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Publicada em 11 de Novembro de 2025 às 16:31

Contador precisa unir técnica, visão estratégica e capacidade analítica

Para Raquel, contabilidade vai muito além do cumprimento de obrigações

Para Raquel, contabilidade vai muito além do cumprimento de obrigações

FIPECAFI/DIVULGAÇÃO/JC
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Osni Machado
Osni Machado Colunista
A área contábil vive um momento de grandes transformações impulsionadas pela digitalização, pela chegada da inteligência artificial e pela crescente complexidade das mudanças regulatórias, como a Reforma Tributária. Nesse contexto, o contador passou a envolver um nível mais elevado de análise, visão de negócios e capacidade de traduzir dados em decisões estratégicas. O papel desse profissional, que antes se concentrava majoritariamente no cumprimento de obrigações legais e no registro das operações, agora se amplia, exigindo uma atuação mais integrada e voltada para o futuro das organizações.
A área contábil vive um momento de grandes transformações impulsionadas pela digitalização, pela chegada da inteligência artificial e pela crescente complexidade das mudanças regulatórias, como a Reforma Tributária. Nesse contexto, o contador passou a envolver um nível mais elevado de análise, visão de negócios e capacidade de traduzir dados em decisões estratégicas. O papel desse profissional, que antes se concentrava majoritariamente no cumprimento de obrigações legais e no registro das operações, agora se amplia, exigindo uma atuação mais integrada e voltada para o futuro das organizações.
A coordenadora e professora de cursos de pós-graduação na Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras (Fipecafi), Raquel Fraga, tem acompanhado de perto esse movimento de transformação. Graduada em Ciências Contábeis, mestre e doutora em Controladoria e Contabilidade pela Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Atuária da Universidade de São Paulo (FEA-USP), com pesquisa voltada para sistemas de controle gerencial, ela acumula mais de uma década de experiência profissional em controladoria, contabilidade e finanças em empresas nacionais e multinacionais, o que lhe permite enxergar com clareza o novo perfil demandado pelo mercado.
Para Raquel, o contador e o controller (controlador) serão profissionais de interface, capazes de unir conhecimento técnico e visão estratégica, traduzindo números em linguagem acessível para diferentes públicos. Ela observa que a tecnologia ampliou a velocidade das análises e o espaço para a geração de insights, exigindo atualização contínua e postura proativa. Nesse sentido, a especialista ressalta que o aprendizado constante e a curiosidade intelectual se tornaram diferenciais competitivos para quem atua na área contábil.
A professora explica que o avanço de ferramentas como RPA, Business Intelligence, Data Analytics e Inteligência Artificial vem remodelando o perfil desses profissionais, que precisam compreender o negócio de forma ampla e atuar com ética e responsabilidade na gestão de informações sensíveis. Em entrevista ao Jornal do Comércio, Raquel detalha um pouco mais sobre os desafios de formar profissionais prontos para um ambiente corporativo em constante transformação e cada vez mais orientado por dados.
JC Contabilidade – Quais são as principais transformações que têm impactado a atuação dos profissionais de contabilidade e controladoria?
Raquel Fraga – A principal transformação está na mudança de posicionamento do contador. Ele deixa de atuar como “bean counter”, focado apenas em registrar e reportar informações, para assumir um papel verdadeiramente estratégico, como business partner do negócio. A automação, a digitalização, os ERPs com cada vez mais funcionalidades, o RPA, o analytics e agora a Inteligência Artificial reduziram drasticamente o tempo dedicado à geração de informações e ampliaram o espaço para análise, interpretação e geração de insights relevantes para as decisões corporativas. Hoje, o contador não apenas entrega números, mas agrega valor ao traduzir essas informações em estratégias e soluções.
Contab – O ambiente regulatório também segue dinâmico e exige atualização contínua?
Raquel – Sim. Seja pela reforma tributária ou pelas mudanças e evoluções nas normas internacionais de contabilidade, como a entrada da IFRS 18. Isso reforça ainda mais a necessidade de visão técnica combinada com visão estratégica. O profissional de contabilidade e controladoria precisa compreender profundamente o negócio, apoiar áreas diversas e a alta gestão, e ser capaz de traduzir números em direcionadores estratégicos, inclusive para quem não domina contabilidade, controladoria e finanças. Hoje é menos sobre produzir informação e cada vez mais sobre gerar valor por meio dela e utilizá-la como ferramenta de competitividade.
Contab – Como o profissional da contabilidade pode se preparar para assumir um papel mais estratégico dentro das organizações?
Raquel – O primeiro passo é entender que a contabilidade vai muito além do cumprimento de obrigações legais. O contador que deseja ter papel estratégico precisa compreender o modelo de negócio da empresa, conhecer seus indicadores e participar ativamente das discussões que envolvem planejamento e resultados. Isso exige domínio técnico, mas também visão de contexto e capacidade de comunicação. O profissional deve ser capaz de traduzir números em linguagem de gestão, apoiando decisões e antecipando riscos e oportunidades que impactam o desempenho empresarial.
Contab – A contabilidade ainda é vista como uma área de suporte ou já é reconhecida como essencial para o negócio?
Raquel – Esse paradigma está mudando rapidamente. As empresas que compreendem a importância da informação contábil e do controle gerencial estão colocando esses profissionais no centro das decisões. A contabilidade é o elo entre o que a empresa faz e como isso se traduz financeiramente. Quando o contador assume essa postura de parceiro estratégico, ele deixa de ser apenas um apoio operacional e passa a ser reconhecido como um agente de transformação e sustentabilidade do negócio, contribuindo para o crescimento sustentável e para a governança corporativa.
Contab – Hoje, o profissional precisa ir além do domínio técnico?
Raquel – Sem dúvida. O domínio técnico segue sendo essencial, mas não é mais suficiente. Com as transformações tecnológicas, o novo ambiente de negócios e, especialmente agora, com os impactos que a Reforma Tributária trará, o profissional de contabilidade e controladoria precisará ampliar sua atuação. A reforma trará desafios de interpretação, integração de sistemas e mensuração de impactos financeiros que exigirão visão crítica, capacidade analítica e interlocução entre áreas. O contador precisará antecipar implicações estratégicas, ser capaz de interpretar a regulação e traduzi-la em direcionamentos práticos que apoiem as decisões corporativas.
Contab – Esse novo contexto demanda um perfil capaz de traduzir complexidade em clareza?
Raquel – Sim. O contador e o controller devem ser profissionais de interface, capazes de unir conhecimento técnico com visão estratégica e habilidade de comunicação, atuando não apenas como guardiões da conformidade, mas como consultores internos que orientam decisões e fortalecem a governança empresarial. É esse equilíbrio entre técnica, análise e visão que sustentará a relevância do profissional no futuro.
Contab – E em relação às ferramentas tecnológicas, o que mais se destaca?
Raquel – Além dos Enterprise Resource Planning (ERPs) — que em português se traduz por Planejamento de Recursos Empresariais, ou ainda como Planejamento Integrado de Recursos —, que já são ferramentas essenciais nas empresas e apresentam cada vez mais funcionalidades, como as soluções em nuvem, destacam-se também as plataformas de Business Intelligence e Data Analytics, que permitem transformar dados brutos em análises visuais e insights gerenciais. O uso dessas tecnologias amplia a capacidade de prever cenários, monitorar indicadores e apoiar a tomada de decisão em tempo real.
Contab – Há também as automações inteligentes?
Raquel – Sim. O Robotic Process Automation (RPA) reúne automações inteligentes que têm sido amplamente utilizadas para eliminar atividades manuais e repetitivas, ampliando a eficiência. E agora, com a evolução da Inteligência Artificial (IA) generativa e preditiva, abre-se uma nova fronteira para modelagem de cenários, projeções, simulações e suporte a decisões futuras. O contador precisa compreender essas ferramentas e utilizá-las como aliadas em seu trabalho.
Contab – A visão de negócios é uma habilidade que pode ser aprendida?
Raquel – Claro. A visão de negócios pode e deve ser desenvolvida. Envolve compreender como as áreas se conectam e como decisões financeiras impactam resultados. Isso requer curiosidade, observação ativa e presença. O profissional precisa sair de trás das planilhas e vivenciar o negócio para construir essa visão. É esse mergulho na realidade empresarial que permitirá ao contador atuar de forma estratégica, ética e relevante para as organizações. 

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