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Publicada em 02 de Abril de 2024 às 20:58

Programa TEAcolhe completa três anos com mais de 11 mil autistas atendidos

Iniciativa beneficia o atípico e seus familiares em todo o Estado

Iniciativa beneficia o atípico e seus familiares em todo o Estado

Gustavo Mansur/Palácio Piratini/JC
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Gabriel Margonar
Gabriel Margonar Repórter
Buscando oferecer suporte multidisciplinar aos gaúchos com Transtorno do Espectro Autista, o programa TEAcolhe concluiu seu terceiro ano de execução. Segundo dados da Secretaria Estadual de Saúde (SES), o trabalho desenvolvido de forma conjunta com as redes de educação e assistência social já realizou 11.253 atendimentos, 1.871 acolhimentos a famílias e 2.107 atividades de educação permanente. A informação foi divulgada devido ao Dia da Conscientização do Autismo, nesta terça-feira (2).
Buscando oferecer suporte multidisciplinar aos gaúchos com Transtorno do Espectro Autista, o programa TEAcolhe concluiu seu terceiro ano de execução. Segundo dados da Secretaria Estadual de Saúde (SES), o trabalho desenvolvido de forma conjunta com as redes de educação e assistência social já realizou 11.253 atendimentos, 1.871 acolhimentos a famílias e 2.107 atividades de educação permanente. A informação foi divulgada devido ao Dia da Conscientização do Autismo, nesta terça-feira (2).
Com um modelo pioneiro no Brasil, o programa funciona de forma integrada, abrangendo, além das pessoas com o transtorno, seus familiares, escolas, serviços da rede de assistência social, entre outros. Sua criação implementou a Lei Estadual n° 15.322/2019, que instituía a Política de Atendimento Integrado à Pessoa com Transtorno do Espectro do Autismo no âmbito do Rio Grande do Sul.
Atualmente, o TEAcolhe dispõe de 28 centros regionais, cinco centros macrorregionais e 23 centros de atendimento em saúde em funcionamento em todo o Estado. Ainda, em fevereiro deste ano, foi anunciada a ampliação desse número – serão 28 novos locais.
O acesso ao atendimento é realizado a partir dos registros e solicitações feitos pelas secretarias municipais de saúde e regulado via sistema de gerenciamento de consultas (Gercon). Conforme explica a chefe de Divisão das Políticas Transversais da SES, Fernanda Mielke, a principal qualidade do TEAcolhe está na capacitação de profissionais que saibam lidar corretamente com pessoas atípicas.
“Uma das principais preocupações levantadas pelas famílias sempre foi a falta de preparo dos profissionais que as atendiam. Muitos se viam perdidos em situações de crise, sem saber como agir ou ajudar. Por isso, considero que o grande diferencial do TEAcolhe é exatamente o investimento na qualificação das equipes e dos profissionais que lidam com pessoas com autismo. Essa abordagem permite que compreendam melhor suas necessidades e ajam de forma mais eficaz, utilizando as estratégias mais adequadas para cada indivíduo”, afirma.

Em nove meses, Centro de Referência da Capital já atendeu 282 crianças com TEA

Desde 12 de maio do ano passado, Porto Alegre conta com o Centro de Referência do Transtorno Autista (Certa), serviço que tem como objetivo reintegrar crianças atípicas na sociedade, priorizando sua autonomia social e a inclusão escolar. De acordo com o Coordenador do Comitê Gestor do CERTA, Alceu Gomes, até o momento foram realizados 282 atendimentos no local.
O Certa conta com uma equipe multidisciplinar composta por neuropediatras, psiquiatras, psicólogos, fonoaudiólogos, nutricionistas e fisioterapeutas, além de atendimento pedagógico especializado. Toda a operação é administrada pela Associação Hospitalar Vila Nova.
No local, são atendidas crianças de até 12 anos que, para utilizar o espaço, devem ser encaminhada pelas Equipes Especializadas em Saúde da Criança e do Adolescente. Porém, conforme explica Gomes, já há estudos sendo realizados para que esse atendimento se expanda para adultos e adolescentes a partir de 2025, com a criação do CERTA+.
Segundo ele, o programa já ultrapassou suas metas, porém, ainda há margem de evolução. “Temos mais pacientes do que prevíamos. Isso, ao mesmo tempo em que mostra que o trabalho vem sendo bem realizado, também impactou um pouca nossa estrutura. Atualmente, estamos contratando mais profissionais para poder suprimir a demanda nas terapias, já que essa área apresenta um pequeno déficit” detalha.

Diagnóstico precoce possibilita melhor convivência com o Transtorno, porém não deve ser limitador

De acordo com o psicólogo especializado em TEA, Maurício Torrada Pereira, uma das grandes mudanças no tratamento do autismo na atualidade está na possibilidade de um diagnóstico precoce do transtorno, ainda na primeira infância. Segundo ele, antigamente isso ocorria em menor frequência.
“Se bem diagnosticados, no tempo certo e com uma avaliação correta, as crianças atípicas terão todas as chances de se tornarem adultos de sucesso, com grandes possibilidades profissionais e pessoais”, detalha.
Porém, mesmo entre aqueles não diagnosticados na infância, nunca é tarde para receber o laudo. Esse é o caso de Dystéfano Bubols dos Santos, de 27 anos. Em 2023, aos 26 anos de idade, o tatuador se descobriu autista de nível de suporte 2, após uma colega de trabalho comentar sobre como era realizado o teste.
“Durante as sessões, ela sempre comentava sobre como estava sendo se entender como possível autista. Observando tudo o que era dito, decidi fazer o teste também, para desencargo de consciência, pois me sentia bem parecido. Então, acabou dando o resultado positivo também.
Conforme relata, ele sempre apresentou dificuldades em quesitos associados ao Transtorno do Espectro Autista, porém, acreditava que eram situações que poderiam ser tratadas com terapia comum. Após o diagnóstico, as dificuldades se mantiveram, mas, de uma forma mais fácil de lidar.
“Continuo tendo algumas questões mas, agora que sei de onde vem, tenho mais facilidade em me respeitar. Mesmo assim, é difícil receber o respeito de volta, pois muitas pessoas não acreditam nos sintomas, mesmo com o laudo. O mundo não foi criado nem moldado para pessoas deficientes, principalmente em relação as deficiências invisíveis”, finaliza.

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