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Publicada em 05 de Novembro de 2025 às 16:44

Litoral Norte é líder em crescimento populacional no Rio Grande do Sul

Imbé foi a cidade litorânea que mais cresceu no RS, ampliando a população em 51,83%, segundo o IBGE

Imbé foi a cidade litorânea que mais cresceu no RS, ampliando a população em 51,83%, segundo o IBGE

Prefeitura de Imbé/Divulgação/JC
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Ana Stobbe
Ana Stobbe Repórter
Enquanto o Rio Grande do Sul luta para melhorar seus indicadores demográficos, o Litoral Norte está vivendo uma ascensão populacional visível. Afinal, o Estado ampliou o número de habitantes em 1,77% entre o Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2010 e o de 2022, no compasso em que a faixa costeira teve um salto 14,6 vezes maior, aumentando sua população em 25,87%. E, das 21 cidades da região, apenas três perderam residentes. 
Enquanto o Rio Grande do Sul luta para melhorar seus indicadores demográficos, o Litoral Norte está vivendo uma ascensão populacional visível. Afinal, o Estado ampliou o número de habitantes em 1,77% entre o Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2010 e o de 2022, no compasso em que a faixa costeira teve um salto 14,6 vezes maior, aumentando sua população em 25,87%. E, das 21 cidades da região, apenas três perderam residentes. 
Outros dados auxiliam a observar que essa taxa tende a ser ainda mais ampliada nos próximos anos. Em Xangri-Lá, por exemplo, que no período analisado registrou um crescimento de 32,71% na população, a arrecadação pública municipal aumentou 72% de 2020 a 2024, conforme apurou o Jornal Cidades. Uma matéria publicada no caderno Empresas e Negócios, do Jornal do Comércio, em maio, focou no consumo de água em baixa temporada. Nesse cenário, apenas em Capão da Canoa, a ampliação foi de 43% entre 2019 e 2024, enquanto a população saltou 51,24% entre os Censos.
Tal crescimento é influenciado por múltiplas motivações, conforme explica o diretor adjunto do Departamento de Economia e Estatística (DEE) da Secretaria Estadual de Planejamento, Governança e Gestão, Pedro Zuanazzi: "Entre os fatores que explicam isso está o fenômeno da segunda residência, muitas pessoas que tinham casas de veraneio no Litoral passaram a morar nelas, especialmente, com o avanço do trabalho remoto. Há também a questão da desejabilidade, em que, cada vez mais, as pessoas buscam qualidade de vida e escolhem lugares onde desejam viver, o que favorece cidades litorâneas". 
Embora a publicação dos dados do IBGE seja imediatamente posterior à pandemia de Covid-19, o pesquisador acredita não ser visível um impacto direto entre os fenômenos. Principalmente, considerando que a tendência de atração de residentes na região já era visível nos anos 2000, ao comparar o Censo de 2000 com o de 2010.
"Os dados de 2022 mostram que não houve grande mudança provocada pela pandemia, já que o período analisado cobre 10 anos antes e apenas dois anos depois de 2020 (quando iniciou a pandemia no Brasil). O município que mais cresceu proporcionalmente foi Imbé, com alta de 51,8% em 12 anos, com um ritmo semelhante ao de Xangri-Lá entre 2000 e 2010. Ou seja, é uma tendência já existente. Talvez o próximo Censo revele um impacto maior", acrescenta Zuanazzi. 
Uma das pessoas que escolheu o Litoral Norte para chamar de lar foi a empresária Adriana Brum, de 49 anos, que se mudou de Porto Alegre para a praia de Atlântida, em Xangri-Lá, em setembro de 2022. A troca de cidade foi motivada por dois principais fatores: a busca por segurança e por qualidade de vida. Tudo isso, aliado a uma rotina de home office que permitiu fixar residência em um novo local. 
"Comecei a trabalhar de forma híbrida em 2019, porque tive um acidente em que quebrei a perna e ficou inacessível ir até lá. Com a pandemia, entrei em home office e decidi que não teria mais escritório. Quando voltou a normalidade, em 2022, decidi me mudar para cá. E, hoje, trabalho daqui e, eventualmente, atendo alguns clientes em Porto Alegre, porque é perto. Sei que tem muita gente que mora aqui e trabalha em Porto Alegre e vice-versa", relatou Adriana. 
A empresária relata que estar na região litorânea oferece facilidades não encontradas na Região Metropolitana. "Tenho a segurança de pegar meu telefone para ouvir música ou podcasts caminhando até a beira da praia. É algo que eu tenho medo de fazer em Porto Alegre, quando frequento a casa da minha mãe no bairro Menino Deus", pontua Adriana. 
Ela tem observado, também, que o movimento migratório tem se intensificado nos últimos anos. O condomínio em Atlântida para o qual ela se mudou, por exemplo, foi pensado para servir aos veranistas na alta temporada, com contratos de aluguéis por curtos períodos. Hoje, a maioria dos inquilinos é residente, com contratação anual dos imóveis. O clube do livro frequentado por Adriana também é formado majoritariamente por novos moradores do Litoral Norte, promovendo a sociabilidade dos novos residentes da costa gaúcha. 

Crescimento acelerado alavanca setor de serviços nos municípios

Se no início dos anos 2000 ir ao Litoral Norte no inverno era sinônimo de enfrentar o desafio de comércios fechados durante a baixa temporada. Hoje, o cenário é totalmente diferente. Adriana, por exemplo, costuma utilizar o setor de serviços de Capão da Canoa, município conurbado com Xangri-Lá, e garante que houve um crescimento do segmento pela região. 
"Hoje, eu prefiro o comércio de Capão do que o de Porto Alegre, porque encontro coisas bem diferentes. E não tem mais isso de tudo abrir em dezembro e fechar em março. Antes, para ir ao médico ou acessar serviços de saúde, precisava ir para Porto Alegre. Mas já descobri clínicas ótimas por aqui com médicos que vêm da Região Metropolitana para atender uma ou duas vezes por semana", avalia Adriana. 
A percepção é compartilhada pelo prefeito de Imbé, Luis Henrique Vedovato, que comanda a cidade litorânea que mais cresceu em termos proporcionais entre os censos, ampliando sua população em 51,83% conforme o IBGE. "O comércio e o serviço se instalaram para atender a população, que hoje está em todos os lugares da cidade. Não tem mais um local que funcione para os moradores e outro para os veranistas. Hoje, está por todo o canto. E isso faz com que as pessoas tenham condições de acessarem serviços e terem oferta de mercadorias em toda a região, com mercados, farmácias e oficinas mecânicas, por exemplo", avalia o chefe do executivo. 
Se, por um lado, os serviços têm crescido. Por outro, a infraestrutura das cidades é pressionada. Nesse sentido, a Corsan/Aegea, responsável pelos serviços de saneamento básico nos principais municípios litorâneos, tem precisado investir em obras de ampliação do abastecimento d'água, assim como para coleta e tratamento de esgoto. As prefeituras também estão precisando dar conta do trânsito que cresce e de uma população que precisa ter demandas atendidas. 
No caso de Imbé, Vedovato considera que há uma subnotificação nos dados do IBGE e que, conforme o censo municipal realizado pela prefeitura, já é possível observar que a população dobrou. E as dificuldades, para ele, podem ser vistas no setor educacional: "De 2024 para 2025, aumentaram 500 matrículas nas escolas, um crescimento de 10%. Alguns dos alunos ingressaram de famílias que já moravam aqui, mas, outros, vieram por migração e buscaram esse serviço público essencial. Numa cidade do tamanho da nossa, isso significa a necessidade de uma nova escola grande. Se seguirmos crescendo nesses mesmos níveis, teremos que construir uma escola grande nova por ano", explica o prefeito. 

Municípios do Litoral Norte que mais cresceram

1. Imbé (51,83%)
2. Capão da Canoa (51,24%)
3. Arroio do Sal (42,78%)
4. Balneário Pinhal (37,77%)
5. Cidreira (34,90%)
6. Xangri-Lá (32,71%)
7. Tramandaí (30,56%)

Municípios que perderam população no Litoral Norte

1. Mostardas (-0,32%)
2. Morrinhos do Sul (-3,57%)
3. Três Forquilhas (-5,21%)
Fonte: IBGE - Comparação dos Censos de 2010 e 2022

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