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Bruna Suptitz

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Publicada em 18 de Janeiro de 2024 às 20:32

Arborização urbana volta ao debate após temporal em Porto Alegre

Proximidade com rede de energia motiva podas, que podem enfraquecer as árvores e facilitar a queda

Proximidade com rede de energia motiva podas, que podem enfraquecer as árvores e facilitar a queda

/FERNANDA FELTES/JC
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Pelo menos 500 árvores caíram nas vias ou em áreas particulares em Porto Alegre com o temporal que atingiu a cidade na noite de terça-feira, 16. Esse é o número mais atualizado informado pela Secretaria de Serviços Urbanos até a tarde desta quinta-feira e não contabiliza as árvores que foram ao chão em praças ou parques.
Pelo menos 500 árvores caíram nas vias ou em áreas particulares em Porto Alegre com o temporal que atingiu a cidade na noite de terça-feira, 16. Esse é o número mais atualizado informado pela Secretaria de Serviços Urbanos até a tarde desta quinta-feira e não contabiliza as árvores que foram ao chão em praças ou parques.
Na ordem de prioridade do atendimento aparece primeiro a remoção de vegetais caídos sobre casas, seguida da desobstrução de vias de grande movimento, em frente a escolas e postos de saúde, e após as que estão em frente a residências e as com risco de queda.
Outras ruas serão atendidas após isso. Parques e praças somente depois. Para atuar neste atendimento emergencial, a prefeitura conta com o auxílio dos bombeiros, do Exército e com a colaboração da população que atendeu ao chamado do prefeito Sebastião Melo (MDB) e emprestou 10 motosserras para agilizar o serviço.
Além de terem sofrido o impacto do vento de quase 90 quilômetros por hora e estarem espalhadas e tombadas cidade afora, as árvores foram apontadas como responsáveis pelo expressivo número de pontos sem luz - o motivo seria a queda delas inteiras ou de seus galhos na fiação de energia.
O presidente da CEEE Grupo Equatorial, Riberto José Barbanera, em entrevista ao Jornal do Comércio na quarta-feira, apontou a arborização como um dos pontos, na relação com a prefeitura da capital, em que há "oportunidade de melhorias". "Sabemos o quanto isso é importante, o quanto isso embeleza a cidade, mas precisamos ter cuidado com a arborização para ter um convívio harmonioso com a rede elétrica", disse.
É essa convivência que se coloca à prova toda vez que um fenômeno climático extremo derruba vegetais de maior porte. "São declarações ruins, isso cria o sentimento de que as pessoas querem se livrar das árvores. Aconteceu em 2016 e não queremos ver essa repetição", recorda Paulo Brack, professor do Instituto de Biociências da Ufrgs e membro da coordenação do Instituto Gaúcho de Estudos Ambientais - InGá.
A preocupação encontra eco no poder público. "Não se pode hoje simplesmente suprimir as árvores que são consideradas 'inadequadas'. Tem que olhar não somente as que caíram, mas as que protegeram as casas", aponta Veronica Riffel, coordenadora de Arborização Urbana da Secretaria Municipal de Meio Ambiente, Urbanismo e Sustentabilidade. Árvores também exercem a função de barrar ventos, ruídos e a poluição do ar, além de proporcionar conforto térmico - Brack lembra que, nos dias de muito calor, é debaixo de uma árvore que as pessoas querem estacionar seus carros.
O que precisa, então, é aprimorar o monitoramento e a manutenção das árvores na cidade. Ponto sempre lembrado pelos ambientalistas são as podas feitas em época não recomendada - "quando necessárias, tem que ser feitas no inverno", explica Brack. "Na primavera e no verão a planta está crescendo. Durante o inverno a planta para de crescer e o metabolismo está entrando em latência, então o dano será menor", completa.
Responsável por coordenar o serviço de poda das árvores em vias públicas e parques, o secretário de Serviços Urbanos, Marcos Felipi Garcia, conhece essa orientação, mas diz que o trabalho "não pode esperar uma época do ano" em uma cidade com mais de 1,3 milhão de árvores, caso de Porto Alegre. Pelo contrato atual, a prefeitura paga as empresas terceirizadas por produtividade, ou seja, por poda realizada. Garcia não acredita que isso induza a retirada de galhos sem necessidade, pois a remoção só acontece com autorização da prefeitura, embasada em laudo de servidor da pasta, sustenta. Ainda assim, a lógica é alvo de críticas. "Se é feita nas épocas incorretas e de forma indiscriminada, traz problemas futuros com a entrada de doenças, a planta fica debilitada", aponta Brack.
Sobre as reclamações que se repetem, especialmente nas redes sociais, de podas ou supressões (remoção total) não realizadas pelo poder público, mesmo quando demandadas pela população, Garcia aponta que "pode ser que tenha sido feito o pedido e não era necessária, mas com o vento caiu, ou era necessário e não deu tempo". O secretário diz que investimentos estão sendo feitos para agilizar o atendimento.
Sobre os motivos que podem ter contribuído para as quedas desta semana, Verônica aponta outras situações prejudiciais à saúde das árvores, como canteiros inadequados, pequenos para o porte do vegetal, que não dão suporte adequado às raízes e não permitem a penetração de água e de ar. Para identificar plantas em condições assim, a prefeitura da Capital está promovendo um "censo" da arborização urbana. No Centro Histórico e nos bairros do 4º Distrito, primeiras regiões atendidas, foram identificadas mais de 6 mil árvores. Por serem regiões mais antigas da cidade, as árvores não são as consideradas hoje mais adequadas para o plantio em vias urbanas.
A proposta, segue Verônica, é a partir de agora promover um plantio inteligente, com avaliação prévia do tamanho do passeio (calçada), dos canteiros e das redes aéreas (fiação) e subterrâneas (fiação e encanamentos), por exemplo. Para ela, o papel das companhias de energia para manter a arborização e a rede de energia em harmonia pode ser o da substituição da fiação pelo "cabo ecológico", redes em que há redução na interferência dos fios com as árvores, e em consequência uma diminuição nos riscos de corte de energia.

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