Se, no caso específico do Rio Grande do Sul, cada nova edição da pesquisa Marcas de Quem Decide fortalece e consolida a forte presença de marcas locais, em termos nacionais levantamentos recentes ressaltam a força do Interior como espaço apropriado para negócios já existentes e para novos empreendimentos. A combinação desses fatores cria um ambiente particular, tornado mercado experimental para reposicionamentos de produtos e para novos lançamentos, pelo elevado nível de exigência de seus públicos consumidores.
O Interior do Brasil está a cinco anos de responder pela metade do crescimento do consumo nacional. Quando isso ocorrer, esse será um mercado avaliado em cerca de R$ 2 trilhões - calculados na conversão atual do dólar, já superior aos R$ 3,00. Com hábitos próprios, em que se incluem a proximidade às marcas locais e a grande convivência familiar e doméstica, esse público mostra força e está a merecer mais atenção e estudos. A inserção de 11 milhões de novas pessoas às classes A e B entre 2010 e 2020 supera em três vezes a população do Uruguai e se equipara a de Portugal.
Os dados citados acima são do Boston Consulting Group, divulgados no segundo semestre de 2014 e tendo 2010 e 2020 como referências extremas. O levantamento, intitulado Redefinindo a Classe Média Emergente no Brasil, envolveu 3,6 mil famílias em todas as regiões do País, com renda entre média e superior. Já o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) e o Instituto Data Popular demonstram - em levantamento conjunto - que, agrupados, os municípios do Interior do Brasil comporiam a 13ª maior nação do mundo; e que chega a R$ 900 milhões o consumo nas pequenas e médias cidades - excluídas as capitais e as regiões metropolitanas.
Não há, no Brasil, nada comparável ao Interior de São Paulo. Assim como, no conjunto dos estados, os paulistas detêm a supremacia nacional em indicadores como população e poderio econômico, também quando se examinam as áreas além das capitais o seu domínio é evidente. São Paulo, cuja capital possui população superior a de todo o Rio Grande do Sul, abriga cidades que, reunidas ou não em regiões metropolitanas - caso de Campinas, com 20 municípios e população acima de 3 milhões - se aproximam e ultrapassam 1 milhão de habitantes, muitas com predomínio de faixas sociais de alto poder aquisitivo e grandes expectativas de consumo. A massa salarial de áreas resolvidas economicamente, como Jundiaí, desenvolve a economia regional e torna cada vez mais dispensável recorrer à Capital em busca de atendimento de qualidade, mesmo que a distância entre ambas seja de menos de 60 quilômetros.
A pesquisa do BCG indica que metade dos 11 milhões de pessoas que serão incorporados às classes A e B até 2020 estará no Interior do Brasil. Para atender a esse público, produtores de bens e serviço precisarão levar em consideração peculiaridades próprias. Entre elas, encontra-se a do convívio familiar mais intenso, proporcionado pela presença de todos em casa em horários de almoço e jantar, condição impensável para quem trabalha fora e vive na maioria das capitais estaduais brasileiras. Quem passa mais tempo na residência e nela faz suas refeições, usa mais eletrodomésticos e adquire mais alimentos em supermercados. Também assiste mais à televisão aberta e/ou fechada e está em constante busca de conforto doméstico, via móveis e equipamentos.
Antes exclusivas das cidades que cercam as capitais, as regiões metropolitanas, atualmente, se espalham pelo Interior do Brasil. O IBGE aponta a existência de 68 delas em território brasileiro - incluída a da Serra Gaúcha em torno de Caxias do Sul. Na prática, a condição, no Sul, está muito mais consolidada em Santa Catarina (Carbonífera, Chapecó, Contestado, Florianópolis, Extremo Oeste, Foz do Itajaí, Lages, Norte/Nordeste, Tubarão e Vale do Itajaí) e no Paraná (Umuarama, Toledo, Maringá, Curitiba, Cascavel, Campo Mourão e Apucarana), equivalendo a um desenvolvimento mais bem distribuído regionalmente, por menos dependente a uma única cidade ou região. São Paulo, por exemplo, tem, além da Capital e de Campinas, as Regiões Metropolitanas da Baixada Santista, de Sorocaba e do Vale do Paraíba e Litoral Norte.