Nos últimos dois anos, os municípios do Vale do Sinos e cidades próximas intensificaram a criação e o fortalecimento de roteiros turísticos que conectam cidades por meio da gastronomia, da natureza e da valorização cultural. O movimento tem gerado novos produtos, qualificado empreendedores locais e ampliado o fluxo de visitantes, impulsionando uma rede regional que combina identidade, hospitalidade e integração regional.
Esses destinos utilizam a representatividade de associações locais como a da Rota Romântica, e a do Vale Germânico, que abrangem parte dos municípios da região, o fomento público e privado, e a participação em eventos do setor turístico para divulgar roteiros e fomentar o empreendedorismo relacionado à alimentação, hospedagem e atrativos que expressam diversificação cultural e histórica.
Caminho turístico foi consolidado pelos produtores rurais da cidade para promover o turismo local e valorizar o cultivo da planta
ANDRÉA ENZVEILER/DIVULGAÇÃO/CIDADES
Entre as iniciativas recentes, a Rota da Lavanda, em Morro Reuter, lançada em outubro de 2025, tornou-se rapidamente uma das experiências mais procuradas do Vale Germânico. O roteiro, que nasceu como um sonho coletivo de produtores e empreendedores locais, integra cultivo, produtos artesanais e experiências ligadas à planta aromática.
Outro destaque é a Rota Janelas da Imigração, em São José do Hortêncio, que vem transformando o turismo rural em um vetor de desenvolvimento comunitário. Os Caminhos das Cervejarias Artesanais do Vale Germânico, lançados em 2022, foram a primeira rota estruturada de forma regional pela Associação dos Municípios do Vale Germânico (Amvag) e pelo Sebrae-RS, e têm estimulado empreendedores locais a adaptar suas propriedades para receber visitantes, reforçando o potencial de acolhimento e a valorização das tradições de imigração.
“Nosso foco é a gastronomia e a cultura, que se refletem nas festas e produtos locais. A estruturação dos roteiros vem justamente de um processo de reconhecimento do potencial de cada município e do fortalecimento dos empreendimentos que o integram”, afirma Michele Recktenwald, secretária executiva da Amvag e coordenadora regional de turismo do Vale Germânico.
Segundo ela, os projetos se apoiam em parcerias entre poder público, Sebrae e cooperativas de crédito, como o Sicredi, além do engajamento da iniciativa privada. “É um trabalho de formiguinha. Os municípios precisam primeiro compreender seu potencial turístico, e a partir disso conseguimos capacitar os empreendedores e integrar ações regionais”, explica.
Essa mesma lógica de articulação tem norteado o trabalho da Rota Romântica, que abrange 14 municípios entre São Leopoldo e São Francisco de Paula, e que em 2026 completará 30 anos de criação. De acordo com Terezinha Haas, primeira e atual presidente da Associação Rota Romântica, o papel da iniciativa é organizar os atrativos existentes e transformá-los em produtos prontos para visitação. “Os municípios têm muito a oferecer, mas precisam estar organizados. Nosso trabalho é dar visibilidade ao que já existe e oferecer suporte técnico para transformar potencial em produto turístico”, destaca.
Nos últimos anos, a rota lançou roteiros de um dia em municípios como Presidente Lucena, Linha Nova, Morro Reuter e Santa Maria do Herval, além do Circuito de Caminhadas, lançado neste ano em Gramado, com percursos autoguiados por oito cidades, e o Roteiro dos Sinos, de caráter religioso, que conecta Estância Velha, Novo Hamburgo e São Leopoldo. “Essas iniciativas valorizam a diversidade dos municípios e mostram que o turismo pode ser desenvolvido mesmo em locais sem grande estrutura de hospedagem. O importante é organizar o que já existe”, completa Terezinha.
Natureza de São José do Herval é atrativo do roteiro Janelas da Imigração
Amvag/Divulgação/Cidades
Para os gestores regionais, o momento é de consolidação. A ampliação de roteiros e o aumento da visibilidade dos destinos têm estimulado o investimento em novas experiências, desde hospedagens rurais até produtos ligados à lavanda, cervejas artesanais e gastronomia típica. O desafio agora é avançar na mensuração do impacto turístico, com levantamento de dados de visitação e geração de renda, ainda pouco estruturados regionalmente. Esse é o objetivo expresso tanto por Michele quanto por Terezinha.
Mesmo assim, os sinais são positivos. Em São José do Hortêncio, empreendimentos que antes atendiam apenas a comunidade local passaram a receber visitantes de Porto Alegre e de outras regiões todos os fins de semana. Pousadas rurais relatam aumento de hospedagens, exemplo dos estabelecimentos próximos ao Circuito das Caminhadas. E o crescimento da presença regional em feiras, como a Festuris, que se encerrou em Gramado no último domingo (9), ou mesmo em eventos como a Expointer, tem garantido novos contatos e oportunidades comerciais. Ambas as associações organizarão um fan tour para operadores de turismo de outras regiões do Brasil, para proporcionar experiências reais que possam balizar os argumentos de venda das agências.
Com identidade própria e forte cooperação entre municípios, a região vem se consolidando como um destino emergente do turismo gaúcho, inclusive para o verão. “A gente tem uma cultura aqui no Rio Grande do Sul, e ela está absolutamente correta, que todos os caminhos levam à praia, certo? Mas a gente pode ser uma alternativa também”, recomenda Terezinha.