No começo de maio, o Conselho Diretor do Fundo da Marinha Mercante (FMM), do Ministério de Portos e Aeroportos, aprovou a liberação de financiamento de até R$ 533 milhões para um projeto de modernização do Terminal de Contêineres de Rio Grande (Tecon Rio Grande). A iniciativa está entre os maiores investimentos futuros na estrutura portuária, no entanto, a Wilson Sons, que opera o Tecon, ainda não detalha como será e o cronograma do projeto. Há pelo menos 10 anos - no auge da indústria naval - o Rio Grande do Sul não era beneficiado com recursos do Fundo.
Com movimentação recorde no primeiro trimestre do ano, o Porto de Rio Grande registrou 9,8 milhões de toneladas circulando, com alta de 15,5% em relação ao mesmo período de 2024. Deste volume, em torno de 2,2 milhões de toneladas foram em movimentações de contêineres, representando em torno de 23% do total.
Desde o último ano, a Wilson Sons já investe R$ 9 milhões em novas tecnologias para operação de navios em Rio Grande, envolvendo inteligência artificial e ratificando a posição deste terminal como o mais automatizado do Brasil. "O porto é uma plataforma logística completa. Por isso, a diversificação de cargas é essencial. Neste aspecto, os investimentos nos terminais têm papel fundamental", aponta o diretor-presidente da Portos RS, Cristiano Klinger.
Já estão em obras, por exemplo, as estruturas do terminal marítimo Termasa, operado pela CCGL no Porto de Rio Grande, e que foi danificado durante as cheias de maio do ano passado, com outro aporte de R$ 550 milhões. A requalificação do terminal deve durar dois anos.
O objetivo da CCGL, além de recuperar a estrutura danificada, é ampliar a sua capacidade de escoamento da produção. Em maio do ano passado, com o aumento da força da correnteza durante as cheias, um navio atracado chocou-se contra o cais, afetando a estrutura e interrompendo os serviços. Agora, é preciso reconstruir a estrutura, incluindo plataformas e mecanismos de amarração.
Entre os novos investimentos nos terminais está o leilão, previsto para o segundo semestre deste ano, para construção e operação do novo terminal de celulose, que é parte fundamental no Projeto Natureza, da CMPC. A própria multinacional já manifestou interesse em participar de uma concorrência. O investimento previsto para criar o novo terminal é de R$ 800 milhões, com previsão de uso entre 2028 e 2029. E a vantagem não se dará apenas para a operação de celulose.
No modelo de leilão, estará incluída uma medida compensatória em que a empresa operadora se comprometerá a aprofundar o canal do cais público dos atuais 9,45 metros para 12,8 m, que deve garantir um investimento de até R$ 170 milhões para beneficiar toda a operação no porto. Os planos futuros para os terminais em Rio Grande ainda incluem uma licitação prevista para acontecer até 2026, criando um novo píer para operações químicas.
Investimentos em dragagem e recuperação dos canais com Funrigs
Passado um ano da maior cheia da história do Rio Grande do Sul, os levantamentos do governo estadual mostram que 44,6% das áreas atingidas pela enxurrada foram entre as regiões Sul, Centro-Sul, Campanha e Fronteira Oeste.
O impacto direto às pessoas chegou a menos de 10% da população das regiões. E se, em outros pontos do Estado os prejuízos logísticos em rodovias são prioritários, por aqui, está na água uma das principais consequências à economia deste recorte do Estado.
E é por isso que, com um pacote de investimentos que chega a R$ 690 milhões do Fundo do Plano Rio Grande (Funrigs), a recuperação dos canais hidroviários da Lagoa dos Patos e dos portos de Pelotas e Rio Grande tornou-se prioridade na retomada econômica da região e também vislumbrando o potencial futuro das rotas hidroviárias gaúchas.
"Começamos este trabalho, que no primeiro momento é de recuperação das condições anteriores à cheia, pelos canais de navegação, como acontece com a Lagoa dos Patos. São, ao todo, 13 canais que terão a batimetria atualizada e a dragagem. Em cinco, já estamos atuando neste ano. Também devemos lançar o edital para a dragagem no canal de acesso ao Porto de Rio Grande, com início das obras no segundo semestre. O maior volume de recursos e de obras de dragagem devem acontecer em 2026", diz o diretor-presidente da Portos RS, Cristiano Klinger.
Segundo ele, em torno de R$ 60 milhões serão desembolsados até o final deste ano, com a maior parte dos desembolsos no próximo ano. A retomada das condições de navegação anteriores à cheia representa um calado de 5,18 metros no canal da Lagoa dos Patos e de 15 m em Rio Grande. Entre navios e barcaças, hoje são mais de 3 mil embarcações por mês nesta rota hidroviária - 1,8 mil somente em Rio Grande. E mesmo que os atuais investimentos não prevejam uma ampliação do canal ou, como acontece em rodovias, uma duplicação, são as ações desenvolvidas em paralelo com as obras de dragagem que apontam para a ampliação do fluxo e aumento da capacidade logística pelas águas no Rio Grande do Sul.
Um trabalho conjunto entre a Portos RS e a Marinha desenvolve a sinalização náutica da hidrovia para que seja possível retirar a restrição de navegação noturna na Lagoa dos Patos. Hoje, um transporte entre Rio Grande e Porto Alegre, por exemplo, tem o seu tempo ampliado em até oito horas por essa impossibilidade de navegação à noite.
Os efeitos da enchente e a recuperação
Foram 16,3 mil quilômetros quadrados atingidos pela cheia de 2024 entre as Regiões Sul, Centro-Sul, Campanha e Fronteira Oeste, ou 44,6% da área inundada
Foram 970,7 mil pessoas diretamente atingidas, ou 17,5% do total no Estado
Foram 108,2 mil CNPJs atingidos, ou 14,15% do total do Estado
Do total de áreas inundadas, 14,2 mil quilômetros quadrados foram em áreas rurais
Foram 9,8 mil produtores rurais diretamente atingidos, ou 5,7% do Estado
Entre as quatro regiões, o Sul teve a maior área atingida, com 3,4 mil quilômetros quadrados, ou 10% do território da região.Foi também a região com o maior número de pessoas atingidas, com 16,6% da sua população, 17,3% dos CNPJs e 10,2% das áreas rurais
O território menos atingido foi na Campanha (395 quilômetros quadrados, todos rurais)
Enquanto em Rio Grande, 42,3%, e ,em Arambaré, 41% dos CNPJs foram atingidos, na Campanha, foi somente 1 CNPJ em Dom Pedrito
FONTE: GOVERNO DO ESTADO
Aporte pelo Funrigs
Recuperação de hidrovias (inclui hidrovias na Região Metropolitana): R$ 690 milhões
Batimetria (inclui hidrovias na Região Metropolitana de Porto Alegre): R$ 47,3 milhões
Base de Aviação Naval em Rio Grande: R$ 1,3 milhão
Reforma e adequação estrutural da Promotoria de São José do Norte: R$ 690 mil
FONTE: PLANO RIO GRANDE
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