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Publicada em 01 de Abril de 2024 às 20:30

Secretaria da Saúde estima que mais de 300 mil gaúchos tenham autismo

Nesta terça-feira (2), é celebrado o Dia Mundial de Conscientização sobre o Transtorno do Espectro Autista

Nesta terça-feira (2), é celebrado o Dia Mundial de Conscientização sobre o Transtorno do Espectro Autista

Reprodução/Freepik/JC
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Gabriel Margonar
Gabriel Margonar Repórter
Desde 2007, o segundo dia do quarto mês do ano tornou-se um marco de inclusão e desmitificação. Dando inicio ao Abril Azul, nesta terça-feira (2) celebra-se o Dia Mundial de Conscientização Sobre o Autismo, transtorno que atinge cerca de 300 mil pessoas em todo o Rio Grande do Sul.
Desde 2007, o segundo dia do quarto mês do ano tornou-se um marco de inclusão e desmitificação. Dando inicio ao Abril Azul, nesta terça-feira (2) celebra-se o Dia Mundial de Conscientização Sobre o Autismo, transtorno que atinge cerca de 300 mil pessoas em todo o Rio Grande do Sul.
A estimativa, da Secretaria Estadual de Saúde (SES), é baseada em um estudo realizado pelo Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) - agência do Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos - em 2023, que apontava para uma taxa de 1 caso do transtorno a cada 36 pessoas. Ou seja, 2,78% da população.
O autismo, ou Transtorno do Espectro Autista (TEA), é uma condição complexa que afeta o desenvolvimento do cérebro, influenciando a maneira como uma pessoa se comunica, interage socialmente e processa informações. Embora algumas indivíduos possam viver de forma independente, existem outros com deficiências severas que precisam de atenção e apoio constante ao longo de suas vidas.
De acordo com o psicólogo especializado em TEA, Maurício Torrada Pereira, a principal importância dessa data está na dissipação dos mitos e estereótipos a respeito do autismo, possibilitando assim uma compreensão mais profunda dessa condição. "Todas as pessoas apresentam diferenças, inclusive as típicas, então é inconcebível tantos julgamentos e preconceitos", destaca.
Segundo ele, o primeiro passo, individual, para apoiar uma pessoa atípica no dia a dia está no acolhimento. Depois, em âmbito social, na construção de uma tríade, entre familiares, instituições de ensino e profissionais da psicologia.
"O marco zero é dar ouvidos, se mostrar aberto ao que o outro tem a dizer. Temos que partir do pressuposto de que não sabemos de tudo para, a partir daí, enxergar a realidade e melhorá-la da forma como for possível. Além disso, para expandir esse processo, é necessário que os familiares sejam ativos e compreensivos, as escolas saibam como acolher e os terapeutas saiam de suas zonas de conforto, dando o máximo para atender cada paciente", aponta o psicólogo.
Conforme descreve o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais da Associação Americana de Psiquiatria (DSM-5), o autismo pode se apresentar em três diferentes níveis de necessidade de suporte, sendo:
Nível 1: conhecido como "leve", requer um suporte mínimo. A pessoa enfrenta alguns desafios sociais, como dificuldade em iniciar conversas ou responder apropriadamente. Isso pode tornar difícil estabelecer amizades, especialmente sem o acompanhamento de profissionais especializados. Além disso, indivíduos neste nível muitas vezes sentem a necessidade de seguir padrões comportamentais rígidos, são mais apegados à rotina e tendem a resistir a mudanças.
Nível 2: designado como "moderado", neste estágio a pessoa necessita de um suporte mais substancial do que aqueles no nível 1. Eles podem ter dificuldade em manter uma conversa fluente, falam pouco e encontram desafios na compreensão da comunicação não verbal, como expressões faciais. Adaptações e mudanças repentinas são particularmente difíceis para eles.
Nível 3: considerado o "severo", neste estágio a pessoa requer o mais alto grau de suporte entre todos os outros níveis. Apresentam dificuldades graves tanto na comunicação verbal quanto na não verbal, sendo significativamente limitados em sua capacidade de interagir com outras pessoas. Além disso, manifestam comportamentos repetitivos e restritivos que impactam diretamente em suas próprias vidas e na daqueles ao seu redor. São dependentes de pais e cuidadores para realizar atividades básicas do dia a dia, como se vestir ou se alimentar.

'Muitas colégios não estão prontos para tratar crianças atípicas' 

Para Luciani Machado, o diagnóstico de seu filho, Lucas, de 6 anos, foi "um alívio", já que ela temia que sua relação conturbada com os colegas fosse fruto de uma má educação. Conforme explica, a criança começou a apresentar mudanças em seu comportamento no momento do ingresso na escola. "Quando ele começou a ter contato com outras crianças, apareceram os primeiros sinais. Não aceitava os colegas, os barulhos, se incomodava com muitos estímulos... isso resultou em uma crescente agressividade", lembra.
Segundo Luciani, foram várias as vezes em que os professores a chamaram para reclamar do mau comportamento de seu filho. Depois do diagnóstico, somado a mudança de escola, as coisas melhoraram, porém, os primeiros anos de convívio escolar foram conturbados.
"Muitos colégios não estão preparados para lidar com crianças atípicas e isso é extremamente prejudicial para a formação delas. Eu vejo isso agora porque, na nova escola, que também é particular, as coisas são totalmente diferentes... ele tem acompanhamento especializado e, ao mesmo tempo, está incluído dentro do contexto das atividades realizadas pela turma", finaliza.
Na edição desta quarta-feira (3), leia sobre os programas assistenciais para os portadores do TEA.
 

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