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Publicada em 21 de Maio de 2025 às 17:41

A "fábrica das fábricas" do Grupo Herval também produz para outras indústrias

Complexo industrial em Dois Irmãos fabrica milhares de produtos para as dezenas de marcas do Grupo Herval

Complexo industrial em Dois Irmãos fabrica milhares de produtos para as dezenas de marcas do Grupo Herval

TÂNIA MEINERZ/JC
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JC
Ana Stobbe, Guilherme Kolling
De Dois Irmãos
De Dois Irmãos
Em 10 de setembro de 1959, o município de Dois Irmãos se separou de São Leopoldo e conquistou a emancipação. Menos de um mês depois, Felippe Seger Sobrinho fundou a Madeireira Herval, hoje comandada por seu filho, Agnelo Seger.
A produção na empresa foi sendo expandida gradualmente, abrangendo móveis e estofados, até se tornar uma gigante multimarcas, com o novo nome de Grupo Herval. Sob o comando de Agnelo estão 27 marcas de indústria, varejo, serviços e teconologia, como Herval Móveis e Colchões, TaQi, HS Consóricos e iPlace, essa última vende produtos Apple no Brasil e no Uruguai.
A reportagem do Jornal do Comércio esteve na cidade e conheceu por dentro a operação do complexo industrial às margens da rodovia BR-116, em Dois Irmãos, passando pelas fábricas de móveis, estofados, além de  outras linhas de produção em diversos pavilhões, que somam 220 mil metros quadrados de área construída.
As construções mais antigas, da década de 1980, feitas de tijolos e com um teto mais baixo, atualmente são utilizadas para a produção de estofados. Lá, são fabricados 295 modelos de colchão. A produção é verticalizada. Ou seja, diferentes materiais que compõem os produtos finais que chegam ao mercado são produzidos lá.
No caso dos colchões, além dos estofados, são fabricadas molas (que também são ensacadas individualmente para produzir um melhor molejo dos produtos) e espumas. Também é nos pavilhões que ocorrem os processos de corte e costura dos tecidos, cura e dublagem dos estofados e a montagem que une todos os produtos em um só, sem falar na composição química das espumas usadas nos estofados.
O mais interessante é que, além dos próprios produtos da Herval, essa produção fornece peças para uma infinidade de outras marcas, abastecendo diversas indústrias no Rio Grande do Sul, no Brasil e até no exterior. São assentos em espuma para fábricas de cadeiras ou ônibus, peças para sutiãs e artefatos utilizados em automóveis e calçados. Assim, o complexo industrial da Herval é também uma verdadeira "fábrica de fábricas".
Entre os clientes do ramo automobilístico estão gigantes como Honda e Toyota e no setor de fabricação de ônibus as gaúchas Marcopolo e Comil. "Há muitas empresas que fazem questão de ressaltar que usam nossos estofados, como um atestado de qualidade", conta o CEO, Agnelo Seger, que guiou a reportagem durante a visita que durou uma manhã, ao lado da analista de sistema de gestão da qualidade sênior, Ana Paula Kolling.
No ramo de calçados, há clientes na própria cidade de Dois Irmãos e gigantes que exportam para outros países, como a Calçados Beira Rio e a Vulcabras. A Herval entrega solados de poliuretano, lâminas de látex e materiais para estofamento de calçados e palmilhas. Além disso, a indústria é a maior fornecedora de espuma para bojos de sutiã no Brasil.

Modernidade e tradição

No processo químico, automatizado por computadores, em 10 segundos é misturada a fórmula que produz as espumas dos estofados, utilizando ISO TDI e poliol, armazenados em grandes tanques. Inicialmente em estado líquido, o material é aquecido até 150º e se expande, tornando-se sólido. No pavilhão de cura, os blocos de 60 metros de espuma são armazenados em 38 mega gavetas para esfriar antes de seguirem aos processos de corte. Como a produção é realizada de maneira contínua, os blocos — já impressionantemente grandes — poderiam ter um tamanho ainda maior.
O Grupo Herval ainda alia a modernidade com a tradição. Em um outro pavilhão, os blocos de espuma são produzidos em caixotes, e não de maneira contínua, resultando em produtos menores. "Temos clientes antigos que ainda nos pedem essa produção mais artesanal e são clientes muito especiais para nós, que não queremos perder", explica Agnelo. Os caixotes também servem para a produção de novas fórmulas nas etapas de teste.
A indústria moveleira, situada nos maiores e mais modernos prédios com um pé direito de 12 metros de altura, possui duas linhas de produção. Uma, mais artesanal, entrega móveis de alto padrão, principalmente para a Uultis, marca do Grupo Herval que exporta para os Estados Unidos. A produção em série atende a vários clientes, incluindo marcas pertencentes ao conglomerado, como a Édez, e clientes externos como a Tok Stok.
A empresa ainda fabrica produtos vendidos com a marca da multinacional sueca Ikea, exportados com rígidas exigências ambientais no uso de madeira, por questões de sustentabilidade e mercado. A própria Herval exporta seus produtos para dezenas de países. No showroom, visitado pela reportagem, é possível encontrar ambientes inteiros com os itens produzidos na fábrica, principalmente quartos e cozinhas.

Investimentos em modernização e sustentabilidade são constantes para o Grupo Herval

Aportes em maquinário são realizados frequentemente; no momento, as fábricas aguardam sete novos equipamentos

Aportes em maquinário são realizados frequentemente; no momento, as fábricas aguardam sete novos equipamentos

TÂNIA MEINERZ/JC
A mais recente expansão do Grupo Herval foi na construção de um novo prédio que comporta a marcenaria no complexo de Dois Irmãos. Com 54 mil metros quadrados, a estrutura inaugurada em 2023 também abarca escritórios de e-commerce, da HS Consórcios, da Herval Corretora e da HS Financeira. Agnelo Seger garante que a empresa está sempre realizando algum investimento. 
A Herval possui 10 unidades industriais entre Rio Grande do Sul e Pernambuco. Além disso, tem centros de distribuição em São Paulo, no Espírito Santo e nos Estados Unidos. No caso da iPlace, um novo escritório foi inaugurado neste mês em São Paulo. A quantidade de estruturas explica o constante aporte de recursos
Atualmente, sete novas máquinas adquiridas para setores variados da produção industrial estão passando pelos trâmites necessários para o seu transporte ao Brasil. Outras, chegaram recentemente.
Um exemplo foi observado durante a visita: em uma das esteiras, o CEO percebeu uma produção mais lenta que o comum e, ao questionar os funcionários, obteve uma resposta que o alegrou: "estamos aprendendo o novo processo de embalagem, com a máquina nova", explicaram.
Dois Irmãos é região de colonização alemã e, também influenciada por isso, boa parte do maquinário mais moderno da Herval vem da Alemanha. Mas é possível ver uma verdadeira união de países entre as máquinas, com importações de outras nações como Itália, Estados Unidos e, mais recentemente, da China. "Os chineses têm avançado muito em tecnologia", avalia Agnelo.
Outra constante é a aposta em práticas sustentáveis, o ESG (Environmental, Social, and Governance) está na agenda. O Grupo Herval foi pioneiro no Brasil na produção de estofados sem emissão de CFC (cloro, flúor e carbono, que podem causar danos à camada de ozônio), tendo recebido uma certificação da Organização das Nações Unidas (ONU).
Resíduos da produção também são reaproveitados. Enquanto os cones do setor de costura são transformados em "pés" de móveis, os tecidos de TNT da assistência técnica de colchões são utilizados na embalagem feita para o envio de produtos. Também chama a atenção, na fábrica, o reaproveitamento de pedaços de espuma e madeira. Há técnicas de logística reversa: tanto a madeira quanto os estofados são reaproveitados para a criação de novos itens. "É uma matéria-prima muito boa e evita o desperdício", analisa o CEO.

Para Agnelo Seger, indústria gaúcha enfrenta desafios, mas busca modernização

CEO do Grupo Herval, Agnelo Seger aponta carência de mão de obra como um dos principais desafios da indústria gaúcha

CEO do Grupo Herval, Agnelo Seger aponta carência de mão de obra como um dos principais desafios da indústria gaúcha

TÂNIA MEINERZ/JC
Há mais de 100 vagas não preenchidas no Grupo Herval. Já são vários meses nesta situação. A carência de mão de obra é, para Agnelo Seger, o principal desafio da indústria gaúcha no momento. Parte dos postos de trabalho tem sido preenchida por estrangeiros que tentam melhorar de vida no Brasil. Durante a visita à indústria, a equipe do Jornal do Comércio identificou um imigrante venezuelano atuando na produção.
"A mão de obra que nós temos é boa, mas é pouca. A indústria também tem que começar a criar mais atrativos, ser cada vez mais humana", avalia o CEO. No caso da empresa, o investimento tem sido na criação de espaços de convivência, além de um moderno refeitório.
Outra questão importante observada pelo executivo está na formação de profissionais. O Grupo Herval possui uma escola industrial o que, conforme o CEO, ajuda a garantir a manutenção do padrão e da qualidade dos produtos fabricados. Entretanto, ele também destaca iniciativas como as escolas técnicas de instituições como o Senai.
O caminho a ser trilhado pela indústria brasileira, para Agnelo, passa pelo investimento em tecnologia e automação, com aposta na Inteligência Artificial. "Hoje avançamos e a indústria já não é mais a 4.0 (avançou e está além disso). A questão da automação pode auxiliar (no problema da falta de mão de obra). A Inteligência Artificial vai poder nos ajudar muito, precisamos nos apropriar disso", pontua.
No Rio Grande do Sul, pela localização, outro desafio é a logística, o que exige uma produção com mais competitividade para compensar os gastos com frete até os grandes mercados. Além disso, Agnelo cita a elevação dos juros, entrave a novos investimetnos, que se tornam mais caros, e o Custo Brasil, que inclui o complexo sistema tributário.

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