Pequim
É correta a premissa de que o futuro dos veículos no mundo está nas mãos de motoristas que pilotarão carros, ônibus e mesmo caminhões movidos a energia limpas. O mundo fatalmente deixará para trás ao menos a primazia dos veículos movidos por combustíveis fósseis.
Diferentes estudos apontam 2050 como o ano da virada dos números. Ou seja, quando já predominarão nas ruas mais carros elétricos ou híbridos do que movidos à gasolina ou diesel. Também no ano de 2050 diversos países deverão começar a proibir a venda de automóveis poluentes, especialmente na Europa. E é fato, também, que boa parte dessa virada de chave começa pela China.
"Acreditamos que entre cinco e 10 anos a metade dos carros que circulam pelo país será elétrico ou híbrido. Mas isso ainda depende de fatores como o avanço na expansão de pontos de abastecimento elétrico nas ruas e autopistas e tempo de autonomia dos veículos", resume o diretor do Departamento de Gestão de Operações da Beijing Automotive Group Corporation (BAIC), Liu Shijin.
A Baic Group, fundada em 1958, vendeu no ano passado 2,5 milhões de veículos, dos quais quase 5% elétricos (próximo de 150 mil unidades). A expectativa é elevar este número para 200 mil em 2020. Liu estima que as vendas totais do segmento devem agregar, em 2018, entre 700 mil e 1 milhão de novos carros elétricos na ruas e rodovias do país. Isso porque o mercado chinês é abastecido neste nicho também por importados e por outras fabricantes locais de veículos elétricos, como a BYD, sediada na cidade de Shenzen.
A BYD, por sinal, aposta não apenas no gigante asiático como nas exportações e em seus investimentos no Brasil para crescer globalmente. A fabricante chinesa está colocando nas vias de diferentes cidades brasileiras dezenas de ônibus e caminhões, e construindo, em Salvador, um monotrilho elétrico. Ou seja, o desenvolvimento desse mercado na China acaba respingando, ou faiscando, também em outros continentes. O que é bom para o ambiente e, claro, para a fabricante.
Como o governo chinês está reduzindo os incentivos ao setor, a BYD e outras fabricantes registram redução de seus lucros com vendas domésticas. Para compensar a queda de subsídios diretos, o governo chinês concederá benefícios a empresas de transportes de passageiros pelo aumento da frota dotada com fontes de energia limpa. O que, segundo a BYD, poderá mitigar as reduções de subsídios ao setor. E os motivos para a troca de padrão são muitos.
"Em comparação com os veículos tradicionais, os de nova energia são melhores em aspectos como a isenção de restrições sobre os números das placas (em Pequim, por controle da logística urbana, há limites de placas liberadas por ano), em subsídios do governo, menor custo da eletricidade ante à gasolina e a demanda dos consumidores verde", afirma Lin Boqiang, chefe do Instituto Chinês de Estudos em Política de Energia da Universidade de Xiamen, em recente entrevista à agência Xinhua.
A expansão do número de carros elétricos saindo das linhas de montagem chinesas tem, na Saic Motor, uma das 10 maiores montadoras do mundo, um bom exemplo da expansão. De 640 mil veículos movidos com novas fontes de energia em 2017, a empresa saltou para 570 mil apenas no primeiro semestre deste ano. Mas diz não ser possível prever quando a maior parte de sua produção (de 3,5 milhões de unidades em 2017) será de carros elétricos.
Renata Reis comprou uma scooter que consegue abastecer em casa. Foto: Arquivo Pessoal/JC
O mercado de duas rodas também tem avanços elétricos. A brasileira Renata Reis, que trabalha como tradutora em Pequim, por exemplo, já adotou a scooter elétrica da Niu e se diz satisfeita. "Custou 6,4 mil yuans (cerca de R$ 4,1 mil), abasteço em casa e minha conta de energia no último mês foi de 100 yuans (R$ 64,00). A autonomia é de 70 quilômetros com carga cheia, andando em uma velocidade média de 20 km por hora", diz Renata, que apenas lamenta ainda ter raras opções de carregamento nas ruas de Pequim caso seja necessário.