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02/05/2019 - 14h25min.
Alterada em 01/01 �s 03h30min
Disciplina extracurricular ensina a estudantes o valor do dinheiro
Severo (em p�) confere como os alunos planejaram f�rias com limite de dinheiro para gastar
CLAITON DORNELLES /JC
Qual é o melhor jeito de começar a aprender sobre o valor do dinheiro? Uma escola de Porto Alegre atendeu aos pedidos dos próprios alunos e criou uma disciplina extracurricular sobre educação financeira. E o resultado já está aparecendo.
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Qual é o melhor jeito de começar a aprender sobre o valor do dinheiro? Uma escola de Porto Alegre atendeu aos pedidos dos próprios alunos e criou uma disciplina extracurricular sobre educação financeira. E o resultado já está aparecendo.
De quanto custam todos os meses para os pais à taxa que se paga de anuidade do cartão de crédito, os estudantes de Ensino Médio do Colégio Marista Ipanema, na zona sul da Capital gaúcha, descobriram que nada é de graça. Aliás, a primeira lição que receberam na sala de aula do educador financeiro Adriano Severo foi fazer a conta das despesas que cada um gera à família.
"A minha mãe somou os gastos com viagem, comida, transporte, etc e deu uns R$ 4 mil por mês comigo", contabilizou Giulia Rillo Rocha. "É bastante", concluiu, fazendo uma autoavaliação e admitindo que "gastava com coisas desnecessárias, comprando roupa que não preciso ou produto mais caro no súper".
"Parei para pensar e dá para pagar muita coisa com esse dinheiro. Falei com ela (minha mãe) e vamos dar uma 'ajeitada'. Vou economizar porque quero fazer intercâmbio fora do País e investir no meu inglês. Tudo isso custa dinheiro, né", concluiu a jovem.
#finVÍDEO: As primeiras lições sobre finanças os alunos não vão esquecer
O conteúdo de seis encontros teve muitos exemplos práticos, como o exercício de quanto cada um deles custa à família. Severo aposta que é o melhor jeito de aprender finanças pessoais para quem está na faixa dos 14 aos 17 anos.
As atividades também incluíram levantar objetos que não eles não usam mais e que podem ser vendidos gerando um dinheiro extra, até como montar viagens de férias de 30 dias para quatro pessoas, com destinos no Brasil e no exterior, com limite de gasto de R$ 40 mil.
"É tanto dinheiro que não sabemos bem o que fazer, por onde começar", admite Gabriel de Borges Sattler, sobre o desafio de fazer caber os desejos das férias no limite do orçamento dado pelo professor. "O segredo é fazer os roteiros e montar as opções de lazer com o dinheiro que se tem", orientou o educador. "Tem de caber no orçamento", resume Severo, citando uma regra de ouro do planejamento das finanças pessoais.
Isabela Maria Martins Brum diz que foi o exercício de que mais gostou. "Descobri que a gente gasta muita coisa no impulso e também que, dependendo da data em que se comprar a passagem aérea, a diferença pode ser de até R$ 2 mil!", cita Isabela.
Além disso, Gabriel também já decidiu vender o violão que não toca mais. O colega Arthur Pinto Lages reuniu uma bicicleta e um mouse de computador para o mos fim. Os dois vão fazer um 'dinheirinho'. "Não sabia muito bem como fazer isso, aí surgiu essa aula na escola e agarrei a chance para aprender", valoriza Arthur.
"Tem de aprender a priorizar", completa Lucas Rodrigues Madeira, que abriu o jogo durante a reportagem do #fin - Finanças e Investimentos. "Torrava toda a mesada de R$ 350,00 que recebia. Agora quero guardar um pouco. Ah, e quero trabalhar com investimentos na bolsa de valores no futuro. Meu avô já faz isso", completa.
A capacidade da turma de rapidamente assimilar as estratégias surpreendeu Severo, que vê na geração dos millenials, que identifica o comportamento da faixa etária dos alunos da turma, novas formas de encarar a relação com o dinheiro. O acesso à internet é uma das influências, acredita.
Do investimento com mais retorno �s fintechs
Alunos aprendem as�melhores alternativas para aplicar o dinheiro da mesada CLAITON DORNELLES /JC
Entre os alunos, rolaram até provocações num bom tom diante de opções por investimentos que não seriam os mais rentáveis. "Tenho cartão mesada, mas já pedi à minha mãe para mudar para um cartão poupança, para render, pois quase não gasto o dinheiro", conta Tiago Calmeiéri do Nascimento Machado.
"Não vai render nada", cutucou Fernando Martinelli Grauer, lembrando que a poupança é uma das modalidades com menor retorno. "Sim, pode ser pouco, lembro que o professor falou sobre isso, mas pelo menos o dinheiro vai render alguma coisa em vez de ficar parado", reagiu Tiago instantaneamente. O grupo na mesa da sala de aula e até Fernando tiveram deconcordar com a lógica do dono do cartão mesada.
"Eu não sabia que existia a taxa de anuidade do cartão. Nem meu pai sabia! Tive de explicar tudo para ele, que falou com o banco e pediu para baixar ou até acabar com a cobrança", conta Lucas. Sobre a taxa, Fernando diz que a saída é negociar mesmo. "Ou mudar de banco", sugeriu Pedro Henrique Dobner Stocker.
"Dá para ter cartão Inter... Ou do Nubank, que não têm taxa nenhuma", listou Lucas Leite, indicando a afinidade da geração com os produtos das chamadas fintechs, empresas de tecnologia do setor financeiro que não têm taxas ou serviços cobrados pelos bancos tradicionais.
Pedro é bem prático. Pediu de presente de aniversário apenas dinheiro e juntou R$ 850,00, valor que vai guardar e agora "estuda o melhor método para investir". "É muito melhor pedir dinheiro de presente", motiva Pedro. "Estou vendo o que rende mais e é mais seguro", explica.
"Não quero ser rico, nem milionário. Só quero ter uma vida estável, boa e tranquila. Ah, e morar na Austrália", planeja sobre o seu futuro.
Educa��o financeira na sala de aula vai chegar aos pais
Degrandis diz que educa��o financeira ficou em segundo lugar na prefer�ncia dos alunos CLAITON DORNELLES /JC
Por que o Colégio Marista Ipanema ofertou a disciplina? A ideia de promover os conteúdos, além do que é dado no turno normal de aulas, surgiu após uma consulta à comunidade escolar em 2018.
O vice-diretor educacional, Fernando Degrandis, conta que a filosofia da escola já é de aportar uma formação que prepare o aluno para a vida profissional e para seus desafios após o Ensino Médio. A oferta extracurricular veio na carona, para reforçar a preparação dos adolescentes e jovens.
"Perguntamos se eles gostariam de ter as atividades, e 80% deles disseram que sim, e educação financeira foi a segunda mais votada, primeiro foi culinária", detalha Degrandis. Outra atividade extracurricular que também foi indicada é de maquiagem, que começa em breve.
"Não queremos que eles sejam economistas, mas que percebam quetodos os dias estão investindo, gastando o dinheiro", reforça o vice-diretor educacional. Mas tem quem como Marco Antônio Variani que está pensando em cursar exatamente afaculdade de Economia e "fazer investimentos" em diversas áreas".
O curso, comseis encontros que começaram emmarço, custou R$ 130,00 por aluno. A adesão era voluntária, e Severo garante que boa parte dos 17 matriculados compareceu a todos os encontros. Cada rodada trazia uma abordagem diferente, contemplando desde noções gerais sobre orçamento doméstico, o uso inteligente do dinheiro, como gastar a renda dos pais de forma sustentável e ainda opções de investimentos.
"É importante que eles entendam o uso do dinheiro. Com os conhecimentos em educação financeira, eles vão se preparar bem para o mundo adulto. Esse tipo de conteúdo não tem no currículo da educação brasileira, a gente preenche uma lacuna", reforça o professor.
Outra surpresa que veio na carona da disciplina dada por Severo é que os pais ficaram interessados em fazer o curso. Parte do interesse foi despertado pelo fluxo sala de aula-casa-sala de aula dos filhos. O educador financeiro colocou em pauta atividades bem práticas, e os alunos tiveram de interagir com a família, para levantar informações e até medir o conhecimento dentro de casa sobre os itens vistos no colégio.
Diante da vontade dos pais, o colégio poderá ofertar as modalidades extracurriculares a toda a família em 2020. "Estamos incubando a ideia, e educação financeira é uma das mais solicitadas", adianta o vice-diretor.
O exemplo do Col�gio Marista Ipanema
O que: disciplina extracurricular de Educação Financeira.
Como surgiu a ideia: alunos apontaram em pesquisa feita pela escola que queriam aulas sobre educação financeira.
Como foi montado o curso: um professor de educação financeira foi contratado e ajudou a montar a sequência de conteúdos, mesclando noções iniciais sobre finanças pessoais e muitas atividades práticas para assimilar o conhecimento.
O programa da disciplina:
Conceitos básicos de finanças pessoais
Conceitos básicos de economia
Gestão do dinheiro
Administração da mesada
Consumo consciente
Economia doméstica
Formas de poupar
Uso inteligente dos recursos
Bons hábitos financeiros
Número de encontros: seis encontros de tarde (uma por semana), com duração de duas horas.