apresentada no final deste ano. Mesmo assim, é possível avaliar tendências regionais.
Pesquisadores do Departamento de Economia e Estatística do Rio Grande do Sul (DEE-RS), vinculada à Secretaria Estadual do Planejamento, consideram ser possível dividir o Rio Grande do Sul, de uma maneira geral, em duas grandes porções: a parte Centro-Sul e a porção Norte, que forma uma meia lua com Serra, Região Metropolitana e Litoral Norte. Enquanto a parte Norte do Estado apresenta crescimento potencial e indicadores socioeconômicos superiores, a do Sul ainda busca reverter as suas dificuldades.
"Vemos que são dois estados. O desempenho de educação das escolas municipais públicas na Metade Norte do Estado é muito maior que o desempenho das escolas municipais públicas na Metade Sul. Quando pegamos dados de renda, vemos dois estados, diferenças sociais muito grandes. E conseguir reverter isso é algo bem difícil. Existem diversas iniciativas (previstas para o Sul), empresas que estão se instalando, temos a expectativa de que, sim, se possa reverter", avalia o coordenador do DEE-RS, Pedro Zuanazzi.
Diretor do DEE, Pedro Zuanazzi observa grandes diferenças sociais entre as regiões do RS
TÂNIA MEINERZ/JC
A Região Norte do RS é uma das que mais aponta crescimento. Isso porque nos últimos 20 anos vem conquistando maior protagonismo no PIB gaúcho. De 2020 a 2021, por exemplo, o Conselho Regional de Desenvolvimento (Corede) Produção, que engloba 21 cidades da região, cresceu seu PIB em R$ 6 bilhões, chegando a ocupar uma fatia de 5,4% do PIB do interior gaúcho (excluindo-se, portanto, o Metropolitano do Delta do Jacuí, que engloba Porto Alegre e entorno).
"Tem a produção de soja, a indústria de máquinas agrícolas que ficam por ali, tem Passo Fundo, que é uma economia de serviços para atender as pessoas de lá e agora tem a questão dos biocombustíveis, inclusive aqueles que usam cereais de inverno que sofrem relativamente menos com o clima, sofrendo menos variações que a soja. É uma região que tem recebido esses investimentos também", comenta o economista da DEE Martinho Lazzari.
Há, ainda, especificidades regionais. A divisão do RS em porções menores — como a que divide o Estado em cinco grandes regiões, proposta pelo Mapa Econômico do RS, realizado pelo Jornal do Comércio — permite identificar essas características específicas de cada uma delas, radiografando com maior precisão a economia gaúcha.
A Região da Campanha, por exemplo, diferencia-se da Região Sul, de Rio Grande e Pelotas, embora ambas possam ser alocados na porção Sul do Estado, assim como Fronteira Oeste, que engloba municípios como Uruguaiana e Alegrete, com uma economia agrícola e marcada por desigualdades sociais.
"Quando pensamos a região de Pelotas e Rio Grande, tem um indicador, agora, quando se pensa na Região da Campanha, tem outras características, como propriedades rurais muito maiores que as da Região Norte, mas com os indicadores socioeconômicos todos piores", compara o diretor do DEE-RS, Pedro Zuanazzi.
O próprio PIB de cada um dos Conselhos Regionais de Desenvolvimento (Coredes) demonstra isso: em 2021, enquanto a Campanha obteve pouco mais de R$ 11 bilhões, o PIB da Região Sul somou quase R$ 37 bilhões, mais do que o triplo.
É possível ver, ainda, uma expansão da produção de soja para municípios como Santa Rosa, Santiago, Santa Maria, Cachoeira, Dom Pedrito. Isso agregou valor à agropecuária da região, podendo trazer recursos para a porção do Centro e do Sul. Apesar disso, a geração de serviços e indústrias associadas ao aumento da produção agrícola não pôde ser observada.
Outro ponto positivo para Sul e Centro-Sul são os grandes projetos concretizados ou anunciados na região. Entre eles, uma nova fábrica de celulose em Barra do Ribeiro, a implantação de uma biorrefinaria em Rio Grande e a instalação de um parque eólico em Santana do Livramento. Todos projetos mapeados pelo Mapa Econômico do RS.
Na Serra e, especialmente, no Litoral Norte, chama a atenção o crescimento populacional, embora os dados mais recentes do Censo tenham sido publicados em 2022, antes da enchente e sem pegar todo o impacto da pandemia. De qualquer forma, o fluxo maior de população gera demandas, que consequentemente levam à criação de negócios e a geração de empregos, o que já é visto no Litoral Norte. Assim, são zonas que podem ter algum crescimento nos próximos anos.
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