A busca e o resgate da herança cultural afro-brasileira como bússola para a diáspora negra é o mote de Herança, espetáculo cênico-musical da Cia. Burlantins (MG), que tem única sessão no Theatro São Pedro (Praça Mal. Deodoro, s/n), às 21h desta quarta-feira (13), marcando a abertura da programação do 18º Festival Palco Giratório. Os ingressos estão à venda nas Unidades Sesc/RS e no site da entidade, pelos valores de R$ 30,00 (meia-entrada) e R$ 60,00 (inteira).
Comemorando 50 anos de carreira do ator, cantor, compositor e instrumentista Maurício Tizumba – considerado um ícone da cultura afro-mineira –, a encenação é dirigida por Grace Passô e tem no elenco os multiartistas Júlia Tizumba, Sérgio Pererê e o próprio Tizumba. Para além do acontecimento no palco, o espetáculo ainda apresenta projeções de vídeo em grandes dimensões, com a participação especial de Rosa Moreira, que interpreta uma mestre griô, que aconselha, informa e orienta os narradores das várias histórias contadas ao público.
"A narrativa começa nos anos 1860, em terras africanas, com as invasões alemã e francesa, que incluiram roubos de obras que hoje estão em grande parte dos museus da Europa; depois passa por Berlim, até chegar em Minas Gerais", descreve Maurício Tizumba. "Nesse percurso, vamos contando histórias de nossos parentes, falando do valor e da riqueza do povo preto, e mostrando que não fomos um povo miserável e pobre", emenda.
A partir da recordação da caminhada de seus antepassados, os artistas levam ao palco fatos relatados por seus pais, tios, avós e bisavós. "Sobrevivemos bem, a ponto de poder lutar com mais afinco pelos nossos direitos em terras brasileiras. Apesar da grande maioria da população negra ainda viver na linha da pobreza, não nos derrubaram: a arte e a cultura do povo africano está presente no Brasil inteiro. Muito do nosso conhecimento e da forma de pensar está no vocabulário, na culinária, na música, na dança...", pontua o músico e ator.
Idealizada pelo escritor, pesquisador e professor Pedro Kalil, a obra tem dramaturgia de Aline Vila Real, Grace Passô e Tomás Sarquis, elaborada a partir de narrativas produzidas por Rosa, Júlia, Tizumba e Pererê (esses dois últimos também autores das músicas executadas em cena). Escavando histórias íntimas, enquanto miram a África "como se olhassem em um espelho", os artistas cantam, interpretam, dançam e tocam instrumentos africanos de lâmina (como o Mbira), de cabaça e de sementes, entre outros, além de violão e piano. "Quem for assistir o espetáculo não vai ver grito de guerra ou de protesto, mas uma história de amor pela ancestralidade", afirma Tizumba.
A Cia. Burlantins nasceu em 1996, com o objetivo de unir música e teatro em espetáculos de rua. Desde 2012, com Mauricio e Julia Tizumba à frente, o grupo tem a proposta de trazer à cena artistas negros e negras, em espetáculos cênicos-musicais. Nesta fase, além de Herança (2023), já montou Oratório: a Saga de Dom Quixote e Sancho Pança (2012), Clara Negra (2013), Munheca (2013) e inaugurou a Mostra Benjamin de Oliveira, festival que conta com sete edições e que tem como proposta de valorização da cultura afro-brasileira. "Nos primeiros anos da Cia., chegamos a montar obras de Shakespeare, Molière, Cervantes, entre outros vários europeus. Mas a forma que encontramos de chegar nas pessoas foi a partir de nossas próprias histórias, que não são as mesmas que estão nos livros convencionais", destaca o músico e ator que celebra suas cinco décadas de trajetória artística.
O espetáculo que chega ao Theatro São Pedro na noite desta quarta-feira, ainda conta com cenário e figurino de Alexandre Tavera, iluminação de Edmar Pinto e sonorização de Cahuê Teixeira. A direção musical é de Sérgio Pererê.