Compreender as etapas de existência de um objeto, produto, material ou serviço, desde a extração até o descarte final. O processo, chamado Avaliação de Ciclo de Vida (ACV), é fundamental para avaliar as consequências de uma cadeia produtiva sobre a saúde das pessoas e o meio ambiente, mas ainda é pouco disseminado no País. A questão foi discutida no painel Avaliação de Ciclo de Vida como instrumento da Política Nacional de Resíduos Sólidos, no segundo dia do Fórum.
Pesquisadora da Universidade de Brasília (UnB), Kátia Boeto Miller acredita que parte do problema está na "lenda urbana" de que se trata de algo caro e trabalhoso. "No início, há necessidade de investimento. Mas, na medida em que há informações coletadas e um banco de dados mais robusto, fica mais fácil e menos custoso", garante.
Além de permitir uma utilização mais racional de diferentes recursos, a elaboração de modelos tecnológicos parametrizados permite desenhar diferentes soluções para cada cadeia produtiva. "Uma olaria pode usar forno intermitente ou contínuo, pode usar o calor do forno para secar tijolos ou não. Com uma ACV bem-elaborada, terá uma produção mais eficiente e adequada", argumenta Kátia, que desenvolve estudos ligados à construção.
"A discussão sobre ACV ainda está muito dentro da academia", diz Carlos Moraes, professor de Engenharia Ambiental da Unisinos. Ele defende a urgência em espalhar esse tema para o conjunto da sociedade. "Não podemos mais ser sustentadores de aterros. A escassez de materiais é uma discussão forte. Não adianta belas tecnologias sem matéria-prima", afirma, citando metais como índio e zinco, cujas fontes naturais podem estar totalmente esgotadas até 2025. "Não poderemos esperar 5 mil anos para que as latarias de nossos carros tenham zinco novamente. Se o cobre se esgotar, como poderemos viver sem energia elétrica?", pergunta Moraes.
"No fundo, promover avaliação de ciclo de vida é medir o impacto ambiental causado pela satisfação de uma necessidade", resume Yuki Onda Kabe, especialista em ACV da Braskem. Para ele, é justo pensar que os custos de mitigação de impactos de longo prazo caiam na conta da geração atual. "O benefício é meu, logo é justo que quem pague por isso seja eu. Precisamos pensar se as soluções propostas para isso não estão reduzindo o impacto por um lado e ampliando por outro, que acabará se manifestando mais adiante".