Assinatura

Considerada uma das mais importantes obras de arte do século XX, Fonte, de Duchamp, completa um centenário em 2017. Simples urinol de porcelana adquirido em uma loja do ramo, o trabalho representou um avanço nas experiências do artista francês no campo da readymade, vertente ligada à base da arte contemporânea.

Para celebrar o marco, o Museu de Arte do Rio Grande do Sul (Praça da Alfândega, s/nº) apresenta a exposição A fonte de Duchamp: 100 anos da arte contemporânea. O material reúne trabalhos do próprio acervo do museu que tenham relação com as ideias duchampianas. A abertura para convidados acontece amanhã, às 19h. A partir de quarta-feira, a mostra pode ser visitada das 10h às 19h - até o dia 23 de abril. A exceção é nos domingos - quando o espaço não funciona.

A seleção contempla trabalhos de 51 artistas e cerca de 100 obras no total. A curadoria tem assinatura de José Francisco Alves - historiador que foi o primeiro curador-chefe do museu, entre 2011 e 2013. Em comum à pesquisa do homenageado, constam nas peças selecionadas o caráter objetual, a apropriação de materiais e elementos preexistentes, e a elaboração mental e não manual dos objetos - além do humor e da provocação.

A lista de participantes inclui nomes como Gaudêncio Fidelis, Mário Rohneldt, Saint Clair Cemin e Teresa Poester. Outros artistas em evidência são Daniel Escobar, Dione Veiga Vieira, Rochele Zandavalli e Rommulo Vieira Conceição. A partir deste recorte, o Margs destaca a arte produzida no presente - em diálogo com as realidades do Estado e do País.

Já o centenário de Fonte vem sendo celebrado em instituições de todo o mundo, mesmo que a obra original nunca tenha sido exibida. Enviada por Duchamp - sob pseudônimo - para uma exposição da Sociedade de Artistas Independentes de Nova Iorque, ela foi recusada. E desapareceu, embora alguns museus e coleções contem com fontes refeitas pelo artista nas décadas de 1950 e 1960.

Com o trabalho, o objetivo do francês era sacudir as vanguardas. Ao colocar a peça no mundo da arte simplesmente a assinando e destacando em uma exposição, o pintor e escultor buscava questionar quem decide o que é arte.

Na realização readymade (objeto pronto), o artista escolhia peças industrializadas de acordo com critérios próprios. Extraídas do seu contexto funcional, elas eram consideradas obras conforme apenas a intenção do idealizador. Ao explorar essa possibilidade, o polêmico realizador também se aventurou em iniciativas semelhantes - como as intervenções nas reproduções da Mona Lisa.

Com o tempo, a técnica alcançou maior importância - nos anos 1950, com a Pop art, e, nas décadas seguintes, com o Minimalismo e a Arte Conceitual. Nos últimos 60 anos, muitos aspectos construtivos da arte estão ligados às ideias introduzidas por Duchamp - como a apropriação de elementos desenvolvidos originalmente para outros fins ou o uso de técnicas industriais.