Porto Alegre, segunda-feira, 04 de junho de 2018.

Jornal do Com�rcio

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reciclagem

Not�cia da edi��o impressa de 05/06/2018. Alterada em 04/06 �s 19h40min

O desafio de transformar res�duos em fertilizantes

Lilly destaca import�ncia de empresas adotarem sistemas de produ��o mais sustent�veis

Lilly destaca import�ncia de empresas adotarem sistemas de produ��o mais sustent�veis


MARCO QUINTANA/JC
Pioneiro da ecologia no Brasil, José Lutzenberger foi responsável por uma revolução no tratamento de resíduos da indústria de celulose, alvo de protestos dele por anos. Ao contrário do que ocorre na maior parte das fábricas do mundo, que depositam seus resíduos orgânicos em aterros, a Celulose Riograndense, localizada em Guaíba, os transforma em húmus, um substrato agrícola utilizado em hortas, culturas de hidroponia e pomares. Tudo isso graças à empresa Vida Desenvolvimento Ecológico, fundada pelo próprio Lutzenberger como uma solução para o problema ambiental. A parceria entre as empresas já dura 30 anos.
A luta do ambientalista contra a poluição do ar e das águas do Guaíba por causa da produção de celulose nos anos 1970 pela então Borregaard ficou marcada na história e serviu como embrião para formular a Vida, que se dedica a minimizar os impactos ambientais da fabricação de produtos corriqueiros ao uso doméstico, como o papel.
"A Vida foi fundada em 1979, quase 10 anos antes da parceria com a Riocell (hoje Celulose Riograndense), em 1988. Até então, a empresa tratava cascas de acácias descartadas pela indústria de tanino. Nos anos 1980, o pai (José Lutzenberger) foi convidado pela então indústria de celulose, que sucedeu a também por ele combatida Borregaard, a contribuir com soluções para minimizar o seu impacto ambiental", conta a filha mais nova do ambientalista, Lara Lutzenberger, sócia-proprietária da empresa Vida.
O primeiro passo foi construir um parque ambiental na área de entorno da indústria, aterrada por decorrência da implantação de um sistema de tratamento de efluentes. Depois, o ecologista passou a estudar alternativas para destinar adequadamente o lodo que esse sistema gerava, além dos demais resíduos como cavacos, cinzas minerais e o próprio lixo dos escritórios.
"Ele chegou à conclusão de que esses resíduos poderiam ser transformados em excelentes insumos agrícolas, devolvendo ao solo o que se retirava dele e evitando a perda de quantidades imensas de matéria-prima em intermináveis aterros sanitários, fechando um ciclo ecológico de produção", afirma Lilly Lutzenberger, a primogênita do ambientalista e também sócia-proprietária da empresa.
Em 2003, foi inaugurado o primeiro horto de reciclagem da indústria, e a parceria foi crescendo ao longo dos anos. Atualmente, a Vida recicla praticamente 100% de todos os resíduos da Celulose Riograndense, uma das indústrias de celulose mais limpas e ecológicas do mundo. A reciclagem evita o aterro de 600 mil t/ano de resíduos sólidos gerados pela fábrica, que estariam inutilizando áreas importantes na região.
"Essa parceria causou espanto no início, inclusive entre os ambientalistas, porque a mesma pessoa que havia combatido a indústria pela poluição que gerava agora se dispunha a trabalhar com ela. Mas o pai tinha uma visão muito lúcida e pró-ativa, que lhe permitia compreender que apenas com combate pouco se avança. É preciso contribuir na busca de soluções quando se identificam problemas. Ele inovou e segue sendo uma excelente referência de atitude construtiva", afirma Lara.
Hoje, os produtos obtidos do reaproveitamento de resíduos fabris fornecem insumos para a agricultura e para indústrias de 190 municípios, além de fertilizantes orgânicos e corretivos de solos para mais de mil clientes, entre eles agricultores, paisagistas, supermercados e agropecuárias. A produção de fertilizantes orgânicos ainda diminui consideravelmente a pressão por "terra preta" ou "terra de mato", extraída de ecossistemas naturais, o que contribui com a preservação ambiental. O tratamento e a reciclagem de resíduos também geram benefícios sociais e econômicos, por meio de 180 empregos diretos.
"O principal desafio é fazer com que, cada vez mais, os sistemas de produção modernos, não só a indústria da celulose, adotem este tipo de gestão. O mundo precisa se tornar menos poluidor e desperdiçador com a mais extrema urgência. O planeta inteiro está se afogando em lixo, resíduos, venenos tóxicos, devastação e doenças. Precisamos reverter essa tragédia enquanto ainda é tempo, tornando nossos sistemas de produção mais sustentáveis e ecológicos. Já existem muitas tecnologias para tal, mas ainda há muitíssimo por fazer", completa Lilly.
 
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