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Publicada em 13 de Março de 2018 às 15:28

O que a nova terceira idade traz para o universo das marcas

O desafio das empresas é criar identificação com o público idoso, um dos que mais cresce no Brasil

O desafio das empresas é criar identificação com o público idoso, um dos que mais cresce no Brasil

/ANTONIO PAZ/ARQUIVO/JC
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Roberta Fofonka
A terceira idade mudou. Vivendo por mais tempo com mais saúde, renda e disposta a pagar por experiências, esta população em crescimento está mudando de hábitos e quer consumir. Sua marca está preparada para esta revolução?
A terceira idade mudou. Vivendo por mais tempo com mais saúde, renda e disposta a pagar por experiências, esta população em crescimento está mudando de hábitos e quer consumir. Sua marca está preparada para esta revolução?
Hoje, a expectativa de vida dos brasileiros é de 75,8 anos. (Em 1997, esta estimativa era de 68 anos.) E não é só a longevidade que aumentou: em 2040, a população de idosos no Rio Grande do Sul será 120% maior do que o 1,4 milhão registrado em 2010, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A partir destes dois aspectos, se constrói uma sociedade mais envelhecida para as próximas gerações, e a Região Sul sai na frente, com a maior concentração de idosos do País (15,9%).
"Antes, se esperava que um avô fosse ficar em casa, tranquilo. Ele, na realidade, está programando sua próxima viagem ao Egito", ilustra Martin Henkel, fundador da Senior Lab, iniciativa que se dedica a entender esse público e ajudar na adaptação e divulgação das empresas que querem se aproximar dele.
Conforme Henkel, aposentados não seguem mais o estereótipo de "pessoas que querem ficar em casa quietinhas". Ao contrário, quem chega nesta idade quer viver e ter novas experiências, uma vez que já está com outras etapas da vida cumpridas - na maioria das vezes, casa própria, filhos criados e uma renda que vem da aposentadoria, negócios ou imóveis. "A renda garantida faz com que esta geração consiga se planejar e se incluir no mercado de consumo", diz.
"A gente vê que as marcas estão apostando num público muito volátil, criando as soluções voltadas para os millenials (nascidos entre 1980 e 1990). As marcas estão encantadas por eles", aponta Henkel. Por conta disso, o especialista justifica que o mercado ainda não descobriu o potencial deste público que se anuncia: dos 26 milhões em 2017, o número de pessoas maiores de 60 anos no Brasil passa para 41,5 milhões em 2030, aponta o IBGE.
Mas já tem gente apostando em tecnologia alinhada às particularidades dos idosos. A fabricante DL, de Minas Gerais, desenvolve smartphones, celulares e tablets com - além de números grandes - funcionalidades ligadas à segurança e praticidade deste público. O tablet TabFácil, por exemplo, tem um aplicativo SOS, que oferece a possibilidade de cadastramento de contatos telefônicos para auxílio ao idoso em casos de emergência, assim como botão nos telefones celulares. "Esse recurso facilita a rotina do idoso, permitindo que ele desenvolva suas atividades rotineiras, como ir ao banco, ao médico, passear etc., com tranquilidade e segurança", afirma Francisco Hagmeyer Jr., diretor comercial e de marketing da DL.
No ano passado, 80 mil unidades do TabFácil foram vendidas. O segredo, segundo Francisco, é simplificar as ferramentas disponíveis nos gadgets.
ANTONIO PAZ/ARQUIVO/JC
Martin Henkel, pesquisador da nova terceira idade, afirma que os idosos não querem mais estar em casa de pijama olhando a Ana Maria Braga todos os dias. | Foto: ANTONIO PAZ/ARQUIVO/JC
A geração que nasceu com o rock'n'roll carrega características ligadas à questões do envelhecimento humano que impactam na relação com a tecnologia, e que são fundamentais para as marcas aprenderem a se relacionar com ela. Com o tempo, perde-se a capacidade de atenção múltipla, por exemplo, e o ponto de atenção passa a ser onde estão os olhos. "Ou seja, sites muito dinâmicos não são atrativos", sustenta Henkel.
"O idoso não distingue bem os tons pastéis, que dão uma impressão de cinza, por conta do envelhecimento da retina. Aspectos como este têm de ser levados em conta no design e na forma de se comunicar. Os gatilhos de decisão são outros", detalha.
Para Robson Gonçalves, coordenador da FGV Projetos, um dos palestrantes da Data Driven Business (DDB), promovido pela Neoway, em Santa Catarina, considera que as profissões que focam na geração de mais de 60 ficarão imunes a serem substituídas pela tecnologia. "Todo trabalho que estiver associado à terceira idade não vai acabar, pois exige contato humano, capacidade de improvisação e conteúdo afetivo", entende.
No futuro, vamos ver mais pessoas da terceira idade comprando brinquedos, por exemplo. Porque, com a baixa de natalidade proporcional ao aumento da longevidade, pessoas idosas terão um maior número de netos do que a geração mais nova terá de filhos.
Para as marcas, o desafio é criar identificação. "Simplesmente colocar pessoas de cabelo branco em propagandas para cativar não funciona mais", afirma o especialista. Isso porque, segundo pesquisas da Senior Lab, a autoimagem da pessoa mais velha é diferente de como ela é. "É preciso gerar outras referências para que este público se identifique com a marca", acrescenta.
A nova terceira idade está em busca de experiências agradáveis, seja no ambiente, seja no acesso. E, muito importante, no atendimento. Mas isso se deve ao fato de que a nova terceira idade quer se relacionar. "Não querem estar em casa de pijama olhando a Ana Maria Braga todos os dias", reforça o idealizador da Senior Lab.
E exemplifica: "Se você for no McCafé, loja de cafés do McDonalds, o que mais irá encontrar pela manhã são idosos. Eles saem não só para tomar o café e ler o jornal, mas para socializar. Nos setores de lazer vejo que há um grande espaço de oportunidade", diz.

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