O Rio Grande do Sul é o principal produtor de vinhos do Brasil, sendo responsável por cerca de 85% da produção nacional, conforme a União Brasileira de Vitivinicultura (Uvibra). Ao todo, 15 mil famílias atuam no cultivo de uvas em cerca de 48 mil hectares no Estado, segundo os dados da Secretaria Estadual de Agricultura. Dentro desse cenário de competitividade, as principais indústrias voltadas à produção de vinhos e espumantes têm buscado novidades agrícolas e tecnológicas para se destacarem no mercado a partir do aprimoramento de sua matéria-prima.
Reunindo 1.100 famílias cooperativadas, a Vinícola Aurora é uma das maiores empresas do setor vitivinícola no Brasil. Distribuídos em 11 cidades da Serra Gaúcha, os agricultores produzem 56 variedades de uva em cerca de 3 mil hectares. Assim, a produção e a venda de produtos também são elevadas: a Aurora processa de 10% a 15% da safra de uvas do Rio Grande do Sul e, em 2024, comercializou 66,7 milhões de litros entre bebidas alcoólicas e não alcoólicas.
Em 2025, a empresa deverá investir R$ 25 milhões na melhoria dos processos. Entre os avanços, destacam-se a aquisição de 47 tanques de aço inox de 500 mil litros para vinhos e sucos de uva, quatro ovos de concreto para vinificação, 10 autoclaves para espumantes, além da modernização da linha de sucos e a instalação de uma linha de Tetra Pak de 1,5 litro com capacidade para 7 mil unidades por hora. Além disso, foi adquirida nova envasadora de Keep Cooler, que ampliou de 12 mil garrafas por hora para 18 mil por hora.
Mais distantes da indústria, estão outros investimentos: aqueles focados no campo e na otimização da produção de uvas. Para isso, focam em pesquisas inovadoras e tecnológicas. "Simulamos o frio numa geladeira e colocamos as gemas em uma câmara quente e úmida que simula a primavera, quando acontece o processo de brotação. Então, fazemos a contagem do número de cachos que cada broto tem. Com isso, conseguimos ter uma perspectiva do potencial de produção da safra que está por acontecer", explica o gerente agrícola da Aurora, Maurício Bonafé.
Por outro lado, também utilizam ferramentas de monitoramento climático. Assim, buscam antecipar a possibilidades de doenças relacionadas ao clima, como o míldio, que é o principal problema das uvas da região. "Levantamos alguns dados como temperatura, volume de folhas e volumes de chuva e utilizamos um software da Embrapa que retorna em um formato de fácil compreensão para o produtor e o técnico. A partir disso, ele pode tomar a decisão de aplicar ou não produtos para a prevenção da doença, conforme a necessidade", acrescenta Bonafé.
Também na Serra Gaúcha, a cooperativa Garibaldi possui 470 cooperados que produzem uvas em 1,2 mil hectares divididos em cerca de 20 cidades da região. Em 2024, o faturamento líquido da empresa foi de R$ 307,8 milhões. Sua aposta para manter os números tem sido na diversificação agrícola, importando cerca de 50 novas variedades de sementes e cultivares de pelo menos sete países europeus.
A expectativa é de que essas espécies sejam testada em vinhedos experimentais buscando verificar a adaptação ao terroir local e às mudanças climáticas. Posteriormente, elas são estudadas para a fabricação de vinho em um processo chamado microvinificação. "Inicialmente, era algo externo, realizado em parceria com um instituto de pesquisa, mas passamos a avaliar internamente também a fim de identificar o potencial enológico dentro de nossos protocolos de vinificação", comenta o enólogo da Garibaldi Ricardo Morari.
"O processo determina se essas variedades vão ao encontro das demandas de mercado – levando em consideração o desempenho da produção no campo, o potencial de mercado, perfil aromático, maturação, perfil de vinho e um comparativo com variedades mais consolidadas", acrescenta o gerente de assistência técnica da Garibaldi, Evandro Bosa.
O processo garantiu o ingresso de duas novas variedades na produção de bebidas que já estão sendo comercializadas. Uma delas é o vinho Garibaldi VG Pálava, com uma varietal originária da República Tcheca. Outra, é o espumante Viognier. Ambos já receberam prêmios internacionais, incluindo o argentino La Mujer Elige, realizado em Mendoza em 2024.
A Salton, por sua vez, buscou ampliar sua produtividade investindo em tecnologia. A mais recente foi uma plantadeira de videiras alemã, que otimiza a plantação. Com ela, foram plantadas em 2024 cerca de 6 mil mudas por dia na Azienda Domenico, em Santana do Livramento, na Região da Campanha.
O processo de plantio durou 20 dias, entre julho e agosto, e chegou a aproximadamente 100 mil mudas em 23 hectares. A média é de pouco mais de um hectare plantado por dia. Com processos como esse, a venda dos produtos finais da indústria vêm crescendo: de 2023 para 2024, a comercialização de espumantes cresceu 15%, alcançando o recorde de 12 milhões de garrafas vendidas. Consequentemente, a produção deverá suprir a demanda.
"O projeto de Santana do Livramento sempre veio nessa batida de inovação, pois nosso objetivo é seguir sendo referência em viticultura tecnológica e sustentável. Temos máquinas para desbrotar o caule, outras que desfolham a região dos cachos, mais uma para despontes e cortes de galhos laterais indesejáveis. A nossa colheita também é mecanizada e agora, nesse ano, nossa plantação passou a ser automatizada. Nenhum processo na Azienda Domenico é 100% manual", explica Junior Marques, administrador da unidade da Salton em Santana do Livramento.