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Publicada em 17 de Junho de 2024 às 01:25

Círio Simon fala sobre arte, liberdade e democracia em bate-papo no Espaço Cultural HPM

Professor, crítico e pintor gaúcho (aqui representado em autorretrato) participa, nesta quarta-feira, da série de debates Roda de Cultura, promovida pelo Espaço Cultural HPM

Professor, crítico e pintor gaúcho (aqui representado em autorretrato) participa, nesta quarta-feira, da série de debates Roda de Cultura, promovida pelo Espaço Cultural HPM

/Círio Simon/Divulgação/JC
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Adriana Lampert
Adriana Lampert Repórter
O professor, pintor, pesquisador e crítico gaúcho Círio Simon participa, nesta quarta-feira, de um dos encontros da série de bate-papos Roda de Cultura - que apresenta ao público alguns dos principais protagonistas do setor de Artes Visuais no Rio Grande do Sul. O evento gratuito - com vagas limitadas e mediante agendamento pelo telefone/WhatsApp (51) 99571-5671 - acontece às 14h30min no Espaço Cultural HPM (Largo João Amorim de Albuquerque, 72).
O professor, pintor, pesquisador e crítico gaúcho Círio Simon participa, nesta quarta-feira, de um dos encontros da série de bate-papos Roda de Cultura - que apresenta ao público alguns dos principais protagonistas do setor de Artes Visuais no Rio Grande do Sul. O evento gratuito - com vagas limitadas e mediante agendamento pelo telefone/WhatsApp (51) 99571-5671 - acontece às 14h30min no Espaço Cultural HPM (Largo João Amorim de Albuquerque, 72).
Localizado em um palacete que abriga há quase 50 anos o Hotel Praça da Matriz, nas imediações do Theatro São Pedro e da Biblioteca Pública do Estado, o Espaço Cultural HPM foi inaugurado em março deste ano. No foco da iniciativa estão exposições, saraus, lançamentos de livros e outros eventos, com produção da equipe da casa em parceria com a agência Práxis Gestão de Projetos e expoentes dos mais diversos segmentos culturais.
Em conversa informal sobre a arte e seu universo multifacetado, Simon - que também é ex-diretor do Instituto de Artes da Ufrgs - afirma que, ainda que não exista um roteiro pré-estabelecido para o debate, pretende "seguir a linha mais elevada que o público possa interagir". "Inicialmente, devo esclarecer os termos arte, liberdade e democracia da forma como os entendo agora. Este exame tem três linhas: o 'aqui', o 'agora' e a sociedade que de fato se interessa por Artes Visuais", revela.
Ao ser indagado sobre sua avaliação frente à evolução do setor no Estado, Simon destaca que as artes visuais sul-rio-grandenses (ele não usa a palavra 'gaúcho') "já forneceram um vastíssimo campo de pesquisas, de valores e de biografias de obras" e estão abertas para uma nova geração. "Esses valores superiores necessitam entrar no mundo das palavras e conexões para que possam ser entendidos e constituídos enquanto identidade estadual", pontua.
O pesquisador emenda que as artes visuais do Rio Grande do Sul estão em "pleno estágio de desenvolvimento e na busca de um paradigma autônomo e consensual". "Como sofremos uma profunda colonização física, jurídica e estética, até hoje se repetem paradigmas importados e subliminares de outras culturas", sinaliza. No plano mundial, Simon observa que "parece que há uma busca, estudo e divulgação das Artes Visuais locais, do tempo e da sociedade, em contraponto com o colonialismo e servidão a modelos estranhos".
Mestre em Educação e doutor em História pela Pucrs, Simon é um dos mais importantes intelectuais em temas como a História da Arte no Estado e a trajetória do Instituto de Artes (IA) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs). Nascido em 1936, em Sarandi (RS), ele ingressou em 1958 no IA/Ufrgs, ao mesmo tempo em que atuava como alfabetizador voluntário dos empregados de uma fábrica em Porto Alegre.
Na Universidade, pela qual se graduou em 1962, teve como mestres Ado Malagoli, Iberê Camargo, Aldo Locatelli e Rose Lutzenberger, apenas para citar alguns. Também atuou em salas de aulas populares e de periferia, nos colégios São João, Cândido Godói, Champagnat e Rosário, no Instituto Palestrina e nas universidades Feevale e Ufrgs. Nessa última, lecionou na Faculdade de Biblioteconomia e Comunicação (Fabico) e no Instituto de Artes (que dirigiu entre 2002 e 2006, até a aposentadoria "oficial").
A intensa atividade abrange, ainda, a dedicação como ministrante de cursos e consultor da Associação dos Amigos do Museu de Arte do Rio Grande do Sul (Aamargs), bem como uma ampla produção teórica por meio de artigos, teses, dissertações e livros. Como artista plástico, assina pinturas de murais em colégios, igrejas e instituições públicas ou privadas da Capital e interior do Estado. 
"Num olhar retrospectivo, vejo que a minha produção acadêmica é obra de circunstâncias um pouca alheias à minha vontade. O professor Ado Malagoli já ensinava que aluno não faz arte, ele ainda está numa relação de heteronomia com a instituição, o professor e colegas", reflete. "A minha obra pessoal encontra-se nos intervalos, nas séries. Com o meu jubilamento, em 2006, pude rever, fixar e divulgar mais o meu pensamento", comenta.
Sobre a importância da retomada dos eventos culturais no Estado, Simon aponta que o Rio Grande do Sul teve três eventos nos quais toda a população se uniu e conseguiu atrair a atenção do Brasil e exportar ideias e ideais coletivos. "O primeiro foi a Revolução de 1930, quando - junto com a Paraíba - o Estado pôs fim à Republica Velha e pode iniciar um novo ciclo; o segundo foi o movimento da Legalidade, que uniu toda a população local e consegui segurar por três anos os golpistas da democracia e da liberdade. O terceiro ocorreu agora, em maio de 2024."
O artista avalia que as enchentes conseguiram unir as mais diversas ideologias, classes sociais e econômicas, com amplo respaldo nacional e mundial. "Certamente, esse dilúvio pôs a prova aqueles que de fato gostam de arte e sentem que ela pode ainda unir este povo tão fragmentado pelos mais diversos meios", ressalta. "Mas o que permanece são as obras de arte e o pensamento de quem as produziu."
 

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