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Plano Diretor de Porto Alegre

- Publicada em 12 de Setembro de 2023 às 21:05

Consultoria sugere que Conselho do Plano Diretor de Porto Alegre perca poder deliberativo

Composição do colegiado é a mesma desde 2018; última reunião presencial (foto) foi antes da pandemia

Composição do colegiado é a mesma desde 2018; última reunião presencial (foto) foi antes da pandemia


/BRUNA SUPTITZ/ESPECIAL/JC
O Conselho do Plano Diretor de Porto Alegre, órgão que tem entre as suas atribuições analisar projetos construtivos de grande impacto na cidade, poderá perder sua função deliberativa - a que hoje dá aos integrantes poder de decisão sobre a validade de um empreendimento e quais contrapartidas devem ser entregues à sociedade.
O Conselho do Plano Diretor de Porto Alegre, órgão que tem entre as suas atribuições analisar projetos construtivos de grande impacto na cidade, poderá perder sua função deliberativa - a que hoje dá aos integrantes poder de decisão sobre a validade de um empreendimento e quais contrapartidas devem ser entregues à sociedade.
Passada a revisão do Plano Diretor, é possível que o colegiado passe a ser somente consultivo - é o que sugere a consultoria Ernst & Young em um dos relatórios entregues para a prefeitura.
Elaborado com base na chamada "leitura da cidade", etapa em que se faz uma análise da lei atual e da própria cidade, o documento apresenta indicações do que poderá ser alterado na revisão em curso. A apresentação aos conselheiros será feita em reunião do Conselho ainda no mês de setembro.
O relatório indica que "embora a opinião pública seja buscada e considerada, a decisão final cabe aos funcionários públicos, que têm a experiência e o conhecimento necessários para tomar decisões informadas, e aos políticos (prefeito e vereadores), eleitos para representar a população". O documento também fala da responsabilidade dos servidores na tomada de decisões.
No que diz respeito ao Conselho, a consultoria identifica que este tem competências consultivas e deliberativas, com destaque para a aprovação dos projetos especiais e a definição do estoque e do valor dos índices construtivos (solo criado). E aponta que a composição tripartite (setor público, sociedade civil organizada e representantes comunitários) representa "um descasamento político entre a responsabilidade pela gestão municipal, que é da prefeitura, e o Conselho, no qual esta (a prefeitura) é minoritária".
A avaliação feita neste caso é numérica. Na prática, mesmo contando com apenas uma de três partes do Conselho, a prefeitura consegue garantir que sua orientação seja seguida pela maioria dos conselheiros em todas as votações, o que vem acontecendo com a atual composição, cujo mandato iniciou em 2018 e vem sendo prorrogado desde 2020, mesmo ano em que as reuniões passaram a ser realizadas em formato online. Outro argumento para que o Conselho mude de caráter, conforme descrito no relatório, é "uma inadequação entre a composição política do Conselho e a natureza técnica das decisões que lhe são atribuídas".
Como conclusão, a Ernst & Young sugere "que as competências decisórias sejam transferidas" para a Secretaria Municipal de Meio Ambiente, Urbanismo e Sustentabilidade, atual responsável pela gestão do planejamento urbano em Porto Alegre. Ainda conforme o documento, "tal providência tornará possível, de outro lado, eventual ampliação do número de membros" do Conselho, "de modo a ampliar a representatividade da comunidade e da sociedade civil".
As informações contidas neste relatório são sugestões. O futuro do Conselho do Plano Diretor depende da definição que se dará na etapa "sistematização e proposta", que está prestes a iniciar e culminará com a elaboração da minuta de lei da revisão, a ser submetida à apreciação da sociedade em audiência pública prevista para acontecer em dezembro.
Considerando o perfil do prefeito Sebastião Melo (MDB), a tendência é que a sugestão seja acatada. Desde o início do seu governo, Melo manifesta contrariedade com o modelo de gestão compartilhada com conselhos de políticas públicas. Em uma audiência sobre o Previmpa, em 11 de março de 2021, declarou que "conselho opina e a gente (governo) pode respeitar a opinião dos conselhos ou não". Mais recentemente, em abril deste ano, a Câmara Municipal aprovou proposta do Executivo que acabou com o Conselho de Transportes, que tinha caráter deliberativo, criando no seu lugar um colegiado consultivo de Mobilidade Urbana.

Mais consulta, mas sem compromisso

Ao mesmo tempo que propõe subtrair funções do Conselho, o relatório da consultoria sustenta que “a transparência é um elemento crucial para garantir a confiança do público no processo de planejamento urbano”. Para isso, indica que as decisões tomadas devem ter ampla divulgação, o que permitirá à população entender o processo. Consultas públicas são citadas no documento como “uma maneira importante de obter feedback da comunidade sobre planos e projetos propostos”.
A orientação é responder os comentários recebidos durante o processo de consulta pública como forma de valorizar as opiniões. É feita a ressalva, no entanto, de que “responder a um comentário não significa necessariamente acatar a sugestão ou crítica”, reiterando que a decisão caberá aos servidores e ao poder público.

O que mais está por vir

Dois documentos compõem o relatório de análise da etapa de leitura da cidade, somando mais de mil páginas de conteúdo em texto e imagens. A coluna está analisando o material e seguirá, nas próximas  semanas, compartilhando informações sobre o seu conteúdo.
Estes e outros documentos estão disponíveis para consulta pública na página do Plano Diretor no site da prefeitura de Porto Alegre. Acesse a seguir os relatórios consultados pela coluna: "volume 1" e "volume 2".