Porto Alegre,

Publicada em 14 de Outubro de 2025 às 14:28

Viamão desponta na produção de azeites premium e aposta no olivoturismo

Com roteiro criado em 2020, Estância das Oliveiras atrai turistas em busca de mostrar como são feitos os processos produtivos

Com roteiro criado em 2020, Estância das Oliveiras atrai turistas em busca de mostrar como são feitos os processos produtivos

/Lívia Araújo/Especial/Cidades
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Lívia Araújo
Lívia Araújo Repórter
Em um cenário produtivo onde predominam as regiões Sul e Campanha, a olivicultura tem no município de Viamão, na Região Metropolitana de Porto Alegre, um expoente de uma produção consolidada de azeites extravirgens com reconhecimento nacional e internacional.
Em um cenário produtivo onde predominam as regiões Sul e Campanha, a olivicultura tem no município de Viamão, na Região Metropolitana de Porto Alegre, um expoente de uma produção consolidada de azeites extravirgens com reconhecimento nacional e internacional.
A iniciativa é liderada pela Estância das Oliveiras, na zona rural de Viamão, a cerca de 28 km da Capital gaúcha. A propriedade cultiva oliveiras na região desde 2003 – a primeira safra foi colhida em 2012. O empreendimento aposta no olivoturismo como estratégia de crescimento, com a criação de uma opção de passeio que combina gastronomia, educação sensorial e contato direto com a cadeia produtiva do azeite, principalmente durante o período de colheita, entre os meses de fevereiro e março. 
 
 
 
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Segundo Rafael Sittoni Goelzer, sócio e diretor de Relacionamento com o Mercado da empresa, o objetivo é aproximar o público do processo produtivo e fortalecer a cultura do azeite no país. “O turismo é uma ferramenta estratégica para proteger o consumidor e formar mercado”, analisa. 
Criado em 2020, o projeto turístico oferece experiências imersivas: uma caminhada guiada pelos olivais, visita ao lagar — espaço onde as azeitonas são processadas para a fabricação do azeite —, degustação orientada para identificação de atributos sensoriais e eventos gastronômicos temáticos. O roteiro inclui almoços, piqueniques e atividades ao pôr do sol, compondo uma programação voltada para grupos, visitantes individuais e interessados na produção local. Até agora, o local já recebeu cerca de 25 mil visitantes.
Opções gastronômicas, como o churrasco no fogo de chão, aliam-se à degustação de azeites | Lívia Araújo/Especial/Cidades
Opções gastronômicas, como o churrasco no fogo de chão, aliam-se à degustação de azeites Lívia Araújo/Especial/Cidades
O impacto econômico do olivoturismo já é perceptível. A localização próxima à capital garante fluxo constante de visitantes e facilita a distribuição dos produtos. Para Goelzer, essa combinação tem ampliado a visibilidade da marca e fortalecido o mercado regional. “A proximidade com Porto Alegre é estratégica. Estamos na porta da Capital, o que facilita o acesso de consumidores e visitantes interessados em conhecer a fundo azeites de qualidade”, afirma.
Além da experiência no campo, a Estância tem construído reconhecimento internacional. Somente em 2025, a marca conquistou mais de 120 premiações em concursos mundiais. De acordo com o Extra Virgin Olive Oil World Ranking, tornou-se o azeite mais premiado do Brasil e ocupa a quinta posição no ranking global. “Estamos competindo com marcas seculares, com 100, 200, 300 anos de história. Isso mostra a capacidade técnica do Brasil em produzir azeites de excelência”, destaca Goelzer. A marca também está presente, junto com outros seis produtores gaúchos, na edição 2026 do guia italiano Flos Olei, que avaliou aproximadamente 500 propriedades de destaque em cinco continentes, abrangendo 57 países envolvidos na olivicultura de excelência. 
Visitação para eventos ou pacotes individuais ou familiares envolvem conhecimento sobre o plantio e produção do azeite extravirgem | Lívia Araújo/Especial/Cidades
Visitação para eventos ou pacotes individuais ou familiares envolvem conhecimento sobre o plantio e produção do azeite extravirgem Lívia Araújo/Especial/Cidades
O processo produtivo tem foco no controle rigoroso de fatores que interferem na qualidade: colheita rápida, extração em até quatro horas, controle de temperatura, proteção contra a luz e armazenamento em tanques com gás argônio para evitar oxidação. Esses cuidados técnicos resultam em azeites classificados como premium, que vêm ganhando mercado entre consumidores exigentes e restaurantes especializados.
Além de Viamão, outras regiões mais próximas à Capital têm no olivoturismo uma fonte de atração de visitantes e educação para a gastronomia, como na Serra Gaúcha, onde o parque Olivas de Gramado integra o roteiro rural Raízes Coloniais de Gramado e possui cerca de 12 mil pés de oliveiras de seis diferentes variedades.
Tanto Viamão como Gramado integram a Rota das Oliveiras, instituída em 2019 por uma lei estadual que visa a incentivar o turismo rural associado à olivicultura, com o objetivo de fomentar o desenvolvimento do setor. Predominam propriedades produtoras da região da Campanha, como Santana do Livramento, Dom Pedrito e Pinheiro Machado, mas estão presentes cidades do Centro do RS e da Serra, como Glorinha, Mariana Pimentel, Triunfo, Vacaria, entre outras.
A expansão da rota do azeite representa não apenas uma alternativa econômica para municípios como Viamão, mas também uma vitrine para a valorização de produtos brasileiros no mercado internacional.
 

Com clima melhor e manejo técnico, safra 2026 pode avolumar colheita de oliva

Floração, que ocorre entre setembro e outubro, é um momento sensível do processo

Floração, que ocorre entre setembro e outubro, é um momento sensível do processo

/Lívia Araújo/Especial/Cidades
A safra de 2026 promete ser uma das maiores da Estância das Oliveiras, em Viamão. Ao menos é essa a expectativa da agroindústria, após duas temporadas afetadas pelas chuvas intensas na primavera.
O cenário mais favorável tem base nas condições climáticas registradas neste inverno. Segundo o sócio Rafael Goelzer, a expectativa se apoia em dois fatores principais: “Tivemos um inverno longo, intenso e com frio bem distribuído, além de uma quantidade de flores nos pomares nunca antes vista. Embora apenas de 1,5% a 3% dessas flores se convertam em azeitonas, o potencial inicial indica uma safra de grande volume”, estima.
A propriedade, que ocupa cerca de 29 hectares de olivais, com um total de 6.500 oliveiras de diferentes variedades, tem investido em manejo técnico para garantir eficiência produtiva e qualidade do azeite. A floração, que ocorre entre o fim de setembro e o início de outubro, é considerada o momento mais sensível do ciclo. A polinização acontece, em sua maioria, pelo vento, e chuvas intensas nesse período costumam afetar diretamente o rendimento. As precipitações de 2023 e 2024 reduziram a produção estadual, resultando em quebras expressivas.
Com a normalização das condições climáticas, a empresa projeta superação do volume produzido em 2023, de 8,6 mil litros engarrafados em 30 mil unidades. Se, em 2024 o volume foi de 12 mil unidades, e em 2025, a produção subiu para 7 mil litros em 25 mil garrafas, para 2026, a expectativa da agroindústria é de produzir 12 mil litros, cerca de 40 mil garrafas.
Na propriedade, o azeite é produzido  a partir de variedades gregas, italianas e espanholas, como koroneiki, arbequina, arbosana, coratina, leccino e picual, entre outras, com variações conforme a intensidade das chuvas e o frio acumulado. “A oliveira precisa das chamadas horas de frio para entrar em dormência. É um mecanismo biológico de sobrevivência: quando volta a primavera, ela se enche de flores para garantir a reprodução. Esse comportamento é decisivo para definir a safra”, explica Goelzer.
Propriedade tem oliveiras plantadas em cerca de 90 hectares de área | Lívia Araújo/Especial/Cidades
Propriedade tem oliveiras plantadas em cerca de 90 hectares de área Lívia Araújo/Especial/Cidades
 
O processo produtivo segue um fluxo técnico padronizado, coordenado pelo mestre-lagareiro André Sittoni Goelzer, também sócio na empresa familiar. Após a colheita manual, as azeitonas são encaminhadas ao lagar e processadas em até quatro horas para preservar suas propriedades. A extração envolve moagem, centrifugação e filtragem, além do armazenamento em tanques de aço inox sob atmosfera inerte de argônio. “Nosso controle é permanente. O inimigo do azeite é a luz, o calor e o oxigênio. Todo o sistema é pensado para evitar esses fatores e manter a qualidade sensorial e química”, detalha André.

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