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Publicada em 12 de Dezembro de 2024 às 17:47

Gov Expo Summit aborda estratégias de prevenção a desastres climáticos

Painel focou em ações para tornar os municípios mais resilientes

Painel focou em ações para tornar os municípios mais resilientes

Marcos Nagelstein/Agência Preview/Divulgação/JC
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Ana Carolina Stobbe
Ana Carolina Stobbe Repórter
O Rio Grande do Sul vivenciou a pior catástrofe climática de sua história em maio deste ano. Ao todo, foram afetadas por enchentes, direta ou indiretamente, 478 das 497 cidades do Estado. As perspectivas para o futuro, no entanto, são pessimistas, com a expectativa de que eventos climáticos extremos ocorram com cada vez mais frequência devido aos problemas ambientais. Assim, os novos gestores municipais, eleitos em outubro, terão o desafio de tornar suas cidades resilientes.
O Rio Grande do Sul vivenciou a pior catástrofe climática de sua história em maio deste ano. Ao todo, foram afetadas por enchentes, direta ou indiretamente, 478 das 497 cidades do Estado. As perspectivas para o futuro, no entanto, são pessimistas, com a expectativa de que eventos climáticos extremos ocorram com cada vez mais frequência devido aos problemas ambientais. Assim, os novos gestores municipais, eleitos em outubro, terão o desafio de tornar suas cidades resilientes.
Foi sob esse viés, que o Gov Expo Summit realizou nesta quinta-feira (12) o painel “Antecipação e preparação para eventos extremos – monitoramento do clima e dos rios”. Ao longo das exposições, especialistas em climatologia e meteorologia abordaram as perspectivas ambientais futuras, analisaram índices históricos e orientaram os gestores sobre a elaboração de planejamentos para a mitigação dos riscos.
O painel foi mediado pelo ex-diretor adjunto do Departamento Municipal de Águas e Esgotos (Dmae) e especialista em drenagem Leomar Teichmann. Em sua fala inicial, ele apresentou conceitos iniciais sobre os estudos climáticos e explicou as consequências do fenômeno conhecido como El Niño e que amplia o volume de chuvas da região Centro-Sul do Brasil em decorrência de um aquecimento nas águas do Oceano Pacífico. Esse aumento pluviométrico pode ser discreto ou extremo. No caso do ocorrido em maio, que teve como consequência as enchentes no RS, Teichmann afirmou que o fenômeno tem sido denominado como “super El Niño”.

Eventos climáticos extremos se tornarão mais frequentes

“A gente viu que não há mais área de risco, a gente passou por uma situação em que 90% dos municípios gaúchos foram afetados por enchentes. Tinham áreas que nunca tinha acontecido e em 2023 e 2024, foram atingidas. Temos que ter um pensamento preventivo e parar de pensar que nunca vai acontecer”, explicou em seguida a meteorologista da MetSul Estael Elisabete Kems Sias ao iniciar sua explanação.
Sua fala foi focada nas transformações climáticas que vêm sendo observadas em todo o globo terrestre. Na região Sul do Brasil, um dos exemplos apresentados por ela foi o aumento na frequência de ciclones, que não eram um fenômeno comum até 2004, mas passaram a se intensificar após a passagem do mais destruidor deles: o Catarina, que devastou o estado de Santa Catarina e a região Norte do Rio Grande do Sul. Para além dele, outros eventos climáticos extremos devem se tornar mais frequentes de acordo com a especialista.
O aquecimento global deve ser um fator impulsionador dos desastres. Estael relembrou que a projeção mais pessimista era de que em 2024 a Terra estivesse 1,5ºC acima da média histórica, mas que ela já foi superada e se encontra na casa de 1,6ºC. A nova projeção é de que possa chegar até a 2ºC. “Temos que parar de discutir se existem ou não mudanças climáticas e passarmos a enfrentar isso”, concluiu a meteorologista.
Analisando séries históricas, ela demonstrou que o El Niño de 2024 não foi o mais intenso dos vivenciados pelo Estado: em 1998 e em 2015, o fenômeno foi mais grave. No entanto, não houve nesses casos alagamentos e consequências mais drásticas. Isso, porque aliado ao El Niño, todos os demais oceanos também estavam mais quentes que o habitual, algo inédito de acordo com Estael. Assim, o evento se potencializou e se concentrou na região impactada.
Nesse cenário, a meteorologista chama atenção para a importância dos avisos preventivos. “Antes, quando emitíamos algum alerta, as pessoas nos acusavam de estarmos sendo alarmistas. Hoje, após tudo que aconteceu, elas entendem a importância disso e nos agradecem”, pontuou.

Prevenção: o melhor caminho

Entre 1995 e 2019, os prejuízos causados por eventos climáticos no Brasil somaram R$ 333,36 bilhões. A média seria de cerca de R$ 1 bilhão por mês. Os exorbitantes valores pontuaram a fala do segundo convidado, o professor do curso de Engenharia Civil da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) Jaime Federici Gomes. Com os índices, seu objetivo era claro: demonstrar que a prevenção e o planejamento de riscos é muito menos custoso do que a atuação governamental para o reparo dos danos causados por desastres naturais.
A partir disso, ele orientou os gestores sobre a necessidade de implementar estratégias de gestão de riscos de maneira integrada, entre governo, ONG's, entidades privadas e outros setores da sociedade. “Eles precisam não só cobrar, mas também implementar essas ações de maneira conjunta”, explica.
Para a elaboração desse planejamento, focando especificamente nas enchentes, o engenheiro sugere que os estudos levem em consideração uma análise de dados. A partir deles, sendo possível estimar potenciais de alagamento e referenciais levando em consideração os índices de vazão históricos dos cursos d’água. Com esses números em mãos, poderão ser, então, formulados planos de ações, contingência e monitoramento, que busquem segurança e resiliência nas localidades afetadas. “É importante analisar cada caso”, complementa Gomes.
As estratégias de resiliência climática são diversas. Do ponto de vista do monitoramento e da previsão, ele sugere o desenvolvimento de sistemas de alerta precoce, o monitoramento contínuo e o planejamento urbano sustentável, que inclui uma infraestrutura verde e um zoneamento adequado. Essas soluções podem auxiliar a sanar alguns desafios contemporâneos.
Uma das discussões mais realizadas após a catástrofe de maio diz respeito ao desassoreamento e a dragagem de rios que tiveram acúmulos de sedimentos causados pelas enchentes. Apesar da medida precisar ser realizada em alguns casos, ela não pode ser aplicada em todos os locais. Aliás, Gomes afirma não ser possível dragar tudo que se acumulou nos cursos d’água: “não há uma margem consolidada nesses rios e a mata ciliar está prejudicada. Além disso, esses dejetos precisariam ser levados para outros locais e licenciar isso é outro problema”.
Ainda há muito a ser feito: existem dificuldades no monitoramento atualizado e em tempo real, os planos diretores de drenagem urbana e de saneamento básico não possuem fiscalização efetiva, os sistemas de proteção contra cheias não passam por manutenções necessárias, há moradias em áreas de várzeas ribeirinhas sem proteção para eventos climáticos e até mesmo a Defesa Civil carece de qualificação, treinamento e implementação de recursos humanos. Nessas áreas, Gomes sugere uma atuação e uma atenção especial por parte dos gestores.

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