Porto Alegre,

Anuncie no JC
Assine agora

Publicada em 24 de Maio de 2025 às 16:00

Churrascaria mais antiga do Brasil, Santo Antônio celebra 90 anos

Empresário se diz orgulhoso por ver os filhos levarem a tradição adiante

Empresário se diz orgulhoso por ver os filhos levarem a tradição adiante

Churrascaria Santo Antônio/Divulgação/JC
Compartilhe:
Cristine Pires
Cristine Pires Editora-assistente de Economia
Reconhecida como a primeira churrascaria do Brasil, a Santo Antônio completa em 2025 nove décadas de uma trajetória marcada por tradição, sabor e capacidade de reinvenção. Fundado em 1935 pelo casal de imigrantes italianos Antonio e Conchetta Aita, o restaurante começou como uma modesta venda de marmitas no bairro Floresta, em Porto Alegre, e atravessou o tempo transformando-se em um verdadeiro ícone da gastronomia gaúcha — e nacional. Da cantina italiana original ao espeto corrido que consagrou a casa, a história do Santo Antônio se entrelaça com a própria evolução do churrasco no Brasil.
Reconhecida como a primeira churrascaria do Brasil, a Santo Antônio completa em 2025 nove décadas de uma trajetória marcada por tradição, sabor e capacidade de reinvenção. Fundado em 1935 pelo casal de imigrantes italianos Antonio e Conchetta Aita, o restaurante começou como uma modesta venda de marmitas no bairro Floresta, em Porto Alegre, e atravessou o tempo transformando-se em um verdadeiro ícone da gastronomia gaúcha — e nacional. Da cantina italiana original ao espeto corrido que consagrou a casa, a história do Santo Antônio se entrelaça com a própria evolução do churrasco no Brasil.
Hoje, quem comanda o restaurante é Jorge Aita, 65 anos, neto dos fundadores e representante da terceira geração da família. O caçula de uma família "buona gente" até poderia ter seguido à risca a tradição da culinária italiana, mas foi o churrasco que conquistou seu destino. Aita começou como garçom ainda adolescente e, aos 17 anos, já era gerente da casa. A virada veio quando o assador da época foi demitido por ele próprio, e seu pai o designou para assumir a grelha em um evento para 80 pessoas. Era uma mesa longa e exigente, com espeto corrido e todos os desafios que só o fogo pode impor — e ele não largou mais o assador.
"Meu trabalho como assador se define pela calma e o respeito pelo fogo, pois é ele que faz o assado", resume Aita. Exigente com cada etapa da preparação, ele acompanha de perto todo o processo: da escolha dos frigoríficos ao ponto da carne no prato. "Costumo visitar os frigoríficos, ver os processos desde a compra do animal até a desossa, verificando onde o animal pastava e quanto de ração foi usado. As carnes para o Santo Antônio eu compro direto com o fornecedor", explica.
Nos eventos fora do restaurante, o planejamento segue o briefing do cliente, mas com a mesma atenção aos detalhes. "O desafio está com a entrega ao cliente: existe hora, ponto e tempero. Por isso, sempre trabalho em equipe, que varia de tamanho conforme a demanda", acrescenta.
Além da paixão pelo fogo, Aita carrega também o orgulho de ver a tradição seguir adiante. "Ver meus dois filhos estrearem no assado no primeiro churrasco, com um naco de entrecot nos olhos estalados, e não largando de jeito nenhum, gratifica", relembra, emocionado.
Para celebrar os 90 anos do restaurante, a família prepara uma grande festa no dia 26 de maio, além do lançamento de uma linha de pratos congelados, uma coleção de souvenirs e um livro comemorativo que trará relatos emocionantes, histórias curiosas e os bastidores de momentos marcantes, como a pandemia e as enchentes que atingiram Porto Alegre. Nesta entrevista, Jorge Aita fala sobre a trajetória do restaurante Santo Antônio, os segredos por trás de um bom churrasco e os planos da família para o futuro do primeiro — e ainda lendário — templo da carne no Brasil.
Empresas & Negócios - Qual foi o desempenho do restaurante em termos de faturamento em 2024? A expectativa é de crescimento em 2025, ano em que a casa celebra nove décadas?
Jorge Aita - Após a pandemia, nosso restaurante vem apresentando um crescimento muito satisfatório. De 2022 para 2023, registramos um aumento de 20% no faturamento, e de 2023 para 2024, esse crescimento chegou a 35%. Para 2025, ano em que celebramos os 90 anos da casa, nossa expectativa é de um aumento de faturamento em torno de 8%, seguindo o desempenho já observado no primeiro trimestre.
E&N - Em suas redes sociais, a empresa destaca o fato de ser a primeira churrascaria do Brasil. Como se diferenciar no mercado tendo apenas um restaurante em um mercado concorrido com a presença de grandes players?
Aita - Nosso foco está em três pilares: Time: Investimos em qualificação e treinamento, reforçando o senso de pertencimento da equipe e a valorização das nossas raízes; Insumos: Trabalhamos com produtos de altíssima qualidade. Mantemos uma relação direta com frigoríficos e produtores, deixando claro o nosso padrão de excelência: queremos sempre oferecer o melhor para nossos clientes; Inovação com tradição: Para um restaurante chegar aos 90 anos na mesma família, é essencial estar em constante renovação. Nosso cliente percebe que o valor investido aqui retorna em experiências cada vez mais completas, surpreendentes e inovadoras.
E&N - Existe algum plano de expansão. já que o restaurante anunciou também o desenvolvimento de uma operação mais compacta para shoppings e centros comerciais. Qual é o investimento previsto para essa nova frente e quando ela deve ser lançada?
Aita - Durante a Expointer de 2024 — evento do qual participamos desde 1992, junto ao Cavalo Crioulo — realizamos o piloto do Santo Antônio Express. A iniciativa foi um sucesso, e estamos ajustando o modelo para dar sequência a esse projeto. Estimamos um investimento mínimo de R$ 500 mil por unidade.
E&N - Uma das novidades deste ano é o ingresso da Santo Antônio no mercado de congelados. Qual é a expectativa com o lançamento da linha de pratos congelados?
Aita - Essa ideia surgiu durante a pandemia: levar o sabor do nosso Parmegiana — que ainda é feito com o molho criado pela minha avó Concheta, fundadora do restaurante — para as prateleiras dos supermercados. Hoje, os pratos congelados já estão à venda no restaurante e também pelo nosso site, com ótima aceitação.
E&N - Como foi definido o portfólio inicial de pratos congelados? Houve testes com clientes ou pesquisas de mercado para entender a demanda?
Aita - Contamos com o apoio de redes de supermercados, da empresa Delight (especializada em congelados) e de outros parceiros na análise de mercado. A escolha do Parmegiana como primeiro prato veio naturalmente, por ser um dos mais queridos pelos nossos clientes e ter um forte valor afetivo para nossa família.
E&N - Quais canais de venda estão sendo considerados para os pratos congelados? A ideia é chegar às grandes redes de varejo ou apostar em vendas diretas e plataformas online?
Aita - Nosso objetivo, inicialmente, é consolidar o produto com vendas no restaurante e em nosso site. A partir daí, queremos expandir para mercados de condomínio e, futuramente, alcançar as grandes redes varejistas.
E&N - Há planos para exportar os pratos congelados ou produtos do restaurante, especialmente diante do reconhecimento nacional da marca? Já houve interesse de mercados internacionais?
Aita - Ainda não temos planos concretos para exportação, mas temos consciência do potencial da marca.
E&N - Quais desafios e aprendizados das crises recentes, como a pandemia e as enchentes, impulsionaram as decisões estratégicas que a empresa está tomando?
Aita - A Santo Antônio já atravessou momentos históricos desafiadores: a Segunda Guerra Mundial, a enchente de 1941, diferentes governos e moedas, o confisco da poupança, a pandemia e, mais recentemente, as enchentes. Somos uma família resiliente. Sempre nos adaptamos às circunstâncias. Para 2025, preparamos estratégias sólidas tanto financeiras quanto comerciais, com base em tudo o que aprendemos. A linha de souvenirs representa uma forma de explorar o valor da marca.
E&N - Qual a expectativa de receita com esses produtos e como será feita a distribuição?
Aita - Mais do que uma nova fonte de receita, a linha de souvenirs busca fortalecer ainda mais o vínculo emocional com nossos clientes. Queremos levar um pedacinho do Santo Antônio para dentro da casa das pessoas. Os produtos serão distribuídos diretamente no restaurante. A gestão do negócio está nas mãos da terceira e quarta gerações da família Aita.
E&N - Como essa transição tem impactado as estratégias de expansão, inovação e modernização da marca?
Aita - A Santo Antônio chegou a ter um braço voltado a eventos, o Jorge Aita Gastronomia, muito bem posicionado no mercado. Antes da chegada da quarta geração, inclusive, cheguei a colocar os terrenos do restaurante à venda. Com a entrada do Rafael e do Fabrício e a chegada da pandemia, decidimos encerrar a operação de eventos e focar exclusivamente no restaurante. Retiramos os terrenos da venda e nos dedicamos de corpo e alma à churrascaria — e o resultado é esse crescimento que tanto nos orgulha.
 

Notícias relacionadas