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Publicada em 28 de Dezembro de 2023 às 18:58

Discoate colocou a Zona Sul no mapa noturno de Porto Alegre

Inaugurada em 1979, na divisa dos bairros Tristeza e Assunção, a Discoate foi inovadora na pista de dança e no aspecto audiovisual

Inaugurada em 1979, na divisa dos bairros Tristeza e Assunção, a Discoate foi inovadora na pista de dança e no aspecto audiovisual

ACERVO MARCELLO CAMPOS/REPRODUÇÃO/JC
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Marcello Campos
Separado da área central da cidade por cerca de dez quilômetros, o trecho inicial da Zona Sul de Porto Alegre ainda parecia uma pacata cidade-vizinha no final dos anos 1970. Quadras próximas à orla abrigavam casas de algum comércio e muitas residências, incluindo elegantes bangalôs a lembrarem décadas anteriores da área como destino de veraneio em um Guaíba bem menos poluído. Movimento para valer, somente o dominical, com a programação regular dos clubes, competições náuticas, atrativos gastronômicos como o restaurante Bologna e bares antológicos (e outros nem tanto). Timbuka, Por do Sol, Bat Bat, Bondinho, Zeppelin, Taba. Calçadas tomadas de gente, trânsito engarrafado.
Separado da área central da cidade por cerca de dez quilômetros, o trecho inicial da Zona Sul de Porto Alegre ainda parecia uma pacata cidade-vizinha no final dos anos 1970. Quadras próximas à orla abrigavam casas de algum comércio e muitas residências, incluindo elegantes bangalôs a lembrarem décadas anteriores da área como destino de veraneio em um Guaíba bem menos poluído. Movimento para valer, somente o dominical, com a programação regular dos clubes, competições náuticas, atrativos gastronômicos como o restaurante Bologna e bares antológicos (e outros nem tanto). Timbuka, Por do Sol, Bat Bat, Bondinho, Zeppelin, Taba. Calçadas tomadas de gente, trânsito engarrafado.
Mas a vida boêmia na região seguia em marcha-lenta, com poucas opções noturnas, a exemplo da Boate do Avião, Kiwi e Taba, todas em Ipanema. Até que o eixo formado pelos bairros Tristeza e Assunção mudasse esse cenário, tendo como protagonista um casarão de planta-baixa triangular no número 2.163 e com entrada por seu vértice, na esquina da avenida Wenceslau Escobar com a rua Doutor Barcellos. Suas espessas paredes, erguidas na década de 1960 pelo dentista Samuel Siqueira para um (jamais inaugurado) cinema popular com espaços externos para lojas, acabaram servindo a uma sequência de inquilinos em seus dois andares. Pronto-socorro. Malharia. Padaria. Academia.
Em 1978, deflagrou-se novo capítulo no térreo do imóvel: a boate JetSet, instalada por um empresário oriental - que acabou desistindo antes do fim do ano. A partir da indicação de uma executiva da Pepsi com contatos em comum, o disc-jockey Miguel Petry - já conhecidíssimo como "Magro", depois "Mago" Miguel - assumiu o ponto com planos de repetir o sucesso obtido na praia de Atlântida com sua Discoteka StereoMoto, mesmo nome da então recém-fechada loja de discos da qual Miguel havia sido coproprietário na galeria Champs Elysées (Moinhos de Vento) desde 1973. O hoje consultor de importações de 69 anos explica:
"O Dudu Alvares, um dos reis da noite e segundo dono do Encouraçado Butikin, tinha me vendido de uma só tacada a boate Billyskão, no Morro Santa Tereza, e o bar Bond'Eu, na Protásio Alves. A primeira repassei ao chinês Chao Chih Yung (futuro fundador do restaurante Nanking) em pagamento pelo ponto da Jet Set, e a outra repassei a meu ainda sócio Vitor Elwanger, desinteressado em prosseguir como sócio no Litoral". Após repaginar o espaço da Wenceslau, em junho de 1979 o "Magro" abriu com o irmão Léo as portas da Discoate (fusão das palavras "discoteca" e "boate"), de olho no público jovem de classes média e alta.
Cruzando-se o hall com bar à esquerda e, no lado oposto, um painel com foto de pôr-do-sol, a porta dupla de vidro dava acesso à primeira das duas pistas de dança, espelhadas de cima a baixo. Uma com mesinhas de tampo em inox, pufes brancos e, ao fundo, parede a esconder um enorme depósito onde o projeto original previa o cinema. A outra com camarotes, dobrando-se à direita. O mapa é de Léo, 64 anos, advogado, corretor de seguros e então piloto do caixa, escritório e cabine de som, em link direto com a portaria por câmera e interfone. "Era um formigueiro aos sábados, com 400 pessoas e até o dobro no giro da noite. Não tínhamos concorrência direta naquela parte da cidade."
Aberta às sextas, sábados, feriados e eventuais festas fechadas durante a semana (exceto no verão, por conta do funcionamento da "matriz" em Atlântida), a nova casa agradou em cheio com uma fórmula musical baseada em hits das paradas internacionais, discomusic e novidades tocadas em primeira mão por Miguel, ex-estudante de Engenharia Eletrônica cuja larga experiência como DJ proporcionava conexões fantásticas a gravadoras e confrarias musicais dos EUA, Europa e Ásia, com participação constante em eventos como visitas e feiras do mercado tecnológico e fonográfico.
 

Os caminhos da noite levam ao Sul

Leo e Miguel Petry, responsáveis pelo bem-sucedido empreendimento

Leo e Miguel Petry, responsáveis pelo bem-sucedido empreendimento

MARCELLO CAMPOS/ESPECIAL/JC
Não foi apenas o pessoal da Zona Sul. Com predomínio de universitários de 18 a 25 anos e poder aquisitivo acima da média, a galera desembarcava de diferentes partes da cidade - na qual sobravam alternativas de entretenimento noturno - para conferir os agitos da Discoate. O intenso movimento gerado pela casa de fachada branca, janelas pretas e um longo toldo amarelo, encimado pela logomarca em neon piscante, abarrotava também o lado de fora, ocupando esquina, calçadas próximas e até o canteiro central da Wenceslau Escobar. Parcela considerável da moçada era de estudantes do Interior fixados na Capital, estabelecendo com os Petry (que jamais residiram na área) uma sintonia que, em muitos casos, resistiria ao tempo.
José Gattiboni Pacheco era um desses personagens. Vindo de São Luiz Gonzaga (Noroeste gaúcho) para cursar Administração, e então morador do Centro, ele promoveu 15 edições de sua 'Festa do Interior', com gente das mais variadas cidades a confraternizar no casarão. "A divulgação era na base da panfletagem em faculdades, Parcão e lanchonete Rib's da rua 24 de Outubro, a bordo do meu Corcel II zero-bala que fazia sucesso com a mulherada", gargalha o comerciante aposentado de 64 anos. "Aliás, a comissão de bilheteria ficava toda lá dentro, em hi-fi (vodka com refri de laranja). Foi também na Discoate que conheci a primeira das minhas três esposas e também o Miguel, que anos depois reencontraria nos Estados Unidos, eu a passeio e ele morando lá."
Da porta para dentro, sob a malandra vigilância do porteiro Seu Augusto e do segurança Betão, pipoca grátis até a madrugada e uma ausência certa: cerveja. "As discotecas mais prestigiadas geralmente não vendiam a bebida, que até meados da década de 1980 era sinônimo de boteco", relembra Léo Petry. O lance era uísque, vodka, champanha, vinho branco, vermute, licores, cuba-libre, hi-fi, gin-tônica, alexander e outros drinks, em meio à disputa acirrada entre multinacionais etílicas que faziam das boates um ambiente estratégico para divulgação, lançamento e teste de novidades. O segmento de refrigerantes também chamava a turma para dançar, marcando terreno com produtos, brindes, eventos e promoções.
A norte-americana Pepsi logo se antenou ao potencial da Discoate como parceira em suas ações borbulhantes de marketing, direcionadas ao público jovem e que, reforçadas por uma unidade de produção e engarrafamento no bairro Praia de Belas, ajudavam a fazer do Rio Grande do Sul um dos poucos lugares do planeta onde a marca superava em vendas a arquirrival Coca-Cola. Com emblema da empresa em placa luminosa no topo do casarão, a discoteca foi uma das primeiras do Estado a contar com máquina jet da linha de refris, sem contar os brindes e citações em anúncios de eventos patrocinados - dentre os destaques, uma das festas de lançamento concurso Garota Verão (1983).
Esse relacionamento é enaltecido pela relações-públicas Ana Maria Zimmermann, 82 anos, ex-superintendente de promoções da Pepsi para o mercado gaúcho e cujos contatos em comum haviam sido responsáveis pela própria dica do ponto da JetSet ao Miguel, em 1978. "O 'Magro' (depois reapelidado 'Mago') Miguel era um renomado discotecário e com gosto por novidades, motivando assim um apoio que casava com nossa estratégia de investir em iniciativas de cultura e entretenimento jovem", corrobora. "Eu levava muitos executivos estrangeiros à discoteca e, por trabalho ou diversão, aparecia todos os sábados por lá, aproveitando para dar uma dançadinha."
 

Logomarca da Discoate, casa noturna que agitou as noites da Zona Sul de Porto Alegre nos anos 1980

Logomarca da Discoate, casa noturna que agitou as noites da Zona Sul de Porto Alegre nos anos 1980

ACERVO MIGUEL PETRY/REPRODUÇÃO/JC
Dentre os que se divertiam sem álcool estava Andiara Barbedo, então estagiária de Educação Física na academia La Femme, que ocupava o segundo pavimento do casarão. "Por morar na Assunção, a Discoate era para mim uma espécie de segunda casa, de modo que eu aparecia nem que fosse na volta de alguma festa em outro lugar, como Encouraçado Butikin, Makumba ou Água na Boca", relembra aos 60 anos. "Meus pais (ele delegado de Polícia do bairro Tristeza e ela professora de Filosofia no Ensino Médio) também curtiam aquelas noitadas e tinham plena confiança nos Petry, tanto que duas das minhas três irmãs comemoraram lá os seus début".

Das tantas memórias daquele tempo de muita Rita Lee, Stevie Wonder e Donna Summer, uma continua a motivar boas risadas: “Um amigo tinha me levado à Discoate quando outro conhecido, lá pelas tantas, deu um jeito de se aproximar dizendo que queria ficar comigo. Eu também estava a fim, mas não queria agir de forma deselegante com o primeiro, então aleguei estar com sono ou algo do tipo, para que ele me levasse de volta. Discretamente, combinei de o segundo dar um tempo e me pegar em casa, na avenida Copacabana, a poucas quadras. Pois 10 minutos depois de eu fechar a porta, o pretendente apareceu e não houve dúvida, voltamos para a discoteca”.

Fernando Heitmann, 65 anos e empresário do ramo de piscinas, morava na rua Cariri, ali pertinho. Daqueles tempos de canteiro central da Wenceslau repleto de carros quase até a avenida Otto Niemeyer e boate lotada dentro e fora, um episódio ainda o diverte: "Minha irmã tinha um namorado inglês, e uma vez ele veio a Porto Alegre. Levamos o sujeito para conhecer a Discoate, que estava completamente cheia. Fomos cruzando aquele mar de gente e o cara começou a pedir licença, com educação de lorde britânico, para cada pessoa na pista, até eu explicar que o negócio era seguir a onda, do contrário a gente não chegaria a lugar algum".

Olho na tela

Prédio de esquina, na fronteira entre os bairros Tristeza e Assunção, tornou-se espaço concorrido na noite da Capital

Prédio de esquina, na fronteira entre os bairros Tristeza e Assunção, tornou-se espaço concorrido na noite da Capital

ACERVO MARCELLO CAMPOS/REPRODUÇÃO/JC
Depois de ostentar durante os dois primeiros anos de atividades o nome Discoate-JetSet (por uma questão de praticidade, mantivera-se o alvará de sua antecessora), em 1981 o negócio teve o seu nome de fantasia substituído por Discoate Vídeo. A mudança acompanhava a aposta na projeção de clipes, shows e outros vídeos, uma novidade de impacto a avisar que o viajado 'Mago Miguel' não estava para brincadeira. Importado dos Estados Unidos, o primeiro telão de uma discoteca brasileira fez a cabeça da turma. O aposentado Emílio Pacheco, 63 anos, frequentador esporádico entre 1982 e 1984, lembra muito bem:
"Com 20 e poucos anos, estudante de Direito e já trabalhando como bancário, eu morava no Centro e ia lá de vez em quando, no meu Fusca. Assim como na StereoMoto de Atlântida, a casa exibia coisas como trechos de filmes dos Beatles ou um registro do quarteto gaúcho Discocuecas dublando uma de suas músicas humorísticas no programa de TV Globo de Ouro. Lembro, ainda, de um vídeo promocional da balada Pedacinhos (1983), do cantor paulista Guilherme Arantes, com o artista mandando um abraço especial ao pessoal da boate."
O ex-comunicador José Luiz Bacchieri foi um dos que incorporou a Discoate a seu roteiro boêmio, ao ser transferido da Rádio Atlântida de Pelotas para a de Porto Alegre em 1983. “Era longe e difícil de achar vaga para o carro, no entanto fiz questão de conhecer assim que cheguei, pois já ouvia falar muito. Valeu a pena. Virei frequentador e amigo dos donos, saindo do trabalho para lá às duas da manhã, sempre na expectativa por mais alguma novidade do Miguel. Uma noite, só de sacanagem, ele projetou durante alguns segundos no telão uma mensagem dizendo ‘O Bacchieri é *p’, mas em vez de ficar *p da vida, dei muita risada com aquela brincadeira inesperada”.
Por trás dessa ousadia havia um aprumo técnico espantoso. Enquanto praticamente ninguém dispunha de um televisor maior que 26 polegadas e o mercado local de videocassetes permanecia restrito a poucas unidades domiciliares e meia-dúzia de videoclubes baseados na informalidade ou mesmo na pirataria, a discoteca dos irmãos Petry ostentava um telão norte-americano Novabeam Kloss com 120 polegadas, aparelho de VHS da Panasonic e até um videodisco laser da Pioneer, além de títulos originais obtidos na fonte, graças às conexões de Miguel. "Muita gente pedia para olhar de perto a aparelhagem dentro da cabine, tamanha a curiosidade gerada".
A boa fama alcançada pelos proprietários, à frente de uma equipe de 12 funcionários (o irmão Luiz Petry participara como divulgador e atendente nos primeiros meses da casa), atraía o interesse de discípulos no ramo, não apenas em Porto Alegre. De variadas partes do Estado, investidores de negócios similares contratavam Miguel como consultor na hora de abrir ou melhorar seus estabelecimentos. "Era um trabalho que abrangia até a compra e montagem de equipamentos, afinal, eu tinha acesso a executivos do topo da pirâmide de empresas no Brasil e exterior, com direito a produtos exclusivos e descontos especiais, esse tipo de coisa".
 

Espelhos embaçados

Cartão VIP da Discoate, datado de fevereiro de 1980

Cartão VIP da Discoate, datado de fevereiro de 1980

ACERVO LÉO PETRY/REPRODUÇÃO/JC
Fenômeno que costuma bater à porta de qualquer casa noturna, houve um momento em que os espelhos da Discoate já não refletiam com mesmo brilho as transformações em curso dentro e fora da pista. A reta final da primeira metade da década de 1980 trouxe novas tendências de entretenimento. Despesas crescentes com a manutenção e upgrade de equipamentos tão diferenciados. O desgaste do próprio conceito da casa, baseado em novidades constantes. Um perfil de público em transição. A dificuldade de repor uma clientela com outros interesses e que deixava para trás o período universitário, a vida de solteiro ou mesmo a cidade.
Miguel e Léo Petry ampliam o diagnóstico: "Em 1984, o eixo da noite se redesenhava e havia um cenário econômico incapaz de segurar o encarecimento do custo de vida, incluindo altas sucessivas nos preços dos combustíveis. Com a distância pesando no orçamento, o pessoal evitava se deslocar tanto quanto antes". As atenções da dupla se voltariam então para o bairro Floresta. Recolhido o toldo do casarão em junho de 1985, a parafernália foi transportada para a avenida Cristóvão Colombo nº 772, com a abertura da não menos icônica danceteria Ovo de Colombo, "a mais avançada casa noturna das Américas", em parceria com Dudu Alvares.
A história da mais badalada discoteca da Zona Sul ainda rende um derradeiro parágrafo. Vislumbrando perspectivas de estabilização da economia com o Plano Cruzado, o 'Mago' pegou em 1987 o caminho de volta para a Zona Sul, reinstalando no mesmo ponto a sua discoteca original. Mas a promessa de um País mais estável não se concretizou e ele já estava por demais envolvido em outros desafios - dentre os quais a loja de discos Provinyl e depois a danceteria Zoom Brazilian Club, ambas em Miami. Fechada em definitivo menos de um ano após sua reabertura, a Discoate (cujo imóvel permanece de pé) inspira em Miguel uma reflexão: "A noite era frenética, difícil entender como mudou tanto!"
 

Discoteka StereoMoto

Logomarca da StereoMoto, uma das bem sucedidas iniciativas noturnas de Léo Petry

Logomarca da StereoMoto, uma das bem sucedidas iniciativas noturnas de Léo Petry

ACERVO LÉO PETRY/REPRODUÇÃO/JC
Léo Petry preserva relíquias em seu sobrado no Morro Santa Tereza, em Porto Alegre: globo espelhado, sequenciador de luz e spots coloridos da Discoteka StereoMoto, que comandou com Miguel na praia de Atlântida entre dezembro de 1975 e março de 1989. Montada em uma antiga usina de eletricidade no último imóvel da Avenida Central, a casa noturna homônima à loja de discos de Porto Alegre foi a primeira do Brasil a usar o termo "discoteca" e garantiu seu guarda-sol na memória afetiva dos melhores points gaúchos de verão.
Com sedes próprias ou espaços cedidos em clubes, 26 boates da região figuram nas anotações de Léo, especialista no assunto. A lista tem ícones como a desbravadora Blow-Up (1970) de Capão da Canoa - ainda pertencente a Osório e que também teve La Discotèque, Laranja Power, Âncora, Tutubarão e Sunflower. Em Tramandaí, as não menos icônicas Talassa, Costa Brava, Sol de Verão, Viver a Vida, Happy Days e LSD. Guarita (Torres). Sherwood (Imbé). Ibiza e Rocky Point (Atlântida). Sem contar as inúmeras "filiais" praieiras de endereços porto-alegrenses.
Mesmo funcionando só em janeiro e fevereiro (de terça a domingo nos primeiros anos), a StereoMoto rendia mais que a outra durante o ano todo. Léo emenda: "Não era uma filial da Discoate, mas praticamente o contrário, tanto foi assim que às vezes tinha prioridade total nos feriadões. Havia também certa diferença de público, já que na boate do Litoral predominava um pessoal de poder aquisitivo ainda maior, vindo das mais diversas regiões do Estado, embora na Capital também não faltassem os filhos do PIB gaúcho."
Além da inovadora câmera a mostrar no telão cenas do pessoal dançando, ambos reivindicam para a casa o pioneirismo brasileiro na importação dos embalos da discomusic, gênero norte-americano que tomou de assalto as pistas do planeta na década de 1970. As novidades do hit parade eram compartilhadas em primeira mão por Miguel no programa Dancing Nights, transmitido a partir da meia-noite pela rádio Litoral FM. Tinha até intervenções ao vivo, anunciando quem entrava na casa. Morando em Miami tempos depois, Miguel enviava pela Varig áudios gravados para a Atlântida FM.
Quando Léo já estava fora do negócio havia dois anos, outras demandas pessoais e empresariais de Miguel o levaram à decisão de fechar a StereoMoto ao fim do último verão da década de 1980, após 15 anos consecutivos de aventuras, dando lugar à efêmera e hoje pouco lembrada Wellcome (em sociedade com Dirceu Russi, do Bere & Ballare). A construção, ou que restou daqueles tempos, permanece no número nº 1.509 da principal via de Xangri-Lá: um galpão de alvenaria em ruínas, nos fundos do terreno que serve de estacionamento à subprefeitura local.
 

* Marcello Campos é formado em Jornalismo, Publicidade & Propaganda (ambas pela PUCRS) e Artes Plásticas (UFRGS). Tem seis livros publicados, incluindo as biografias de Lupicínio Rodrigues, do Conjunto Melódico Norberto Baldauf e do garçom-advogado Dinarte Valentini (Bar do Beto). Há mais de uma década, dedica-se ao resgate de fatos, lugares e personagens porto-alegrenses. Contato: [email protected]

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