Contar com uma comunicação corporativa assertiva e integrada ao cliente é o maior desafio e desejo das empresas. Em pesquisa recente, a Harvard Business Review mostrou que 73% dos consumidores usam múltiplos canais de comunicação para comprar algo ou contratar um serviço. Meios de comunicação, como ligação, E-mail, SMS e WhatsApp, são os mais utilizados no Brasil.
Foi pensando nesse desafio de integração, comunicação e tecnologia que Deivis Tavares e Fabiane Criscuoli criaram a plataforma iSend - principal produto da empresa do casal, a Intelly. Com quase 20 anos de atuação no mercado brasileiro, a empresa criadora do iSend se destaca no desenvolvimento de soluções para comunicação automatizada entre marcas e consumidores.
O sistema, que começou com envio de e-mails e SMS, hoje integra também o WhatsApp e está presente em cerca de 500 empresas do País, como Melnick, Fiesp, times de futebol e sindicatos. Com crescimento acelerado — cerca de 40% de aumento já nos primeiros meses de 2025 —, a empresa inicia agora um novo capítulo com o projeto de internacionalização, que tem como porta de entrada a Espanha.
Em entrevista ao Empresas & Negócios dessa semana, Deivis Tavares, um dos sócios da empresa, falou sobre os planos de expansão, os desafios do empreendedorismo e como uma decisão familiar ajudou a acelerar a chegada da marca ao mercado europeu.
Empresas & Negócios - O que é o iSend?
Deivis Tavares - O iSend é uma plataforma multicanal, que integra diversos canais de comunicação: e-mail, WhatsApp, SMS, voz e publicação digital. A base do produto é a segmentação: o cliente define para quem vai mandar o conteúdo. Pode segmentar por torcida de time de futebol, por exemplo, só sócios adimplentes ou de camarote recebem determinada informação. A ferramenta permite importar contatos, integrar dados e enriquecer a base com informações como sexo, cargo, cidade, etc. Com isso, o cliente consegue criar grupos personalizados, como, por exemplo, enviar algo só para mulheres no Outubro Rosa. A ideia é transformar a base de dados num mini Business Intelligence (BI).
E&N - Que produtos e serviços vocês oferecem e para que eles servem?
Tavares - Temos três produtos: iSend Express, iSend e iSend Pro. O Express é voltado para quem quer só e-mail, ainda não está pronto para outros canais. O iSend inclui e-mail, SMS, voz e uma revista digital com propaganda nossa. O Pro tem todos os canais, sem propaganda e com automação multicanal (ex: e-mail seguido de SMS ou ligação). Cada produto atende um nível de maturidade. Clubes de futebol usam bastante o iSend — Inter, Caxias, Brasil de Pelotas, Grêmio e Juventude. O principal uso é para fins de relacionamento do cliente com seu público. Alguns clientes usam também para vendas, acompanhando toda a jornada. A Melnick, que é nossa cliente, tem entre 15 e 18 empreendimentos em andamento. Ao comprar um imóvel, o cliente recebe e-mails e WhatsApp com informações da obra, conforme os estágios de construção.
E&N - Como a empresa garante a segurança dos dados da pessoa que está na lista de comunicação? Como funciona para chegar nessa lista?
Tavares - Existem dois fatores: nós, como iSend, somos processadores de dados, e os clientes - como, por exemplo, Inter e Grêmio - são os controladores. A responsabilidade de obter o consentimento é do controlador. Ele pode solicitar isso na compra do ingresso, na matrícula ou com um checkbox autorizando comunicações futuras.
O iSend tem ferramentas para isso. Por exemplo, é possível enviar um e-mail com um botão de consentimento. Quando a pessoa clica, o sistema registra a ação: quem deu o consentimento, quando e para qual fim. Assim, se alguém quiser saber como seus dados estão sendo usados, pode consultar o iSend, e fornecemos as informações ao DPO (da sigla em inglês, "Encarregado de Proteção de Dados") da empresa.
Também oferecemos opção de descadastramento nos e-mails. Essa informação fica registrada e pode ser acessada pelo cliente, via sistema ou API (da sigla em inglês, "Interface de Programação de Aplicação"). A Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) não exige que 100% da base tenha consentimento imediato, mas que o processo esteja em andamento.
E&N - Como que a empresa se adaptou à LGPD?
Tavares - Quando a LGPD surgiu, preparamos toda a empresa. Procuramos consultores, fizemos parcerias, formamos DPO, reestruturamos os serviços. Depois, implementamos ferramentas no iSend para ajudar nossos clientes com a LGPD, como obter consentimento, por exemplo.
Deivis Tavares e Fabiane Criscuoli criaram a plataforma iSend
BRENO BAUER/JC
E&N - Quais os desafios de trabalhar com comunicação e tecnologia no Brasil?
Tavares - Tem muita oportunidade. Mais de 50% das empresas no Brasil têm problemas de comunicação, tanto interna quanto externa. Com tantos canais, ficou mais desafiador. As empresas ainda estão aprendendo a lidar com o público multicanal — e muitas comunicam no canal que elas preferem, e não no que o público prefere. Nosso desafio também são os concorrentes, principalmente os estrangeiros. O maior problema é que muitas empresas preferem comprar de fora, mesmo tendo alternativas nacionais muito boas ou até melhores. Acho que isso acontece por um pensamento de que o que é de fora é melhor. Eu defendo um olhar mais atento ao que temos aqui — apoiar o produto local, se ele atende, deveria ser a prioridade.
E&N - Hoje, o maior problema para o consumidor é o excesso de tentativas de contato. Toda hora ele é bombardeado com e-mails, SMS e telefonemas. Muitas vezes essas notificações configuram uma tentativa de golpe. Como o iSend garante confiabilidade ao contratante?
Tavares - A tecnologia sempre estará disponível, o uso depende da cultura. A má utilização já aconteceu com o e-mail, redes sociais e agora com o SMS, WhatsApp e ligações. Isso desgasta os canais. Por isso, escolhemos com quem trabalhar. Não atendemos bets, tabaco, entre outros — é uma decisão ética. Nossos clientes fazem comunicações direcionadas, como clubes ou instituições. Também investimos muito em educação: palestras, orientação sobre como comunicar, quando e onde. O poder da comunicação tem que estar com o público, não com a empresa. O iSend oferece formas de bloqueio: SMS, e-mail, WhatsApp e voz — o usuário decide. Se marcar que não quer mais receber, o cliente não consegue alterar isso no sistema. Só retirando a base e importando de novo, o que tem riscos. A gente dá o poder ao destinatário, com responsabilidade.
E&N - Vocês planejam uma internacionalização. Como está o andamento desse processo?
Tavares - Tem dois pontos aí. Um é a história da empresa. Quando criamos a iSend, uns três anos após fundar a Intelly, em 2004, o nome já refletia o sonho de internacionalizar o produto. A outra parte é pessoal. Nossa filha Amanda, de 18 anos, se formou no ensino médio e é atleta da seleção brasileira de escalada esportiva. Desde pequena ela escala — a Fabi e eu também praticamos há mais de 20 anos. A escalada virou esporte olímpico recentemente e exige uma estrutura cara, que o Brasil ainda não tem plenamente. Então decidimos que ela vai treinar fora do Brasil. E aí juntamos isso com o plano antigo da empresa: internacionalizar o iSend. Aproveitamos a oportunidade e a fase de vida. Surgiu também um edital de internacionalização da Fundação de Amparo à pesquisa do Estado do RS (Fapergs), no qual fomos selecionados entre 300 empresas — 40 foram aprovadas. Começamos esse projeto no início desse ano.
E&N - E onde que vocês atuarão?
Tavares - Esse projeto tem duas frentes: adicionar tecnologia, como IA e novos canais, e internacionalizar. Nosso primeiro foco é a Espanha. Depois, se tudo correr bem, vamos para México e América do Sul. Escolhemos a Espanha, e não Portugal, justamente por ser mais desafiador — Portugal seria mais fácil, mas talvez limitador. Na Espanha, precisamos pensar como vender, como oferecer suporte, como nos diferenciar. Queremos que o atendimento seja humano, em espanhol, diferente do suporte automatizado dos concorrentes americanos, por exemplo. Fomos para Barcelona no início do ano e visitamos o consulado, a Câmara Brasil-Catalunha e entendemos como funciona o ecossistema local. Estamos traduzindo o sistema e o site, e, em dois ou três meses, pretendemos começar a vender. Depois disso, voltamos para lá, abrimos a empresa e adaptamos o sistema de faturamento, que é diferente do brasileiro — lá é por fatura, não por boleto.
E&N - E os resultados da empresa? Como estão?
Tavares - Hoje temos entre 400 e 500 clientes no Brasil e cerca de 20 colaboradores. Esse número varia porque contratamos freelancers conforme a demanda — agora, por exemplo, estamos contratando para vendas e suporte, inclusive alguém bilíngue para atender a Espanha. Também queremos reforçar a área de desenvolvimento. Sobre faturamento, não divulgamos valores, mas tivemos um crescimento de 30% do ano retrasado para o passado, muito puxado pelo canal de WhatsApp. Neste ano, já estamos perto de 40%. A projeção é fechar o ano com 70% de crescimento, pois o número de clientes novos vem crescendo todo mês. A empresa sempre foi bootstrap — sem investimento externo. Mas estamos nos preparando para isso, com cursos e consultorias, e pensando se vale buscar capital para acelerar ainda mais o crescimento.