O jornalista Flávio Tavares recebeu nesta quarta-feira (07) o Troféu Câmara Municipal de Porto Alegre no Legislativo da Capital. A homenagem foi proposta pelo vereador Roberto Robaina (PSOL), mas reuniu políticos de ideologias diversas — chegando a ser considerado "ecumênico" pelo próprio Tavares. Assim, foi possível ver lado a lado figuras como os ex-governadores Jair Soares, que ocupou o Executivo pelo extinto PDS de 1983 a 1987, e Olívio Dutra, que governou pelo PT de 1999 a 2002.
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Aos 90 anos, Tavares relembrou sua trajetória durante seu discurso, em especial, durante a Ditadura Militar, quando foi preso e torturado. Integrante da resistência armada, o jornalista participou ao lado do ex-governador Leonel Brizola de ações políticas no Rio Grande do Sul. Por isso, considera que Porto Alegre é o "berço da redemocratização" e também o local onde "tem suas raízes".
Pelo PSOL, acompanharam a solenidade a deputada estadual Luciana Genro e o vereador Pedro Ruas. A deputada federal Fernanda Melchionna não conseguiu estar presente, mas dirigiu-se posteriormente ao gabinete de Robaina para parabenizar Tavares pessoalmente. Mais à direita, estavam representando o PSD a ex-senadora Ana Amélia Lemos (PSD) e a vereadora Cláudia Araújo (PSD).
Sobre Flávio Tavares
Natural de Lajeado, Flávio Tavares graduou-se em Direito, mas exerceu profissionalmente a carreira de jornalista. Foi colunista político do jornal Última Hora, fundado por Samuel Weiner. Também foi um dos fundadores da Universidade de Brasília, onde atuou como docente na área de Comunicação. Próximo do ex-governador Leonel Brizola (1922 - 2004) e do ex-senador Luís Carlos Prestes (1898 - 1990), Tavares foi preso pela Ditadura Militar pouco após o golpe de 1964, mas foi liberado após o reconhecimento do governo de que havia sido um equívoco.
À época, ainda não integrava a luta armada contra a Ditadura, o que ocorreu apenas posteriormente, tendo sido preso mais duas vezes, em 1967 e em 1969. Ele fez parte do grupo de presos políticos libertados em troca do embaixador norte-americano Charles Burke Elbrick, que havia sido sequestrado pelos guerrilheiros. Com isso, exilou-se no México, na Argentina e no Uruguai. No último, foi sequestrado pela Ditadura Uruguaia e conseguiu sua libertação após a pressão incitada pelo jornal Estado de S.Paulo, que havia denunciado seu desaparecimento. De lá, rumou a Portugal, de onde retornou apenas em 1979, após a Lei da Anistia.
Tavares é autor de sete livros, incluindo os vencedores do Prêmio Jabuti Memórias do Esquecimento (1999) e O Dia em que Getúlio Matou Allende (2004). Também foi roteirista do documentário O Dia que Durou 21 Anos (2012), dirigido por seu filho, Camilo Tavares.
Em 2014, o jornalista já havia recebido o título de Cidadão de Porto Alegre na Câmara Municipal, após proposição do vereador Pedro Ruas (PSOL).